sexta-feira, 30 de julho de 2010

As Sete Fases de Uma Crise - II

Link to O Brasil Que Dá Certo
Em outubro de 2008, escrevi um artigo na Veja com o mesmo título, e estes estágios se confirmaram. Estamos agora na Fase 6, assunto deste artigo. Mas primeiro vamos repetir o essencial do artigo anterior. "Toda crise tem sete fases....

"Toda crise tem sete fases.

Fase 1. Não há problema na economia, diz a autoridade econômica, é tudo boato.

Fase 2. Sim, temos um problema mas tudo está sob controle.

Fase 3. O problema é grave mas medidas corretivas já foram tomadas.

Fase 4. O problema é muito grave mas as medidas emergenciais surtirão efeito.

Fase 5. Pânico geral e salve-se quem puder.

Fase 6. Comissões de inquérito e caça aos culpados.

Fase 7. Identificação e prisão dos inocentes.


Os Estados Unidos e a Europa estão na Fase 5. Brasil, China e Índia estão na Fase 3. Precisamos nos proteger contra a possibilidade de chegarmos na Fase 5, quando basta um entrevistado na televisão afirmar “que esta crise é igual ou pior que a de 1929”, como vários já falaram, ou escrever no jornal “as consequências da crise chegaram definitivamente no Brasil”, como já foi publicado, e gerar pânico por aqui.


Não, a crise ainda não chegou no Brasil, ainda estamos na Fase 3 e mesmo se crescermos 0% este ano, o que ninguém prevê, toda empresa irá vender a mesma coisa no ano que vem. Sua promoção pode estar em risco, mas não o seu emprego.


Ademais essa crise nada tem a ver, nem terá, com a severidade da crise de 1929, quando 25% dos trabalhadores perderam seus empregos e que durou até 1940 com 14%. Na pior das hipóteses, o desemprego nos Estados Unidos aumentará 3%, mesmo assim só por 24 meses.

Se tivessem líderes administrativos socialmente responsáveis, eles já teriam ido a público garantir que manteriam o nível de emprego de suas empresas nos próximos 12 meses. Hoje, custa mais para se treinar um novo funcionário do que para mantê-lo fazendo algo por 12 meses. (Nota: Hoje, Julho de 2010, 95% das famílias americanas acredita que um dos membros do casal pode perder o emprego - mas isto só se sabe via diretores de RH, não pelo FED.)


Depois que Alan Greenspan e Nouriel Roubini saíram dizendo que a crise era igual à de 1929, todos os americanos pararam de gastar, aumentando sua poupança e prevendo o pior. Ninguém sabe quem serão os 25% de desempregados.



Na crise de 1929, 4.000 bancos quebraram, e a mera referência a 1929 como fizeram Greenspan e Roubini, leva pessoas leigas a correr para os bancos, o que aconteceu agora na Europa.


O Brasil não está alavancado. Nossos créditos diretos ao consumidor não passam de 36% do PIB, e devem crescer para 40% no ano que vem. Os Estados Unidos estão alavancados em 160% do PIB e é esta desalavancagem súbita que está causando problemas."



Caça Aos Culpados e Prisão dos Inocentes


Agora estamos na Fase 6 da caça aos culpados. A economista Eliana Cardoso publica interessante artigo escolhendo 21 livros que apontam os culpados.


"How Markets Fail", culpa a ideia utópica liberal que indivíduos (não) sabem perseguir o seu proprio interesse.


"Myth of The Rational Market", culpa a ideia fracassada que o mercado é racional e eficiente.

"13 Bankers", culpa os bancos.


"Capitalism 4.0" culpa o capitaismo.


"The Greatest Trade", culpa Henry Paulson, meu colega administrador de Harvard e Secretário do Tesouro.


Além dos suspeitos de sempre, a ganância, os administradores de fundos de hedge, os auditores das Ratings, os executivos de bancos e seus bônus. Nenhum menciona os subsídios Keynesianos para a compra da casa própria, o Mortgage Interest Deduction, estimados em US$ 6 trilhões de dólares, quase metade da dívida imobiliária.



Ninguém quer perder esta boquinha, porque interesses próprios estão em jogo.


Dependendo da sua faixa de Imposto de Renda, o governo americano irá pagar entre 60% a 84% da sua casa própria. Com uma entrada de 10%, o risco do banco é de somente 6%. Repito, 6%! Você emprestaria, sem olhar muito a situação financeira do comprador, sabendo que o Governo pagará 84% e você já tem nas mãos 10%?


Nos Estados Unidos, dívidas não são corrigidas por correção monetária o que significa que todo ano fica 3% mais fácil pagar uma dívida. Portanto, ao contrário de tudo que foi publicado, dívidas imobiliárias eram de pequeno risco para o Banco, 60% ou mais pagas pelo governo, com juros reais de 1% ao ano ou até negativos na era Greenspan, e decrescentes ao longo da vida.


Mas os verdadeiros culpados disto tudo não divulgam a verdade.


Vocês acham que isto é ganância excessiva? Ou generosidade excessiva dos neo-keynesianos e dos monetaristas ao estimular a economia e ao maior endividamento familiar na história da humanidade?

Eu conheço um médico "ganancioso" que cobra R$ 1.200,00 a consulta. Sua clínica está vazia. Todo mundo pode ser ganancioso, mas não adianta nada se não há competência.


Eu conheço outro médico que cobra R$ 1.000,00, mas ele cobra isto porque sua clínica está abarrotada de clientes.


Então a pergunta é: Por que nos Estados Unidos é tão fácil vender "dívidas imobiliárias"?


Dívidas para mim são como uma injeção na testa, é para serem evitadas.


Como os bancos podem ganhar tanto dinheiro, se alavancar tanto, dar generosos bônus, vendendo dívidas que a rigor ninguém quer?


Devido ao generoso estímulo fiscal neo-keynesiano, sobre o qual curiosamente ninguém escreveu nem comenta. A verdadeira "verdade inconveniente", que historiadores jamais saberão.

Escrevi na época outra previsão profética.


Lembre-se que os verdadeiros culpados já estão se movimentando para culpar os inocentes, e assim saírem incólumes e mais poderosos.


Obviamente, os verdadeiros culpados foram os primeiros a perceber a encrenca, justamente os que a causaram. E como todo ser humano, se preparam, e muito bem, para culpar os outros, e acharem um bode expiátorio.


Nossa primeira reação na vida é culpar os outros pelos nossos erros, e nas empresas esta reação é ainda maior, devido ao medo de perder o emprego.


Então, como achar os verdadeiros culpados? Como impedir que os inocentes sejam crucificados em praça pública, como já está ocorrendo?


Esta é a verdadeira função da imprensa, e a resposta é relativamente fácil de se encontrar.


By Stephen Kanitz