Publicado
em 18/12/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
É
muito justo destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação,
como anunciou o governo através do Ministro Aloizio Mercadante, confirmado pela
Presidenta Dilma Rousseff.
A
área de saúde poderia também ser contemplada, mas até agora nada foi dito nesse
sentido.
Merece
aplausos o anúncio de Mercadante, mas antes é preciso conhecer o modelo de
educação que o governo federal quer para o país. Se for o esquema do Banco
Mundial, que a secretária de Educação do município do Rio, Claudia Costin,
implanta por aqui, os 100% serão destinados para um esquema de
mercado.
Vale
lembrar que o Ministro da Educação recentemente tinha jogado um balão de ensaio
convidando a secretária Costin para o cargo de Secretária de Educação Básica da
Pasta. Professores de todo o Brasil se mobilizaram com abaixo assinado de
repúdio. A nomeação não saiu, mas só o fato de anunciar o convite à secretária
municipal do Rio, a mesma que serviu ao governo Fernando Henrique Cardoso como
Ministra da Administração, é sintomático.
Costin
adora falar em resultados, da mesma forma que os defensores da diminuição do
Estado e do modelo de gestão colocado em prática por
FHC.
É
necessário aprofundar a questão para que os brasileiros não se deixem levar por
projetos que no fundo não servem ao país, como o modelo educacional propugnado
pelo Banco Mundial, voltado para o mercado e com índices de produtividade
semelhantes ao de uma empresa privada. Como se a educação fosse um
negócio.
Como
existe um sindicalismo de resultados e que apoiou políticas econômicas
neoliberais, é necessário estar atento, porque o Banco Mundial propugna uma
pedagogia também de resultados. Aí cabe a pergunta: que resultados e para
quem?
Por
estas e muitas outras, antes de destinar os 100% das verbas do petróleo do pré
sal para a educação, é necessário questionar o modelo que está sendo implantado
não só no Rio, como em São Paulo, onde o PSDB tem o controle do Estado desde a
década de 80, e em outros municípios.
Os
brasileiros não podem aceitar um esquema educacional que tenha por objetivo
apenas preparar mão de obra para as empresas. Educação em países como o Brasil e
demais na América Latina tem de estar voltada para a cidadania, ou seja, a
formação de cidadãos críticos.
É
tudo que o esquema neoliberal abomina e por isso só aceita educar para
satisfazer o mercado. E também é necessário que o projeto de educação para a
formação de cidadãos esteja inserido em um projeto de nação. Até porque educação
e soberania estão interligados. É tudo o que o esquema neoliberal defendido com
unhas e dentes pelo PSDB abomina.
Não
é à toa que na edição de domingo de O Globo, economistas defensores do esquema
neoliberal de FHC, um deles Armínio Fraga, defenderam com unhas e dentes o
modelo do PSDB e de quebra alertaram para a importância da educação. Eles querem
que a educação se destine à formação de mão de obra, de preferência barata, para
empresas, jamais uma educação voltada para a cidadania.
No
mais, a Prefeitura de Petrópolis neste final de 2012 anunciou a desapropriação
da “casa da morte”, no bairro de Caxambu, onde as autoridades que mandavam no
país na época da ditadura matavam opositores do regime e alguns deles, conforme
denúncias do ex-policial Cláudio Guerra, acabaram no forno de uma usina de
açúcar no município de Campos.
O
local deverá ser transformado em um museu da memória, para que as novas gerações
sejam informadas sobre os acontecimentos em um período da história brasileira
que pouco a pouco está sendo conhecida.
E
no Rio, o governador Sérgio Cabral quer transformar o antigo prédio do DOPS, na
rua da Relação, um local de bares e lojas comerciais, junto com um Museu da
Polícia.
Se
a ideia vingar, o povo brasileiro perderá a referência de um local histórico que
deveria ter como destino final a criação de um museu para preservação da
memória. Na prática, Cabral quer mesmo apagar um período da história brasileira,
tenebroso, diga-se de passagem, mas que não se pode esquecer, para que não se
repita.
Que
o Brasil tenha um feliz 2013, mas com atenção, porque o conservadorismo, mesmo
que disfarçado, e que não tem voto tentará de todas as formas se fazer presente.
E a história brasileira mostra que quando isso acontece, todo cuidado é
pouco.
____________________________
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil
do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de
São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da
Redação
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