Não é só no Brasil: nos EUA a imprensa-empresa também agoniza (e já vai tarde!)
7/12/2012, Peter Hart, FAIR – Fairness & Accuracy In Reporting [com intervenções]
Traduzido
pelo pessoal da
Vila Vudu
Entreouvido
na Vila Vudu: O PROBLEMA DA
IMPRENSA-EMPRESA udenista e golpista no Brasil – sempre, com certeza desde 1950
– nunca apareceu entre os problemas que os governos populares e democráticos
teriam de enfrentar aqui. Nunca. Em 2006, o ministro José Dirceu já
sabia (e acerta) TUDO o que seria feito (e foi e continua a ser feito) nos seis
anos seguintes, nos governos Lula-Dilma do Brasil, até hoje, com o grande
sucesso que, hoje, já todo o mundo reconhece e aplaude:
“Nosso
programa para o segundo mandato é (1) mercado interno de
massa, apoiado em um amplo programa de distribuição de renda; (2) revolução
educacional; (3)política
de exportações agressiva; e (4) integração
sul-americana que adicione respostas continentais aos impasses econômicos
gerados pela volatilidade mundial”.
(Ministro
José Dirceu, “O que está em jogo em 2006” ,
22/6/2006, Jornal
do Brasil).
Mas nem o
grande ministro José Dirceu diz coisa alguma, aí, sobre coordenar qualquer
resistência democrática, democratizatória, contra a imprensa-empresa brasileira
udenista golpista que, seis anos depois da frase acima, em 2012, ainda se
dedica a tentar detoná-lo injustamente, golpistamente e canalhamente (embora
legalmente).
Essa
ignorância brasileira – que é construída e alimentada pela própria
imprensa-empresa brasileira udenista golpista – sobre o dano que a
imprensa-impresa udenista golpista faz ao Brasil, há mais de 50 anos é,
provavelmente, a mais invisível, a mais trágica, das nossas ignorâncias
brasileiras. É IMPRESSIONANTE.
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Peter Hart |
Em outubro,
afinal, o inevitável foi anunciado: a revista
Newsweek deixará de
existir como publicação impressa, no final de 2012. Mas a última revista semanal
de massa que resta, Time, também
anunciou fracasso semelhante: está abandonando o negócio da reportagem
devidamente investigada.
“Quem diz a
verdade? A guerra dos fatos” – dizia a matéria de capa da Time
do dia 15/10. Com tal chamariz, seria de esperar uma brecha no
jornalismo marketado, de
campanha, o reconhecimento, afinal, de que o fato é o que importa, e que os
políticos que fazem da mentira meio de vida, com longo currículo de manipular a
realidade para efeitos ‘eleitorais-midiáticos’ começariam, afinal, a ser
expostos.
Não. Em vez disso,
a revista Time manteve o padrão e repetiu que os dois
grandes partidos norte-americanos, ambos, cometem os mesmos pecados de
“desrespeito factual”, porque a acuidade – e o fato – importam sempre menos que
a aparência de equilíbrio e objetividade. No artigo, e na subsequente resposta
aos críticos, a revista, simplesmente, ergueu a bandeira branca da rendição do
jornalismo ante o mascaramento e a mentira que são rotina no mundo político
eleitoral-midiático.
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Mas na sequência,
fiel ao pressuposto de que fazer jornalismo seria encontrar provas de que todos
mentem, o jornalista encontra frase, no campo de Obama – nada além de um
comentário lateral de um estrategista de campanha, para o qual, se Romney mentiu
a seguradoras, teria cometido “crime” – “acusação condicional, mas, mesmo assim,
acusação”, explica Sherer, o que seria justificativa suficiente para que a
equipe de Romney tivesse de ser apresentada como “os que dizem a verdade”.
Os dois casos,
expostos lado a lado, não são, nem de longe, equivalentes, o que ilustra bem um
dos principais problemas da verificação de fatos, na empresa-imprensa: a
necessidade de sempre parecer ouvir “os dois lados”, por mais que a realidade
seja desequilibrada e não haja, praticamente nunca, dois lados equivalentes.
Quem mais perde, e sempre perde, na Guerra dos Fatos, por ironia, é sempre o
próprio fato.
Em coluna lateral,
Alex Altman (“Quem mente mais? Outra disputa apertada”) parece inspirado na
mesma noção de que haverá algum fato, se todos os políticos e candidatos forem
mostrados como mentirosos perfeitamente idênticos e simétricos. Ali se reúnem
dez declarações de cada um dos campos avaliados. São comparações absolutamente
incomparáveis. De um lado, lista-se uma frase hiperbólica de Romney: “Estamos a
milímetros de deixar de ser economia livre”. Nada com que se preocupar: Altman
classifica a declaração como “altamente mentirosa”.
