14/9/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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Obama e os limões... |
Os
ataques contra embaixadas dos EUA na Líbia e no Egito são péssimo sinal, porque
aconteceram na 3ª-feira, aniversário dos ataques de 11/9. Mas se o ataque em
Benghazi parece ter sido operação bem planejada, o incidente no Cairo teve
características de movimento repentino, brotado da fúria da multidão nas ruas e
disparado por filme distribuído por YouTube que difama o Profeta e o Islã (e
produzido, curiosamente, por um judeu israelense de história obscura) e que
ecoou diretamente no vasto repositório de “antiamericanismo” que é a sociedade
egípcia hoje.
Mesmo
assim, os dois incidentes devem ser analisados juntos. Não há dúvida de que
houve elementos islamistas radicais por trás do caso do Cairo, e o ataque em
Benghazi, com características de ação de Fedayeen, está sendo atribuído
ao grupo Ansar al Sharia, que tem base no norte da África e é ligado à al-Qaeda
de ideologia salafista. Mas o que realmente “une” os dois incidentes em termos
políticos é que ocorreram em dois países nos quais já houve “mudança de regime”,
na sequência da chamada Primavera Árabe.
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Embaixador Chris Stevens, morto na Líbia |
Cabeças
em Washington bem fariam se começassem a pensar seriamente sobre a que tudo isso
está levando no Oriente Médio. No caso do ataque na Líbia sobretudo, o
embaixador Chris Stevens, que foi morto, estava na linha de frente das operações
clandestinas coordenadas pelo ocidente para derrubar o regime de Muammar
Gaddafi. Foi movimento de “dar-o-troco”, do tipo que os EUA estão conhecendo
também no Afeganistão, onde se uniram à al-Qaeda nos anos 1980s e colhem, até
hoje, os frutos amargos daquela união.
Por
ironia, o mais recente bloco de telegramas “não secretos” do departamento de
Estado dos EUA liberados no início dessa semana em Washington mostram o quão
intensamente os EUA negociaram com o grupo Haqqani no Afeganistão, ao longo de
toda a década passada. Mesmo assim, no fim-de-semana, o governo dos EUA decidiu
incluir a rede Haqqani em sua “lista negra” de organizações terroristas. Do
mesmo modo, há farta documentação que prova que as operações clandestinas para
derrubar Gaddafi serviram-se de muitos grupos e elementos da al-Qaeda como
“coturnos em solo”, sem qualquer discrição ou restrição de consciência, porque
aqueles combatentes foram considerados como os únicos com suficiente competência
para enfrentar as forças do governo local.
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Míssil Tomahawk |
Ironia
muito maior é, agora, os EUA despacharem navios de guerra armados com mísseis
cruzadores Tomahawk para a costa da Líbia. Lembram dos mísseis Tomahawk? São os
mísseis disparados contra Kandahar e Kabul pelo então presidente Bill Clinton,
depois dos ataques contra as embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia em 1998.
Três anos depois, a al-Qaeda deu o troco em New York e Washington.
A
menos que Washington comece logo a repensar e repense seriamente, repetirá o
erro líbio, com consequências muito mais graves, na Síria – onde elementos da
al-Qaeda já estão incorporados nas operações clandestinas dos EUA para derrubar
o governo de Bashar al-Assad. Dito claramente: a “mudança de regime” fracassou
na Líbia e voltou, feito bumerangue. A diplomacia dos EUA no Cairo, enfrenta
batalha montanha acima.
O presidente Barack Obama bem faria
se lesse, e rápido, o que está escrito na parede.
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MK
Bhadrakumar* foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
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