terça-feira, 27 de julho de 2010

Calma e Privacy



A fuga de petróleo no Golfo do México?
Podem ficar descansados, a fuga continua na boa.

A BP afirma que esta semana irá "sufocar" o poço com cimento e puf!, a fuga já não existirá. Naturalmente se o cimento funcionar.

E se não funcionasse? Não há crise: a BP pode sempre inventar algo de novo. Ou, no limite, é só esperar: cedo ou tarde o petróleo irá acabar. Poucas décadas ou centenas de anos e a BP poderá finalmente afirmar de ter a situação controlada.

Lembrem: depressa e bem não faz ninguém.

Uma vez acabada a fuga no Golfo do México, a British Petroleum, com as outras nobres companhias, poderão dedicar-se a poluir com toda a tranquilidade outras zonas do globo.

Porque entre as consequências do acidente da Deepwater Horizon há também uma maior atenção acerca das atividades sujas (no sentido literal) das companhias petrolíferas em outros Países.
O que, admitimos, é bastante aborrecido. Experimentem poluir, destruir o ambiente, provocar doenças enquanto todos apontam o dedo e gritam "assassino". Não é fácil, certos trabalhos requerem calma em um mínimo de privacy.

A Nigéria, por exemplo.

Ninguém ligava e agora, de repente, todos a ver o que se passa com os poços e as pipelines do País africano. Não é assim que se faz.

Vamos ler o que diz Aldo Piombino no seu óptimo blog
Scienzeedintorni:

Além do desastre no Golfo do México: a situação alarmante da Nigéria

Há meses que o mundo inteiro está a observar o Golfo do México por causa do acidente da Deepwater Horizon. Eu também queria escrever alguns posts sobre isso, mas ainda não o fiz e agora prefiro escrever uma notícia um pouco "alternativa" a esta, embora muito relacionada.

Não nego as dramáticas consequências ambientais do acidente, mas tal como aconteceu com o furacão Katrina (que é discutido desde 2005), estas catástrofes que têm ocorrido nos Estados Unidos obscurecem outras situações semelhantes: a propósito de furacões, desde 2005 as Caraíbas foram atingidas por tempestades que causaram destruição e milhares de mortes.

E a propósito de petróleo, provavelmente só uns poucos conhecem a trágica situação atualmente vivida pelo Delta do Níger.

Da Nigéria ouvimos muitas vezes falar sobre os sequestros de profissionais que trabalham na extração de petróleo e as duras lutas entre muçulmanos e cristãos. Às vezes, nas páginas dos jornais, aparece a notícia duma explosão de pipeline (devido principalmente às pessoas que tentam roubar o petróleo, como em Egba Abul, um bairro de Lagos, onde pelo menos 269 pessoas morreram em 2006). O alarme acerca do qual quero falar é mesmo acerca o preocupante nível dos derrames de petróleo no Delta do Níger a cada ano.

Além de ser presidente da secção nigeriana da organização "
Friends of the Earth International", a única ONG ambientalista com a qual basicamente concordo, Nnimmo Bassey é um dos 30 "heróis do ambiente" da revista Time, em 2009.

Há dezenas de anos que os Nigerianos vivem com os mesmos problemas que hoje afligem a costa da Louisiana: o petróleo flui através dos campos, matas e lagoas do Delta do Níger, onde as empresas ocidentais obtêm o petróleo, provavelmente sem usar as atenções que iriam usar em casa deles.

Em 2006 Friends of the Earth International e o governo nigeriano produziram um relatório no qual estima-se que, desde 1958, quando começaram as primeiras extrações, a cada ano no delta é despejada uma quantidade igual ao derramamento de petróleo da Exxon Valdez, cerca de 275 mil barris, mais ou menos o volume mensal que sai da perfuração da Deepwater Horizon. Somente entre 1970 e 2000, houve 7.000 (!) acidentes com um total de 9 milhões de barris de petróleo. Notamos também como a área é habitada por milhões de pessoas

Assim, enquanto a opinião pública ocidental é cada dia (com razão!) bombardeada com notícias sobre a situação no Golfo do México, ninguém conhece os problemas que a extração de petróleo provoca na Nigéria, um dos 10 maiores produtores de petróleo do mundo .

Nnimmo Bassey afirma nas páginas do jornal Inglês The Observer, que

na Nigéria, as companhias de petróleo ignoram completamente as próprias fugas, destruindo o meio ambiente e causando sérios danos à saúde da população. O incidente do Golfo é uma metáfora do que acontece diariamente nos campos de petróleo da Nigéria e de outras partes da África.

Todos estes crimes são causados por empresas conhecidas, como BP, Shell e Exxon Mobile, acusadas de operar com equipamentos antigos e inseguros. As organizações ambientalistas falam pelo menos de dois mil locais para serem recuperados (para não mencionar a situação da água) numa área onde vivem mais de 20 milhões de pessoas que, apesar dos lucros obtidos ao longo dos anos por várias empresas e vários governos, no meio de toda esta riqueza vivem em média com menos de um Dólar por dia.

A defesa das empresas petrolíferas fornecer uma realidade completamente diferente, atribuindo os derrames aos atos de vandalismo ou de terrorismo e afirma que são tratados de forma tempestiva.


Por exemplo, a Shell declara, mais uma vez ao The Observer, que só em 2009 substituiu mais de 300 km de gasodutos e que têm uma equipe especializada que atua de forma eficaz, "usando todos os sistemas conhecidos para a limpeza, inclusive os de bactérias" e sem perguntar acerca da causa do derrame.
Mas nesta altura, por causa da situação no Golfo do México, a imagem das companhias petrolíferas em geral é um pouco "desfocada" e muitos não acreditam nessas palavras, especialmente quando se referem aos Países pobres e aos governos geralmente servos das multinacional .

A propósito, eis o que declara ao mesmo jornal Judith Kimerling, professora de ciência política da City University of New York

derramamentos, vazamentos e fugas ocorrem nos campos de petróleo de todo o mundo e parece que ninguém se importa. O incidente no Golfo do México mostra que as empresas petrolíferas estão fora de controle e, de facto, influenciam a política dos EUA e de outros Países também, bloqueando qualquer instrumento no assunto. Na Nigéria, sempre viveram acima da lei e são agora claramente um perigo para o planeta.


É claro que aqui há duas versões muito diferentes sobre o mesmo problema. Relatei os dois, e todos podem tirar as próprias conclusões.


Fonte: Scienzeedintorni
Traduzido, comentado e editado por: Informação Incorrecta