Do lado de Obama,
aparece declaração “equivalente” – “Não precisamos, na Casa Branca, de um
pioneiro da exportação de empregos”. Esse, na avaliação da revista Time, seria caso de “distorção”,
porque, se a empresa Bain [de Romney], “investiu em empresas que exportaram
empregos, não foi a primeira a fazê-lo”; e, além do mais, Romney não foi
“diretamente responsável” pela exportação de empregos, quando aconteceu. Altman
erra, aí – Romney era, sim, diretor da Bain quando a empresa “era proprietária
de empresas pioneiras na prática de exportar empregos dos EUA para o exterior,
para supervisionar empresas e call
centers que fabricavam componentes
de computadores”, como o Washington
Post(21/6/2012) noticiou acuradamente. Mas, ainda que estivesse mentindo, o
que Obama disse não é equivalente a declarar que os EUA estariam às portas do
socialismo.
Confrontado à
prova de que as mentiras e exageros de Romney eram coisas de outra ordem, Altman
sai-se com nova justificativa:
Comparada à campanha de Obama, a
campanha de Romney mentiu sempre mais ostensiva e mais agressivamentes. Mas não
raras vezes, a mentira mais efetiva é a que fica mais próxima da verdade, e a
equipe de Obama mostrou-se mais ativa que a de Romney, na sombria arte de
distorção sutil.
Assim sendo, em
resumo: Romney mente mais e “maior”. Mas Obama mente mentiras mais efetivas,
mais acuradas.
Esse tipo de “análise” permite que
Scherer, confiante e categoricamente, mostre os dois lados e as duas campanhas
como iguais, no quesito desrespeito à verdade e ao fato:
Os dois candidatos que concorrem à
presidência dizem que o adversário falseia fatos e dá provas de intenção de
manipular o eleitor. Ambos cometem pessoalmente agressões à honestidade e
ao fair play. E ambos conduzem campanhas
que, repetidamente, deliberadamente, enganam as pessoas, embora as respectivas
violações variem em amplitude e gravidade.
Na frase final,
Scherer reconhece que um lado pode estar-se especializando em mentir mais que o
outro – mas sua coluna não dá nenhuma pista sobre qual seria o lado “mais
mentiroso”. Aparentemente, caberia ao leitor o trabalho de descobrir.
Scherer parece incomodado pelo
imenso volume das mentiras ‘dos políticos’ que encontrou nas campanhas, e logo
encontra a quem culpar: o eleitor. Escreveu ele:
E isso explica o descaso com o
fato, que se vê nas campanhas eleitorais? A resposta mais evidente pode ser
encontrada nas penalidades (ou falta delas), por tantas mentiras. Os eleitores
mostram cada dia menos interesse em punir os que mentem.
Scherer conclui que:
até que os eleitores exijam outra
coisa, não apenas dos políticos aos quais se opõem, mas também dos que apoiam,
há poucas razões para desconfiar que isso mudará.
Culpar o eleitor,
preguiçoso ou partidarizado, pelas mentiras dos políticos soa estranho,
especialmente se há ou deveria haver jornalistas cujo ganha-pão é ou deveria ser
informar corretamente o eleitor. Se jornalismo, jornais e jornalistas trabalham
para mostrar que “todos mentem”... não se vê como poderia haver saída para
melhor democracia.
Mas, segundo
Scherer, a imprensa já estaria fazendo precisamente o que não está fazendo. Para
ele, dessa vez, a imprensa teria “abraçado, em larga medida, a causa de corrigir
os políticos, quando saem completamente dos trilhos.” A campanha de 2012 teria
“testemunhado grande aumento no trabalho de verificação de fatos pela imprensa,
com dúzias de repórteres dedicados, em tempo integral, a farejar mentiras”.
Dado que já se sabe que grande
parte do “farejamento” foi partidarizado, Scherer sai-se com um conselho
bizarro:
Os especialistas do canal
MSNBC, do
Huffington Post
e da página de editoriais
do New York Times
fazem excelente trabalho de
denunciar as mentiras de Romney, mas se você quiser ouvir sobre as mentiras de
Obama, encontrará o que procura no
Drudge Report, no canal Fox News ou nos editoriais do Wall Street Journal.
Quer dizer: é
fácil! Se o leitor quiser fatos bem investigados sobre Barack Obama, que assista
a uma hora do programa de Sean Hannity [Ou, traduzido para o Brasil: Se o leitor
quiser fatos bem investigados sobre os governos Lula-Dilma, que assista a uma
hora de William Waack, em GloboNews, ou leia a coluna de Augusto Nunes na
revista (não)Veja, ou assista ao Jornal Nacional... (NTs)].
