19/12/2012, Paul Graig
Roberts, Institute for Political
Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paul Craig Roberts |
Sei,
há muito tempo, que todo o noticiário nos EUA segue uma agenda. Pois hoje
descobri que a mesma agenda que comanda o noticiário nos EUA, comanda também o
noticiário no resto do mundo.
Por
razões que minha razão não alcança, a rede Russia Today Moscou
solicitou-me uma entrevista ao vivo, via Skype, sobre o tiroteio em Newtown,
Connecticut , numa escola, em que morreram 20 crianças pequenas
e vários adultos. Fiquei interessado em saber o que interessaria a Moscou,
naquele caso, e concordei em dar a entrevista.
Para
minha grande surpresa, o único interesse da rede russa era repetir a história
oficial dos EUA sobre os tiros e perguntar a minha opinião sobre se “armas de
assalto” deveriam ser proibidas depois do “evento” em Newtown.
Inúmeros
objetos podem ser definidos como armas de assalto. Um taco de beisebol, uma
faca, um punho, um rifle .22 de um tiro, uma arma de cano duplo, um atiçador de
lareira, um revólver de seis balas, um tijolo, uma espada, arco e flecha, lança.
E a lista pode aumentar à vontade.
AR-15, versão civil da M-16 militar (vários modelos) |
Os
que defendem o controle de armas definiram “arma de assalto” como qualquer
versão civil de armas semiautomáticas de uso militar, como a AR-15, versão civil
da M-16 militar, e a AK-47. Durante o governo Clinton, não se permitia que a
versão civil dessas armas apresentasse várias características inofensivas,
apenas porque aquelas características davam aos rifles aparência de arma
militar; e as armas não podiam ter carregadores para mais de dez tiros.
Ak-47, vários modelos |
Hoje,
se compram carregadores de 20 e 30 tiros. Para um profissional, o número de
balas no carregador é irrelevante. Com experiência, carregar armas é trabalho de
um segundo. Aperta-se um botão, o carregador salta, insere-se um novo. Por
razões que ninguém entende, os que advogam a favor do controle de armas pensam
que carregador para dez tiros converteria a tal “arma de assalto” em alguma
outra coisa.
Disse
à rede Russia Today de Moscou que os EUA são o mais completo estado
policial que jamais houve na história da humanidade. Graças à tecnologia,
Washington consegue espionar quem queira espionar, muito mais e melhor que
Joseph Stalin e Adolf Hitler. Até a imaginação de George Orwell, no romance
1984, já foi ultrapassada pelo que Washington faz hoje. A “guerra ao
terror” é o pretexto para que continue a existir o Estado Policial Americano
(EPA).
“Mas
que sentido teria um estado policial”, perguntei eu, “se a população estiver
armada?”. Depois de já terem sido rasgadas todas as emendas constitucionais, a
última que resta, a Segunda Emenda [“Sendo necessária à segurança de um Estado
livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e
usar armas não poderá ser impedido.”] não sobreviverá por muito tempo.
Adam Lanza e Sandy Hook School |
Mas
por que a rede Russia Today Moscou tanto se preocupa com “armas de
assalto”? O acusado, Adam Lanza, foi sumariamente declarado culpado. Segundo a
Associated Press, o médico da polícia
de Newtown, Connecticut, Dr H. Wayne Carver, disse que “todas as
vítimas foram mortas à queima-roupa, por vários tiros de
rifle”.
Mas a rede Fox News, em “20
children, suspect's mother dead in CT elementary school
shooting”,
diz que “repórter da CNN informa que a polícia recuperou três armas na cena do
crime: uma Glock e uma Sig-Sauer, que são pistolas, além de um rifle .223 Bushmaster. O rifle estava no banco
traseiro do carro que o atirador dirigiu até a escola. As pistolas estavam
dentro da escola”.
A
mesma Fox News diz: “Medidas de segurança implementadas esse ano na escola Sandy
Hook incluíam manter as portas trancadas durante as horas de aula. E era preciso
tocar a campainha para entrar no prédio. Havia uma câmera que mostrava quem
entrasse no prédio”. Se essa notícia está correta, como Lanza entrou, armado?
Tentei
explicar à rede Russia Today Moscou que essas notícias indicavam que o
atirador acusado, já morto, e que não poderá ser interrogado, se, digamos que
seja, foi o responsável, ele matou as crianças com pistolas, não com algum
“rifle de assalto” deixado no carro, embora o médico tenha falado de tiros de
rifle.
Nada
faz sentido. Ou as notícias estão erradas, ou o médico está errado, ou as
criança não foram assassinadas por Adam Lanza.
Foi
demais, para a entrevistadora da rede Russia Today Moscou. Ela cortou-me
a palavra, dizendo que fato era que as crianças estão mortas. Interrompeu-me,
isso sim, porque o foco da entrevista eram os “rifles de assalto”. Minha
suspeita confirmou-se em seguida, quando me pediram para continuar conectado,
para uma pergunta pós-entrevista.
