terça-feira, 11 de setembro de 2012

MILICANALHAS: “É preciso aprofundar as verdades”



O MILICANALHA


Publicado em 11/09/2012 por Mário Augusto Jakobskind*

O Brasil está passando por um momento de apresentação à opinião pública de muitas verdades que estavam sendo escondidas. É o caso da série de reportagens sobre torturadores, divulgadas até mesmo pela mídia de mercado, exatamente por órgãos de imprensa que deram total apoio à longa noite de trevas a partir de abril de 1964.

O fato de jornalões como O Globo, como diria Leonel Brizola, que engordaram na estufa da ditadura, divulgarem verdades escondidas demonstram que os defensores daquele período tentam de todas as formas se desvencilhar do passado comprometedor.

Neste passado não basta apenas apontar os, como diria Uraniano, “velhinhos” que quando tinham força torturavam e matavam opositores do regime. É preciso não esquecer dos financiadores da repressão, empresários que hoje, reciclados, apoiam candidatos dos mais variados, mas sempre com objetivo de retribuição a curto, médio e longo prazo. Até porque, não pregam prego sem estopa.

Pois bem, tendo em vista essa questão, a Comissão da Verdade criada no município de São Paulo convocou, além de Brilhante Ustra, o ex-Ministro da Fazenda, Delfim Neto, para esclarecer acusações segundo as quais ele foi um dos arrecadadores de grana para a ação dos órgãos da repressão.


Brilhante Ustra, o major Curió e outros do gênero foram executores do esquema apoiado pelas elites brasileiras, que naquele momento fizeram a opção pela truculência.

Da mesma forma que os órgãos de imprensa conservadores tentam se desvencilhar do passado condenatório, Delfim Neto hoje procura se apresentar apenas como um “técnico” daquela época e chegou nos dias atuais a ser considerado consultor econômico de Luis Inácio Lula da Silva.

O ex-Ministro da Fazenda juntamente com o nonagenário Jarbas Passarinho, entre outros, foram signatários do AI-5 que endureceu ainda mais o regime golpista resultando no aumento de torturas e mortes contra opositores do regime de força vigente no país.

Já são passados mais de 40 anos, mas muitos fatos daquele período ainda não foram totalmente desvendados. Documentos que se encontram agora no arquivo nacional podem ser considerados a ponta do iceberg do esquema repressivo. É necessário também que os demais arquivos da ditadura sejam conhecidos, porque se isso não acontecer, a página do horror acontecida cairá no buraco negro da história.

É claro que os setores extremistas de direita do espectro político atual, embora minoritários e que até de vez em quando se manifestam em comentários de leitores deste espaço democrático, procuram de todas as maneiras evitar que as verdades daquele período finalmente venham à tona.

Não se pode esquecer também que além da face repressiva, o regime ditatorial tinha outras facetas. A política econômica, por exemplo, de arrocho salarial e em determinados momentos de subserviência total aos interesses dos Estados Unidos, cujos governos, desde John Kennedy conspiraram para a quebra da ordem constitucional, deve ser também lembrada.

Outro fato que não se deve esquecer é o de que, no período ditatorial, os meios de comunicação eram impedidos de divulgar denúncias sobre corrupção e corruptores. Os órgãos de imprensa silenciavam, seja por temor da censura, seja por autocensura mesmo.

Vale lembrar também que o poder ditatorial vigente,  encabeçado por generais de plantão nomeados, cassou políticos e até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal, na época, figuras de proa do mundo jurídico brasileiro, entre eles Evandro Lins e Silva e Hermes Lima, nomeando como substitutos nomes sem independência e coragem para não acatarem resoluções do Executivo.

A redemocratização do país não avançou em todos os campos. O Poder Judiciário, por exemplo, continua praticamente intocável e ainda guarda vícios daquele período, que volta e meia se manifestam nas condenações absurdas de movimentos sociais que não aceitam uma ordem social injusta.

Por estas e muitas outras, já é tempo também de passar a limpo o Poder Judiciário e até mesmo mudar os critérios de escolha dos Ministros do STF.

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Na área internacional vale a informação, quase não divulgada, de que um comitê jurídico equatoriano levará a tribunais internacionais a denúncia sobre a coleta de amostras de DNA do povo waorani por parte de enviados do Instituto Coriell, dos Estados Unidos. O Presidente Rafael Correa disse que não permitirá que prevaleça a impunidade.

Depoimentos de integrantes desse grupo indígena confirmaram que em 1991 dois estadunidenses extraíram sangue de alguns deles com o pretexto de examinar sua saúde. O silêncio sobre a violência cometida não continuará, como imaginavam os responsáveis pelo Instituto Coriell, com sede em New Jersey.

Espera-se que outros governos sigam o exemplo do Equador e façam o mesmo em matéria de defesa da proteção aos patrimônios naturais ou biológicos de suas nações.

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Depois de dez anos de  tentativas de diálogo  entre as Farcs e o governo do então Presidente, Andrés Pastrana, depois de tanto sangue derramado, o governo colombiano de Juan Manoel Santos chegou à conclusão de que a saída deve ser o diálogo, que a maioria do povo defende. E as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) sempre defenderam.

Fora do diálogo, não se alcançará a paz e a justiça social. E para se conseguir tudo isso é necessário neutralizar os setores vinculados ao ex-presidente Álvaro Uribe e os ditames do Departamento de Estado norte-americano nestas bandas.
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Obs: O título da postagem e ilustrações foram alterados pela redecastorphoto

Mário Augusto Jakobskind* é jornalista, correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.

Enviado por Direto da Redação

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