terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Obituário: Ahmed Khalil Al-Jaabari, herói do Hamás


26/11/2012, Khaled Amayreh, Al-Qassam, Ezzedin Al-Qassam Brigades
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Khaled Amayreh
Ahmed Khalil Al-Jaabari foi Comandante-Geral, de-facto, do braço da Resistência do Hamás, as Brigadas Ezzeddin Al-Qassam. O exército israelense de ocupação e a agência Shin Bet da segurança israelense há muito tempo tentavam assassiná-lo. Para a entidade sionista, qualquer homem ou mulher que se oponha à ocupação militar da Palestina, seja a oposição passiva ou ativa, é terrorista e tem de ser liquidado. 

Em 2004, o exército de Israel já tentara assassinar Al-Jaabari, por seu papel na Resistência. Naquele ano, o filho mais velho, Mohamed, um irmão e três primos do comandante Al-Jaabari foram brutalmente assassinados em ataque israelense à casa da família.

Em inúmeros casos, Israel liquida toda a família próxima dos ativistas da Resistência, mesmo que os familiares pouco saibam das atividades da Resistência e não possam ser acusadas de absolutamente qualquer pressuposto crime.

Exemplo dessa atividade dos israelenses, que usam o assassinato como modus operandi, foi o assassinato de Nezar Rayan, ativista do Hamás, assassinado com toda a família, em casa, no ataque israelense à Faixa de Gaza em 2008-09; na mesma ação, Israel assassinou 1.400 pessoas e feriu vários milhares, a maioria dos quais civis.

Ahmed Khalil Al-Jaabari
Al-Jaabari, nascido em Hebron, teve papel destacado na tomada da Faixa de Gaza pelo Hamás, no verão de 2007. Os que trabalharam com ele falam “excepcional capacidade organizacional, meticuloso nas precauções de segurança e homem abnegado”. Como comandante do braço armado do Hamás, Al-Jaabari soube desenvolver essas competências, qualitativamente e quantitativamente.

Além do papel destacado que lhe coube na Resistência contra a ocupação israelense, Al-Jaabari também desempenhou papel importante junto aos altos escalões políticos do Hamás. É hoje amplamente reconhecido como exemplo de uma nova geração de líderes islâmicos surgidos depois que Israel assassinou líderes icônicos no campo político e da Resistência, como Sheikh Ahmed Yassin, Abdel-Aziz Rantisi, Ibrahim Makadma e Yehia Ayash.

Abu Mohamed (seu nome de guerra) começou seu ativismo político e de resistência filiado ao Fatah, principal grupo da Organização para Libertação da Palestina (OLP) comandado pelo falecido líder palestino, Yasser Arafat. Foi preso em 1982 e passou 13 anos em cárceres de Israel.

Depois de libertado, Al-Jaabari uniu-se ao Hamás, porque o Fatah já lhe parecia partido secular demais e excessivamente conivente com a ocupação (foi libertado depois de assinados os Acordos de Oslo). Em 2009, disse que “a Palestina só pode ser libertada por muçulmanos sinceros. A questão palestina é, sobretudo, questão islâmica. Só a Jihad universal contra o estado criminoso de Israel conseguirá libertar a Palestina das garras dos invasores”. Referia-se a Israel também como “fenômeno transitório, uma tentativa, condenado a se extinguir mais cedo ou mais tarde. Temos portanto de ver Israel como Salaheddin Al-Ayoubi (Saladino, grande comandante curdo muçulmano) viu os Cruzados”.

Veículo bombardeado onde estava Al-Jaabari
Em 1998, Al-Jaabari foi novamente preso e torturado pelo aparato de Segurança Preventiva de Arafat, sob a suspeita de que teria coordenado o ataque a um ônibus que transportava colonos judeus. Foi libertado um ano mais tarde. Há quem diga que os maus tratos e a tortura a que foi submetido o levaram a decidir engajar-se definitivamente no trabalho de preparar o Hamás para tomar a Faixa de Gaza e expulsar do enclave as  milícias da OLP.

Em 2002, substituiu Mohamed Dheif como comandante efetivo das Brigadas Ezzeddin Al-Qassam, do Hamás. Dheif sofrera um atentado, perpetrado pelo exército israelense, do qual resultara gravemente ferido. Segundo outros comandantes do Hamás, foi graças ao trabalho de Al-Jaabari que o braço armado da Resistência do Hamás foi convertido em força mais disciplinada, mais bem treinada e mais poderosa.

O CASO SHALIT: Al-Jaabari será lembrado, especialmente, pelo papel chave que desempenhou na coordenação da captura e nas negociações para a troca de um soldado israelense, Gilad Shalit, que foi capturado por combatentes da Resistência palestina em 2006 numa emboscada na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel. Na mesma ação, morreram dois outros soldados israelenses.

A partir daquele momento, Israel mobilizou todas as capacidades de seus serviços de inteligência para localizar e resgatar Shalit, sem sucesso. Al-Jaabari é considerado o principal agente responsável pelo trabalho de abortar todos os esforços dos israelenses; pouquíssimas pessoas algum dia estiveram próximas de Shalit, durante o tempo em que permaneceu sob a guarda do Hamás. Há quem diga que o massacre que Israel promoveu em Gaza, em 2008, visava também a encontrar e resgatar o soldado prisioneiro do Hamás – e resultou em mais um fracasso dos israelenses.

Al-Jaabari tomou todas as providências para que Shalit fosse bem tratado, embora, simultaneamente, Israel tenha várias vezes assassinar o próprio Al-Jaabari e sua família. No ataque de Israel contra Gaza, em 2008-09, a casa da família Al-Jaabari foi destruída por um míssil israelense.

Em 2011, depois de acertada uma troca de prisioneiros com Israel, Al-Jaabari acompanhou pessoalmente Shalit até a passagem de Rafah, fronteira com o Egito – e foi uma das raras vezes em que foi visto em público. Sempre foi extremamente cauteloso com sua segurança pessoal. Não se mostrava em público e jamais usou telefones celulares.

Apesar disso, afinal, a segurança interna de Israel, Shin Bet, acabou por identificar um dos carros que Al-Jaabari usava, graças a um informante local, que foi identificado e executado.

Al-Jaabari sendo atendido logo após o atentado faz sinal de vitória.
Al-Jaabari foi assassinado dia 14/11/2012, num carro, na rua Omar Al-Mokhtar, uma das principais da cidade de Gaza. Várias vezes dissera que seu maior desejo era morrer como mártir e como tal ser recebido no reino de Deus. O Corão ensina que quem caia em luta contra a opressão e a injustiça não morre e ganha a vida eterna.

Não pense nos caídos na estrada até Alá, como mortos. Não estão mortos. Eles vivem com seu Deus e para sempre estão e estarão protegidos. Rejubilam-se nas bênçãos que Alá, o Misericordioso, derrama sobre eles, em nome dos que ainda não se reuniram a Ele [ainda não foram martirizados], para que não sofram nenhum medo nem nenhuma dor. (S.3-v 169-170).

Ahmed Al-Jaabari foi sepultado dia 15/11/2012, em funeral acompanhado por milhares de pessoas. Seu corpo repousa no Cemitério Sheikh Radwan, onde estão enterrados tantos mártires palestinos.

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