A
pergunta que Russia Today Moscou tinha a fazer era se eu achava que armas
de assalto seriam banidas. Respondi que, em minha opinião, todas as armas devem
ser banidas, inclusive as do Pentágono. Já havia dito também, durante a
entrevista, que penso que todas as armas devem ser tiradas das mãos de cidadãos
norte-americanos, mas que não acredito na eficácia de nenhuma lei, para essa
finalidade. Contei a ela que, no início do século 20, os EUA, com sua infinita
sabedoria, criaram leis que proibiam completamente bebidas alcoólicas. E havia
bebida por todos os cantos. A “Lei Seca” foi o berço (e a fortuna) dos
sindicatos do crime.
Hoje
as drogas são ilegais e já há décadas. E há drogas por toda parte; e os
sindicatos da droga ganham bilhões. Proibir armas terá idêntico destino. Há lei
que proíbe porte de armas na Inglaterra, e todos os criminosos andam armados.
Hoje, até a polícia britânica, que tradicionalmente era desarmada, já está
pesadamente armada. Quando vivi na Inglaterra, as armas não eram proibidas, e a
política tinha cassetetes, não armas de fogo.
Mas
o foco nas “armas de assalto” é intrigante também por outra razão. Segundo os
noticiários, Lanza sofreria de desordem de personalidade, ou de desordem mental,
ou, talvez, fosse apenas diferente. Seja como for, tomava remédios. Quero dizer:
a culpa é da arma, ou do remédio? Mas, como a agenda, hoje, é banir armas... a
culpa é da arma.
No
tiroteio anterior, no cinema, no Colorado, cada testemunha viu uma coisa, todas
as coisas diferentes do relato oficial; segundo os noticiários, o suspeito
estaria envolvido numa espécie de experimento do governo sobre controle da
mente. Depois do tiroteio, ele foi encontrado sentado num carro, no
estacionamento do cinema.
O tiroteio na escola de
Connecticut também tem aspectos estranhos. Em depoimento à polícia, no local, um
professor diz que viu “duas sombras correndo por trás do ginásio” (Ver em: “UPDATE:
Was the Sandy Hook Massacre A False Flag Operation? Early Eyewitness Reports
From Newton, CT Suggest So”).
O relatório da polícia também fala
de dois homens numa van que foram
parados e detidos; e vários noticiários disseram que a polícia prendeu um homem
no bosque próximo. O homem diz: “Não fui eu”. Mas como um homem, no bosque
poderia saber que alguém fizera alguma coisa? No bosque, não há televisores; mas
o homem negou que tivesse matado crianças. Muito estranho.
O que sempre acontece é vários
relatos errados, que começam no primeiro momento, como, no caso de Connecticut,
a notícia de que a mãe de Lanza era professora na escola, que foi morta na
escola, Lanza também matou o pai, que o irmão de Lanza poderia estar envolvido.
As discrepâncias da história oficial misturam-se com as falsas notícias, e
vice-versa, e é impossível saber o que realmente aconteceu. As pessoas aceitam a
versão oficial, porque não há outra.
Tudo isso considerado, mesmo
assim, é quase inacreditável que a Russia Today Moscou siga, sem qualquer
crítica, o que diz a imprensa nos EUA, e ponha-se a repetir a história oficial,
mesmo tendo a dura experiência de ver como a mídia ns EUA distorceu,
deliberadamente, todas as notícias da guerra Georgia-Rússia, guerra que foi
iniciada pela ex-república soviética da Georgia, mas a imprensa norte-americana
noticiou que a culpa foi da Rússia.
Será que Russia Today
Moscou realmente acredita no que lê na imprensa dos EUA? Que os mísseis das
bases dos EUA que cercam a Rússia fazem mira contra o Irã?
Os americanos vivem bem armados há
vários séculos. Mas a “violência das armas” é novidade. Por quê?
Haverá hoje mais gente mentalmente
perturbada? Mais gente que toma remédios? Os norte-americanos teríamos perdido
completamente o autocontrole? Nossa consciência moral? Os norte-americanos
estaremos sendo adestrados por filmes violentos, videogames violentos e onze
anos de massacre ininterrupto – o governo dos EUA massacrando povos pelo mundo?
Os norte-americanos perderam completamente a capacidade de solidariedade, de
amor ao próximo?
Tom McNamara, conferencista da
Academia Militar Nacional da França, lembra:
Tom McNamara |
Mas a miséria e o tormento que desabaram
sobre Newtown têm de ser multiplicados por mil, para que se saiba o que acontece
no mundo árabe. As políticas e as ações dos EUA resultam ali na morte de
milhares, se não de centenas de milhares de inocentes. A morte de cada uma
daquelas crianças é crime de guerra e é crime contra a humanidade, dos mais
evidentes. São crimes que nos chocam e nos ofendem. Que nos obrigam a exigir
imediata mudança na política exterior dos EUA. Mas, para que isso aconteça,
temos, antes, de aprender que os árabes também choram seus filhos mortos. Isso,
os EUA ainda não sabemos. (18/12/2012,
Counterpunch, Tom McNamara em: “The
Obama Hypocrisy: Do Arabs Cry For Their Children
Too?”)
O tiroteio na escola em
Connecticut é tragédia em vários sentidos.
Crianças mortas, famílias que perdem os filhos, e essas
tragédias estão sendo usadas para desarmar os norte-americanos. É como nos
entregar, rendidos e desarmados, à fúria de um estado policial que só cresce em
força e no alcance da ameaça.
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