As páginas da bolsa de valores e do governo de Israel foram os
alvos
18/01/2012
Baby
Siqueira Abrão
- Correspondente no
Oriente Médio
Eram
10 horas da manhã de segunda-feira, 16 de janeiro, quando dois portais
importantes de Israel saíram do ar: o da bolsa de valores de Tel Aviv (Tel Aviv Stock Exchange, TASE)
funcionava apenas parcialmente, antes de fechar de vez, e o da companhia aérea
El Al, israelense, estava inacessível. Não foi por falta de aviso. No domingo,
um grupo de hackers autodenominado
“Pesadelo” ameaçou atacar ambos os portais. Dito e feito.
Um
porta-voz da bolsa de valores israelense declarou que as operações financeiras
não foram afetadas, uma vez que não estão conectadas ao portal. Já a El Al disse
que esse tipo de ataque “já era esperado” e anunciou a tomada de medidas de
segurança nas operações do site, segundo informou o jornalista Oded Yaron, do
diário israelense Haaretz.
O
ataque ocorre um dia depois de o Hamas, partido palestino que governa Gaza,
parabenizar os piratas que andam invadindo sites israelenses e incentivar a
prática. Em comunicado oficial, o porta-voz Sami Abu Zuhri declarou, numa
coletiva de imprensa na faixa costeira palestina, que as invasões são “a
abertura de um novo campo de resistência, a eletrônica, e o início de uma guerra
virtual contra a ocupação que Israel impõe à Palestina”.
Zuhri
fez um apelo “aos povos palestino e árabe para que continuem com a guerra
eletrônica, buscando maneiras de estimulá-la e
desenvolvê-la”.
O
comunicado foi feito três dias depois de um grupo de ativistas de Gaza ter
conseguido entrar no sistema eletrônico do serviço de resgate e combate ao fogo
de Israel. Eles substituíram a página oficial por uma foto de Danny Ayalon,
vice-ministro israelense das Relações Exteriores, cobriram seu rosto com pegadas
e acrescentaram a frase “Morte a Israel”.
Depois
que o grupo Anonymous invadiu o site
do exército israelense, no final de 2011 – notícia pouco divulgada e não
confirmada por fontes oficiais, que alegaram “problemas técnicos” para
justificar o fato de o portal ter saído do ar – outros hackers parecem ter se animado com a
ideia. Desde o início de 2012, sites de bancos e instituições financeiras de
Israel vêm sendo visitados por piratas eletrônicos que se identificam como
moradores de países árabes.
No início do ano, hackers autodenominados Group XP invadiram um portal israelense de venda de produtos esportivos, capturando e divulgando os dados dos cartões de
crédito de milhares de clientes. Nome, endereço, telefone e número da carteira
de identidade dos titulares dos cartões foram publicados na internet, em dias
intercalados, por dois hackers, que
usam o codinome “Ox-Omar” e “X”, declaram-se sauditas e garantem ter informações
pessoais de 1 milhão de usuários de cartões de crédito em
Israel.
Enquanto
bancos e operadoras procuravam minimizar o problema e suspender as operações com
os cartões pirateados, o vice-ministro Danny Ayalon vinha a público dizer que os
ataques constituíam “uma violação à soberania israelense”, que eram comparáveis
a “atos terroristas” e que seriam tratados como tais.
A
resposta veio de imediato: o Group XP
tirou do ar a página eletrônica do vice-ministro e prometeu intensificar a
ciberguerra contra Israel, “pelos crimes cometidos contra o povo palestino”. Os
hackers X e Ox-Omar desafiaram Ayalon
em público: “Vocês nunca vão nos encontrar”.
Danny
Ayalon é o segundo homem do ministério comandado por Avigdor Lieberman, um dos
líderes da extrema-direita israelense e fundador do partido ultranacionalista
Yisrael Beitenu. Lieberman, cuja posição contra a constituição do Estado da
Palestina é bem conhecida, mora numa colônia ilegal construída por Israel em
terras confiscadas ao povo palestino.
E
a força-tarefa?
Os
ataques tornam patente uma verdade que o governo israelense não quer assumir: a
força-tarefa contra ciberataques, anunciada em maio de 2011 pelo
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e que devia ter começado a operar na
primeira semana de 2012, não existe. Oficialmente, o governo declara que cuidar
de cartões de crédito e de interesses privados não é o objetivo do grupo, e que
Eviatar Matanya, o diretor de operações, já iniciou o trabalho de “criar e
estruturar” a força-tarefa. Mas recusa-se, “por razões de segurança”, a revelar
a verba destinada a estruturá-la.
Na
verdade, de acordo com uma fonte não oficial ligada às forças de segurança
israelenses, essa verba também não existe. A força-tarefa não conta com “verba,
pessoal, jurisdição nem com seu diretor de operações predileto [o general da
reserva Yair Cohen, ex-chefe da central militar de inteligência], que se recusou
a aceitar o posto ao saber que não teria recursos para o trabalho”, escreveu
Anshel Pfeffer, jornalista do Haaretz, em 4 de janeiro, dia em que o grupo
deveria ter iniciado suas atividades.
No
lançamento do programa, há oito meses, Netanyhau declarou, numa entrevista
coletiva à mídia, que aceitara as recomendações de uma equipe de oito
especialistas, capitaneados pelo general da reserva Isaac Ben-Israel, para
formar um grupo de defesa contra ciberataques “que podem paralisar os sistemas
que mantêm o país em funcionamento. Eletricidade, cartões de crédito, água,
transportes, semáforos, tudo é computadorizado e, portanto, suscetível a
ataques”. Repare o leitor que o primeiro-ministro incluiu os cartões de crédito
na relação de sistemas a receber atenção da força-tarefa.
A
mesma fonte não oficial afirma que, embora a necessidade da criação do
cibergrupo exista, “há órgãos que não desejam ajudá-lo, e ninguém realmente
apoiou o projeto ou se esforçou para viabilizá-lo”.
O
pessoal do exército treinado para lidar com o cibermundo dedica-se somente à
inteligência militar. “A segurança das redes de infraestrutura vital, como
eletricidade e água, está nas mãos da Autoridade Nacional de Informação em
Segurança [NISA], uma unidade do Shin Bet”, informa Pfeffer. “O Conselho
Nacional de Segurança decide quais sistemas de companhias civis devem ser
protegidos pela NISA, mas como algumas delas, incluindo bancos, operadoras de
telefone celular e de internet se opõem a isso, a legislação concernente à
segurança dessas empresas foi posta de lado.”
Enviado
por Baby Siqueira Abrão - direto de Ramallah (Palestina
roubada)
Este artigo foi traduzido para o inglês e pode ser lido em: http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=6663.
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