Pepe Escobar |
25/1/2012, Pepe
Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
No discurso “O Estado da União”, ontem, o presidente dos
EUA Barack Obama disse “Que ninguém duvide: os EUA estamos determinados a evitar
que o Irã chegue à bomba atômica, e não excluirei de sobre a mesa nenhuma opção
para atingir aquele objetivo”.
[1]
No mundo real, a
frase significa que Washington quer ir à guerra – a guerra econômica já está em
curso – contra um país que assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e não
está construindo armas atômicas, como já declararam a Agência Internacional de
Energia Atômica e a mais recente US
National Intelligence Estimate.
Obama também disse
que “o regime de Teerã está mais isolado do que nunca; seus líderes sofrem sob o
peso de sanções paralisantes, e, enquanto fugirem às suas responsabilidades, a
pressão não diminuirá”.1
“Isolado?” Não, não. O Irã não está isolado. Leiam “O
mito do Irã ‘isolado’” (14/1/2012).
Nem, tampouco, é a liderança iraniana quem sofre sob o peso de sanções
paralisantes: quem sofre é a absoluta maioria de 78 milhões de iranianos
pobres.
Em declaração
antes do discurso, Obama “aplaudiu” a decisão da União Europeia de impor embargo
contra o petróleo do Irã, e acrescentou que “Aquelas sanções demonstram, mais
uma vez, a unidade da comunidade internacional”.
OK. Mas a tal
“unidade da comunidade internacional” é composta de EUA, países da OTAN, Israel
e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, também conhecido como Clube
Contrarrevolucionário do Golfo); o resto do mundo é miragem.
Venha para o
programa petróleo-por-ouro
Dois países BRICS,
Índia e China, juntos, compram pelo menos 40% do petróleo que o Irã exporta, 1
milhão de barris/dia. 12% do petróleo de que a Índia necessita. E a China
comprou, ano passado, 30% mais petróleo do Irã que em 2010, média de 557 mil
barris/dia.
A “comunidade
internacional” de verdade já está tomando conhecimento de que a Índia começará a
pagar em ouro, pelo petróleo iraniano – não com rúpias, através do banco estatal
UCO indiano e do banco estatal Halk Bankasi, turco. Pequim – que já negocia com
o Irã em yuans – pode também mudar-se para o ouro. Desnecessário lembrar que
ambas, Delhi e Pequim, são grandes produtoras de ouro, com muito ouro nos
cofres.
O Ano do Dragão
começará com muito barulho: pode bem ser o padrão-ouro do Ano do Dragão.
Todos recordam o
fracassado programa da ONU petróleo-por-ouro, que matou de fome os iraquianos,
nos anos antes da invasão/ocupação dos EUA, em 2003. Iraquianos médios pagaram
preço terrível pelas sanções de ONU/EUA, e o programa petróleo-por-comida só
beneficiou o sistema de Saddam Hussein.
Agora, o negócio é
muito mais sério; é o programa petróleo-por-ouro, iniciativa de BRICS + Irã que
beneficiará a liderança da República Islâmica e talvez alivie os efeitos das
sanções sobre a população iraniana. Consequências globais: a cotação do ouro
sobe; o petrodólar cai; os mercadores de petróleo abrem garrafas de Moet em
cataratas.
Outro país BRICS,
a Rússia, já negocia com o Irã em rials e rublos. E a Turquia, aspirante a
membro do grupo BRICS – e que também é membro da OTAN – não acompanhará as
sanções de EUA/União Europeia, se não forem impostas pelo Conselho de Segurança
da ONU (não-não, porque Rússia e China, membros permanentes, vetarão).
Em dois meses, o
primeiro-ministro Vladimir Putin – que enfurece/apavora Washington e Bruxelas
como um neo Vlad o Impalador – estará de volta à presidência da Rússia. É quando
os poodles atlanticistas saberão o que é jogo à
vera.
Enquanto isso,
Teerã jamais se curvará às sanções ocidentais – muito menos com vários
mecanismos laterais/subterrâneos já implantados para vender seu petróleo e que
envolvem três países BRICS mais dois aliados dos EUA, Japão e Coreia do Sul, os
quais, provavelmente, conseguirão que o governo Obama os isente de cumprir as
sanções.
Dado que isso tudo
jamais teve algo a ver com uma inexistente arma nuclear, a liderança em Teerã só
terá de seguir um parâmetro supremo de estratégia: não caia em provocações ou em
arapucas de operações clandestinas sob falsas bandeiras, que serviriam como casus belli para um ataque de guerra do eixo
EUA/Grã-Bretanha/Israel.
E tudo isso,
enquanto tendências no horizonte – sobrecarregado – apontam para o que se pode
chamar de “Zona Asiática de Exclusão do Dólar”, a qual, para muitas mentes
espertas no mundo em desenvolvimento, pode pavimentar a estrada para uma moeda
lastreada em energia, a ser usada pelos BRICS e pelo Grupo dos 77 (G-77) para
resistir ao cada vez mais desesperado – e sem rumo – ocidente atlanticista.
De volta ao
congresso dos poodles europeus, basta examinar a declaração
conjunta distribuída por aqueles fenômenos de mediocridade – o primeiro-ministro
britânico David Cameron, a chanceler alemã Angela Merkel e o neonapoleônico
“libertador da Líbia”, o francês Nicolas Sarkozy.
O trio-lá disse
que “Nada temos contra o povo iraniano.” Os iraquianos ouviram exatamente a
mesma frase de outro grupo de mediocridades em 2002 e 2003. Em seguida, o Iraque
foi invadido, ocupado e destruído.
Nota dos tradutores
O 'BRICS' pode se tornar 'RICS', graças a tis Dilma...
ResponderExcluirAcho que é APESAR do esforço da Dilma...
ExcluirAnaS