É quase
inacreditável, é bizarro, mas, isso é o que resta ao leitor-eleitor-consumidor,
se se aceita a premissa de que seria impossível separar fato e ficção no
jornalismo contemporâneo; e que a única opção que resta ao
leitor-eleitor-consumidor de jornalismo pago seria ouvir discursos igualmente
distorcidos, sem qualquer consideração a qualquer fato, só que enviesados, cada
um para um lado, em direções opostas!
O problema, como
explica Scherer, é que o eleitor não deseja ouvir fatos bem investigados “do
outro lado”:
“Em vez disso, o
público faz campanha contra, cada vez mais, os veículos que publicam os fatos”.
Por ironia, ele
cita o ex-assessor de imprensa de Al Gore, Chris Lehane, que argumenta em
direção exatamente oposta:
“No passado, a
imprensa cumpriu efetivamente o papel de mediador (...) Hoje, se integrou à
torcida de grupos organizados”.
Assim, talvez o
verdadeiro problema não seja que o público leitor-eleitor-consumidor não
manifeste qualquer apreço pelos que “fornecem fatos”. O mais provável – como diz
Lehane –, é que público leitor-eleitor-consumidor já não creia que os
jornalistas forneçam algum fato.
Os repórteres parecem enquadrados
num conjunto de “regras” as quais, segundo eles, os impediriam de expor a
realidade aos leitores e telespectadores. No blog Time Swampland 9/10/2012), Scherer respondeu às críticas
contra sua matéria de capa na
Time:
Adoraria poder dizer a vocês que
Mitt Romney mente mais que Barack Obama ou vice-versa (...). O problema é que
não há mecanismo para cumprir esse sagrado dever em tempo real (...). Há excesso
de avaliações subjetivas a fazer, para chegar a qualquer conclusão.
Esse é ponto de
vista que não se pode considerar “imparcial” ou “objetivo”, como se lê na
resposta de Jim Naureckas, editor de
Extra! (FAIR Blog,
9/10/2012). “O que se vê aí é, mais, algum tipo de “pós-modernismo radical” –
negar que seja possível saber o que realmente se passa no mundo ou fazer
qualquer avaliação sobre o que se passa no mundo. Como se o jornalismo só
pudesse, mesmo, narrar o que uns e outros dizem sobre o mundo”.
O maior medo de Scherer parece ser
que os fatos acabem empilhados mais num dos pratos da balança, que no outro.
Cita, em sinal de concordância e aprovação, Brooks Jackson, de FactCheck.org, que explica que operações
de avaliar fatos como a que Scherer comenta só fazem fingir que tentam fixar
parâmetros pelos quais se poderia mensurar a desonestidade de uns ou
outros:
Ainda que fosse possível trabalhar
sobre uma planilha para aferir mentiras de candidatos, e fosse possível afirmar,
cientificamente, que um candidato mente mais que outro, acho que nem assim algum
jornalista usaria a tal planilha... para não haver risco de alguém supor que o
jornalismo, o jornal ou o jornalista estaria apoiando o candidato “menos
mentiroso”.
Enquanto o medo de
ser visto como tendencioso definir o tom das reportagens da mídia-empresa e
impedir qualquer verificação séria de qualquer fato, nenhum jornalismo, jornal
ou jornalista será serviço, veículo ou agente “de noticiar fatos”.
Verdade é que já não passam de
instrumento, veículo, empresa ou gente que vive de arranjar cuidadosamente, à
sua moda, cada peça de um quebra-cabeça, no esforço para criar a ilusão crível
de que apenas contemplam peças de um quebra-cabeça jogado sobre a mesa e
“reportam” o local onde caíram as peças... “porque sim”, ou “por destino”, ou
sabe-se lá por quê.
Mesmo com toda essa força , a imprensa continua sendo desmascarada no mundo ocidental todo. Precisamos continuar a luta da denúncia contra essa horda de bandidos que DESINFORMAM nosso POVO para favorecer interesses econômicos.
ResponderExcluirAbaixo a imprensa mentirosa.
ResponderExcluirFeliz, ou infelizmente, só nos cabe repercurtir a opinião dos blogs sujos, e/ou denunciar as tamóias dos grupos midiáticos que não suportam a idéia de que possa haver uma clara e insofismável posição a um ou outro grupo de político ou a um ou outro governo, o problema é a deproporção do poder de uma Grobo e outras com o poder de nós internautas indignados, mas que venham as batalhas estaremos a postos!!!!!!
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