19/12/2012, Jim Lobe, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jim Lobe |
Os
neoconservadores e líderes do poderoso lobby de Israel estão mobilizando
forças para o que parece ser campanha fortíssima par impedir que o presidente
Barack Obama nomeie um ex-senador Republicano, herói condecorado da Guerra do
Vietnã, para substituir Leon Panetta como secretário da Defesa.
A
campanha foi lançada semana passada, depois que altos funcionários da Casa
Branca vazaram o nome de Chuck Hagel,
que também dirige o Grupo de Conselheiros do Presidente para Inteligência
Estrangeira [orig. President’s Foreign Intelligence Advisory Board
(PFIAB)], como provável nomeado, tão logo Panetta anuncie formalmente a
aposentadoria, agora esperada a qualquer momento. E ganhou fôlego nos últimos
dias, com grandes nomes dos neoconservadores iniciando a carga contra o
ex-senador por Nebraska.
Barack Obama e Chuck Hagel (foto WSJ) |
Se
Obama insistir na nomeação, poderá sinalizar importante mudança na política dos
EUA para o Oriente Médio, dentre outros motivos, porque Hagel – Republicano
realista, da tradição do ex-presidente, Dwight Eisenhower e do secretário de
Estado, James Baker – tem sido ativo crítico das políticas de Israel e advogado
empenhado de os EUA abraçarem a via da negociação diplomática com o Irã.
Natanyahu |
Para
alguns observadores, a nomeação seria “dar o troco” ao primeiro-ministro de
Israel Benjamin Netanyahu, que várias vezes confrontou Obama, no primeiro
mandato, na questão da expansão das colônias israelenses na Cisjordânia; e
repetidas vezes ameaçou atacar o Irã. Netanyahu tampouco fez segredo de que seu
candidato à presidência dos EUA não era Obama, mas o governador Republicano,
Mitt Romney.
O
núcleo mais conhecido do lobby de Israel em Washington, que parece temer
que Obama pretenda pressionar Israel no segundo mandato, pode estar motivando a
crescente campanha contra a possível nomeação de Hagel.
O
lobby está trabalhando, portanto, para convencer Obama de que pagará
preço político excessivamente alto, se insistir no nome de Hagel. Se for
realmente nomeado, muitos observadores creem que dificilmente a indicação será
rejeitada no Congresso, dada a relutância que muitos senadores Republicanos
sempre manifestam quando se trata de negar aprovação a um dos seus (embora Hagel
tenha feito campanha pró-Obama em 2008).
A
principal carga feita até aqui contra Hagel, que também trabalha no Conselho
Atlântico, think tank muito influente, é que ele seria “anti-Israel” – e
há até os que o chamam de “antissemita” – e que várias vezes manifestou não crer
na possibilidade de algum ataque ao Irã, mesmo que o país não reduzisse – ou
preferentemente, para Israel, abandonasse totalmente – seu programa nuclear.
“Hagel
com certeza tem um viés anti-Israel e é favorável a “amolecer” com o Irã – escreveu William Kristol, editor-chefe de The Weekly Standard, em
editorial, essa semana.
“Quando
ainda senador, Hagel disse que nenhum ataque militar contra o Irã, como nenhuma
opção militar, seria opção viável, realizável ou responsável” – anotou Kristol,
co-fundador do Projeto para um Novo Século Americano [orig. Project for a New
American Century (PNAC)], dos conservadores, que teve papel chave na
propaganda a favor de ataque ao Iraque, há uma década; e, mais recentemente, no
controverso Comitê de Emergência pró-Israel [orig. Emergency Committee for
Israel (ECI)].
Na
3ª-feira, na mesma linha, dois outros influentes neoconservadores ofereceram
empenhado apoio ao Partido Likud, de Netanyahu e da direita israelense: Elliott
Abrams, membro do Conselho de Relações Exteriores, auxiliar direto de George W
Bush para o Oriente Médio; e Bret Stephens, jornalista que assina a coluna
“Global View” [Visão Global] do Wall Street Journal.
Relembrando
que Hagel disse certa vez a um entrevistador seu aliado que “o
lobby judeu intimida muita gente por aqui [no Congresso]”, Stephens
sugeriu que a expressão cheira a antissemitismo, sobretudo à luz da crítica que
o Senador fizera, contra Israel, durante a segunda Intifada palestina e a guerra
de 2006 contra o Líbano, e sua oposição a várias sanções impostas aos Irã.
“(...)
O comentário do Sr. Hagel sobre o lobby dá boa dimensão do seu padrão de
pensamento”, escreveu Stephens. Na sequência, citou outros trechos da entrevista
que Hagel deu a um diplomata norte-americano aposentado que servira no Oriente
Médio em 2006, como prova do antissemitismo ou da hostilidade do (então) senador
Hagel contra Israel.
“Sou
senador dos EUA, não de Israel” – disse Hagel a Aaron David Miller. “Sou senador
dos EUA. Apoio Israel. Mas jurei servir à Constituição dos EUA, não a um
presidente, nem a um partido. Não jurei que serviria a Israel, no meu mandato”.
