Publicado
em 11/12/2012 por Mário Augusto Jakobskind*
Deputado Romário |
Fez
bem o deputado Romário ao propor a abertura de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito para investigar a Confederação Brasileira de Futebol. Romário é do
ramo, ou seja, conhece muito bem os bastidores da entidade, agora presidida por
José Maria Marin, que sucedeu nada mais nada menos que Ricardo Teixeira.
Convenhamos, depois de Teixeira vir Marin é dose cavalar para o esporte mais
popular do país. E Teixeira, queimado depois de mais de 20 anos de gestão,
indicou Marin.
Teixeira
é acusado de várias falcatruas. Numa CPI terá todo o direito de defesa. Já o seu
substituto também não pode ser considerado exemplo para o esporte ou para o
País, muito pelo contrário. Aliás, o Brasil é useiro e vezeiro de passar por
cima de sua memória histórica, como se fatos do passado não
interessassem.
Juca Kfouri |
Agora,
graças ao jornalista Juca Kfouri foi lembrado em seu blog quem é Marin, como
ingressou na política e o seu comportamento (sórdido) durante a ditadura civil
militar que assolou o país durante 21 anos a partir de abril de
1964.
Pois
bem, José Maria Marin ingressou na política antes de 64 elegendo-se vereador por
São Paulo nas fileiras do integralismo, que tinha o nome de Partido de
Representação Popular (PRP), capitaneado pelo fascista tupiniquim Plínio
Salgado.
Depois
do golpe de 64, Marin conseguiu se eleger deputado estadual paulista na legenda
do partido da ditadura, a Arena, que por sinal está sendo revivida no século XXI
, justamente contando com a falta de memória dos
brasileiros.
O
atual presidente da CBF bateu o recorde em matéria de meu passado me condena,
como lembrou Kfouri. No triste momento do assassinato do jornalista Vladimir
Herzog nas dependências do DOI-CODI, Marin teve participação vestindo a camisa
da linha dura. Está nos anais da Assembleia Legislativa de São Paulo o discurso
que fez poucos dias antes do assassinato do jornalista. Em tom extremista,
fazendo eco com a linha dura do regime ditatorial, Marin, em setembro de 1975,
pedia maior rigor no combate aos “comunistas da TV Cultura”, e o “retorno da
tranquilidade aos lares de São Paulo”. Em seguida, Herzog foi intimado a
comparecer na boca do lobo e teve o fim que sabemos.
Dinarte Mariz |
Marin
discursou no mesmo tom do então líder do governo Geisel, Dinarte Mariz, pouco
tempo depois, ao pedir maior rigor contra a imprensa brasileira, que, segundo o
parlamentar, estava “infiltrada de subversivos”. Mariz, que pelo nome não se
perca, praticamente deu o sinal verde para outro episódio lamentável na
história do país, o atentado a bomba contra a sede da ABI (Associação Brasileira
de Imprensa), em agosto de 1976, episódio que está sendo investigado pela
Comissão da Verdade.
Mas
quem pensa que o apoiador da ditadura José Maria Marin ficou só nisso em matéria
de extremismo, engana-se. É de autoria do atual presidente da CBF discurso
elogiando a atuação de Sérgio Paranhos Fleury, o hediondo delegado do DEOPS
paulista, responsável pela tortura e morte de centenas de opositores da
ditadura.
Sempre
vinculado ao que havia de pior no mundo político brasileira. Marin foi vice de
Paulo Maluf e acabou governando São Paulo por um tempo, sendo posteriormente
substituído por governadores eleitos.
Na
verdade, uma figura como Marin jamais poderia ter sido galgado à presidência da
CBF, porque tal fato depõe contra a imagem do Brasil. Esporte é vida e
confraternização. Marin não é nada disso, muito pelo
contrário.
Juca
Kfouri, com todo o seu prestígio jornalístico e que prestou um serviço de
utilidade pública lembrando quem é Marin, poderia liderar campanha no sentido de
destituir do cargo o atual presidente da CBF. Um presidente da CBF ganha
prestígio, ocupa grandes espaços midiáticos, tem poder até para destituir ou
convocar técnicos sem consultar quem quer que seja.
Como
estamos numa democracia, o poder de pressão da sociedade tem peso. Por tudo que
foi revelado por Juca Kfouri. José Maria Marin jamais poderia estar ocupando o
cargo que ocupa.
É
o caso de perguntar ao competente deputado Romário, do Partido Socialista, como
ele se posiciona nesta matéria de tanto interesse dos brasileiros que vão se
ligar na Copa das Confederações neste junho de 2013 e na Copa do Mundo de
2014.
Luíza Erundina |
Já
em Brasília, por iniciativa de Deputada Luiza Erundina, a Câmara dos Deputados
prestou importante homenagem devolvendo simbolicamente o mandato de 173
parlamentares cassados pelos governos de fato que ocuparam o país depois de
abril de 64. Destes, apenas 29 estão vivos.
A
Justiça foi feita. Espera-se que o Parlamento siga adiante em suas iniciativas
que ajudam a passar o país a limpo. Por que não a Deputada Erundina ou algum
outro parlamentar apresentar projeto impedindo que nome de ditadores de plantão
continuem servindo para denominar ruas ou avenidas deste país. E que seja
recomendado ao Ministério da Educação que nos livros didáticos os ditadores do
período sejam tratados não como presidentes da história do Brasil, mas como
ditadores que foram. Fica a sugestão.
Ah,
sim, depois da Câmara dos Deputados, seria importante o Senado fazer o mesmo.
Com a palavra José Sarney.
Mário
Augusto Jakobskind*
é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE.
Enviado
por Direto
da Redação
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