quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Pepe Escobar: “Falcão, Pomba, Borboleta, Abelha”


23/9/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online- The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Pepe Escobar
Que animal político de espécie jamais vista abre asas sobre o espectro geopolítico? É agressivo com um falcão e suave como uma pomba; saltita como borboleta e ferroa como abelha. Que estranho ser emplumado é esse falcãopombaborboletabelha (FPBA)?

Tratem de acostumar-se com ele. O FPBA é nada mais nada menos que o President of the United States (POTUS), Barack Obama. A pergunta que não quer calar é: e... voará?

POTUS, em penas e plumas de FPBA, fez entrada espetacular, ante as delegações de 192 países, na Assembleia Geral da ONU em New York. O discurso, de 30 minutos, pode ser lido em vários jornais [1]. Aqui, para facilitar, em versão periquito: faremos qualquer negócio para impedir que o Irã vire nuclear. Não abandonaremos os protagonistas da Primavera Árabe. Queremos mudança de regime na Síria.

“Marte, temos um problema...”. O Irã não cogita de construir arma nuclear (se cogita, está longe de poder construí-la) – segundo a Agência Internacional de Energia Atômica e um rosário de agências de inteligência dos EUA. Autênticos protagonistas da Primavera Árabe – no Bahrain, dentre outros – já foram abandonados. E quanto à mudança de regime na Síria, Washington nada conseguirá, enquanto continuar metida com jihadistas salafistas.

POTUS ( Barack Obama)
O FPBA mais uma vez bateu na tecla do “defendendo valores democráticos em todo o mundo”. O que nunca poderia admitir é que um Oriente Médio “Expandido” que realmente acompanhe o desejo dos eleitores jamais se submeterá sem luta à visão de mundo de Washington – sobretudo enquanto Washington continuar a submeter-se cegamente a qualquer decisão de Israel. O próprio FPBA poderia citar, como bom exemplo, o novo Egito, presidido agora por presidente da Fraternidade Muçulmana (FM).

O FPBA também desafiou o mundo árabe a usar seu “recém alcançado” abraço da democracia, para proteger a liberdade de religião e de expressão.

O que o FPBA nunca poderia admitir é que o tal abraço “recém alcançado” só foi “recém alcançado” depois de 40 anos de pré-abraços tentativos frustrados, que se espatifaram contra ditadores e petromonarcas patrocinados pelos EUA, contra o desejo do próprio povo.

Quer dizer: o FPBA convenientemente apagou, que ondas de árabes não esqueceram aquelas longas décadas, quando Washington vivia amasiada com autocratas e ditadores locais. E ainda vive: veja o caso da Arábia Saudita, como referência.

A morte que desce dos céus

A equipe de conselheiros pirados do FPBA sabe que política externa não vence eleições nos EUA. Mas pode ser boa ajuda para perder mais uma.

FPBA (Barack Obama)
Em outras palavras, FPBA joga hoje essencialmente na retranca. Com uma ou outra jogada de lado. Há quatro anos, ainda em estágio de vir-a-ser, POTUS-Obama fez campanha eleitoral na linha do “Chega de guerras”. Agora, o FPBA diz que ainda há algum espaço para uma solução diplomática no Irã, mas o tempo é limitado. Implica não tirar da mesa a opção “mais guerra” – para delícia do substancioso setor doido-por-guerras, o complexo industrial-militar-segurança & mídia.

Disse o FPBA que “Não há palavras que justifiquem a morte de inocentes (...) Não há vídeo que justifique atacar uma embaixada. Não há massacre que justifique explodirem um restaurante no Líbano, ou destruirem uma escola em Túnis, ou causarem morte e destruição no Paquistão”.  

Se o FPBA tivesse lido o recém publicado e devastador relatório das faculdades de Direito de Stanford e New York University [2], construído a partir de longas entrevistas com vítimas e testemunhas da guerra clandestina dos aviões-robôs, drones, nas áreas tribais do Paquistão, teria visto o verdadeiro efeito dos “ataques assinados” que o próprio FPBA ordenou, quando acontece de os alvos serem selecionados por critérios baseados num nebuloso “padrão de vida”.

Se o FPBA acha que “nenhum vídeo justifica atacar uma embaixada”, teria de calar o bico e reverter ao silêncio cósmico, porque nada justifica a matança de mulheres e crianças pashtuns, de fato, morte norte-americana que nada discrimina e desce dos céus, operação que aterroriza as 800 mil pessoas que vivem nos Waziristões, norte e sul. Chance zero de o FPBA falar sobre essa guerra DE terror.

Verdade seja dita: ele não falou foi sobre coisa alguma, zero, nada. Depois de 30 minutos de falação, sumiu feito falcão, e dedicou zero minutos em encontros pessoais com líderes estrangeiros.

Voando feito águia

Bill "Bubba" Clinton
Cena altamente contrastante com a aparição flash do FPBA na ONU, acontecia em outro ponto de Manhattan: Sua Santidade, “Bubba”, Bill Clinton em pessoa, que apresentava o candidato Republicano, Mitt Romney, apelido “O Robô”, a uma sala repleta de Democratas, em evento da Clinton Global Initiative, fulgurante operação de ajuda bipartidária [2a].

O Robô, pelo menos, teve a elegância de admitir: “Se alguma coisa aprendi nessa temporada eleitoral, é que algumas palavras de Bill Clinton fazem muito bem a qualquer homem. Depois dessa introdução, acho que terei de esperar um ou dois dias, para voltar ao normal”.

"O Robô"
Não há normalidade no horóscopo d’O Robô. Ao contrário. Está em viagem de dois dias, de ônibus, pelo principal estado indeciso, Ohio. Segundo as mais recentes pesquisas divulgadas pelo Washington Post, o FPBA está à frente d’O Robô em Ohio, com 8 pontos de vantagem. Se o FPBA se mantiver em pé em Ohio e na Flórida – como parece, cada dia mais, que acontecerá – a luta acabou.

Segundo Nate Silver, o FPBA tem agora 77,7% de chances de vencer dia 6/11. 2,9% a mais que na semana passada. [3]

Resta, como Tom Engelhardt demonstra de forma impecável [4], é o FPBA investir em todos os tipos de contorcionismos aéreos/retóricos para impedir que o mundo exploda bem debaixo do seu nariz emplumado, nos próximos 40 dias. Se o mundo não explodir nesse prazo, então o falcão-pomba-borboleta-abelha se metamorfoseará em águia careca – ave formidável, que sobrevoará os escombros de um futuro distópico.
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Notas de rodapé

1. 25/9/2012, íntegra do discurso de Barack Obama na ONU, a seguir, em inglês:


2. Assista a seguir, em inglês:



3. 25/9/2012, New York Times, Nate Silver, em:Sept. 24: Deep Red Polling Mystery”.


4. 24/9/2012, redecastorphoto, Tom Engelhardt em: Romney já era. Agora é Obama contra o mundo

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