Por
menos que haja aí questão a discutir ou discordar, as palavras de Stephens foram
imediatamente repetidas e repercutidas por Abraham Foxman, diretor da Liga
Antidifamação [orig. Anti-Defamation League (ADL)], pilar do lobby
de Israel mais convencional.
“Chuck
Hagel não seria o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro nome a ser escolhido
pela comunidade judeu-americana dos amigos de Israel” – disse à blogueira
neoconservadora Jennifer Rubin, do Washington Post.
“Seu
currículo no que tenha a ver com as relações EUA-Israel é, no mínimo,
preocupante, e, no máximo, muito constrangedor” – disse Foxman, acrescentando
que os sentimentos de Hagel em relação ao lobby judeu beiram o
antissemitismo.
Mas
Foxman, o qual, diferente dos neoconservadores, tenta manter-se a igual
distância dos dois partidos, disse ao Times of Israel que se oporia à
nomeação, se a ideia avançasse.
O
Comitê de Relações Públicas EUA-Israel [orig. American Israel Public Affairs Committee
(AIPAC)], o mais influente grupo de lobby pró-Israel nos EUA,
está mantendo silêncio discreto, embora um porta-voz de muitos anos, Josh Block,
que hoje chefia o Projeto Israel [orig. The Israel Project], já se tenha
manifestado fortemente contra o nome de Hagel, por sua oposição às sanções
contra o Irã e sua recusa a assinar cartas e resoluções e abaixo-assinados
contra o Irã, o Hezbollah e o Hamás, apoiados, quando não concebidos, redigidos
e promovidos pelo próprio AIPAC.
Em
vários sentidos, a atual campanha faz lembrar outra, contra Chas Freeman,
embaixador aposentado e muito prestigiado nos EUA, que foi nomeado para presidir
o Conselho Nacional de Inteligência nos primeiros dias do primeiro governo
Obama, e em seguida foi tomado como alvo de violenta campanha movida contra ele,
pelos jornais, por neoconservadores e pelo lobby de Israel.
Mas,
naquele caso, a campanha focou-se menos em críticas de Freeman
contra políticas dos EUA para Israel e, mais, em ditas relações muito próximas
que Freeman manteria com líderes chineses.
No
caso de Hagel, a questão é bastante mais importante, dada a importância do
Pentágono para as políticas exteriores, particularmente para o Oriente Médio,
onde Obama – de acordo, nisso com o pensamento de Hagel – tenta tirar o pé do
Oriente Médio, no movimento de “pivô”, para reorientar as forças militares dos
EUA na direção, mais, do Pacífico Asiático.
Frank Gaffney |
Diferente,
também, do caso Freeman, os inimigos de Hagel não encontrarão facilmente outras
questões, fora do Oriente Médio, para mobilizar a oposição a uma já provável
nomeação. Frank Gaffney, que dirige o Centro de Política de Segurança [orig.
Center for Security Policy (CSP)], neoconservador de linha dura,
denunciou Hagel em coluna assinada na 3ª-feira no Washington Times, por
jamais ter apoiado as guerra no Iraque e no Afeganistão; por acreditar que o
Pentágono estaria “inchado”; e por apoiar, com outros Republicanos realistas, um
gradual desarmamento nuclear.
Outro
argumento que está emergindo é que, se, como se espera, Obama nomear o senador
John Kerry para o posto de secretário de Estado, e puser mais um homem, branco e
de idade na chefia do Pentágono, estará desmentindo o projeto de fazer, de seu
Gabinete, um projeto de diversidade demográfica.
No
curto espaço de tempo desde que se começou a falar da possibilidade de Hagel vir
a ser nomeado, várias vozes de judeus conhecidos falaram a seu favor, dentre os
quais Miller, que disse ao blog “Open Zion” [Sion Aberto], do portal Daily
Beast, que “Hagel é forte apoiador de Israel”.
Daniel (Dan) Kurtzer |
Além
desse, o ex-embaixador dos EUA em Israel, Dan Kurtzer ,
disse ao jornal Político que a crítica contra Hagel é “terrivelmente mal
orientada”; e o grupo J Street, “pró-paz e pró-Israel” disse que Hagel “seria
magnífica escolha” para comandar o Pentágono.
Muitos
observadores creem que, agora, muito dependerá do que façam alguns dos senadores
mais diretamente associados ao lobby de Israel, nos dois partidos, se se
manifestarão, ou não, contra Hagel.
Até aqui, dois Republicanos, McCain
e Lindsay Graham, cujas atitudes quase sempre refletem a dos demais
neoconservadores e que tiveram papel destacado na oposição contra a indicação da
embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, ao posto de secretária de Estado, já
disseram que não esquecerão o que Hagel disse sobre “o lobby judeu”, caso
seja nomeado, mas não disseram que farão oposição declarada à nomeação, como
fizeram, à simples ideia de Rice vir a ocupar a secretaria de
Estado.
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