Enrique LaColla é escritor, jornalista e professor. Desde 1962 até 1975 membro dos Serviços de Radiodifusão da Universidade Nacional de Cordoba, Argentina.
Entre 1975 e 2000 foi membro da equipe de La Voz del Interior, onde continuou a trabalhar assiduamente até Abril de 2008.
Foi galardoado em 2005 com o Prémio Consagración Letras de Córdoba, a mais alta distinção concedida pela Província ao mérito literário.
No próprio blog, Perspectivas, reflete acerca do relacionamento entre Estados Unidos e América Central e do Sul. São reflexões amargas e preocupadas.
O Calcanhar de Ferro
O título do belo romance de Jack London é cada vez mais atual, num presente marcado pela recusa dos EUA em aceitar os limites do próprio poder e da sua avançada na realização da dominação global.
Com isso em mente devemos olhar para a divisão entre Colômbia e Venezuela e as vicissitudes da atual política latino-americana.
Os EUA reforçam a própria presença militar no Médio Oriente; rumores relacionados com o fato de que a Arábia Saudita permite a passagem de aviões israelitas sobre o seu território com a missão de bombardear o Irã; os membros permanentes do Conselho de Segurança, apertando as linha e concordam sobre a necessidade de reforçar as sanções contra esse último País; Henry Kissinger desaconselha de acompanhar a linha anunciada pelo presidente Obama para retirar tropas do Afeganistão no prazo de doze meses.
Planejar uma tal coisa, de acordo com o ex-secretário de Estado, significa a criação de um dispositivo para a derrota, uma vez que, para atingir os objetivos da aliança ocidental na área, o público deve estar preparado para enfrentar uma longa guerra. Mais palavras, menos palavras, o próprio conceito de "guerra infinita" preconizada por George W. Bush. Em última análise, trata-se de criar num contexto "previsível" uma situação de crise generalizada do sistema capitalista, contexto que assegure o controle das fontes de energia e uma implantação militar agressiva contra os poderes que poderiam ser transformados em elementos para compensar o poder militar e o controle dos mercados do Ocidente: a Rússia e, principalmente, China.
São dados preocupantes que falam da crescente instabilidade de um mundo atravessado pelos ventos da crise econômica e pelo dinamismo militar dos EUA. Os desastres previstos com este curso no futuro não parecem relevantes para quem planeja ou para os economistas, preocupados em manter o status quo, mesmo que para isso seja necessário apertar o torniquete duma situação já saturada de vapores explosivos .
Neste quadro obscuro encaixa-se outro elemento que nos toca de perto porque confirma a constatação de que os Estados Unidos voltaram a atacar a América Central e do Sul. A autorização que o Congresso e o Governo da Costa Rica têm entregue a Washington para usar o País como um espaço aberto para a implantação substancial dos militares norte-americanos, é mais um dado que confirma a decisão do Pentágono em consolidar a sua posição no istmo da América Central e nas zonas circundantes. Isto implica que os States tencionam voltar a acompanhar ativamente a situação na parte sul do Hemisfério Ocidental. Recentemente, por causa dos compromissos em outras partes do mundo, os EUA tinha deixado um pouco de lado essa linha, mas agora o movimento do centro-esquerda, que surgiram no subcontinente durante este tempo, pode começar a enfrentar dificuldades ainda maiores do que as enfrentadas no passado.
Nem o Departamento de Estado nem o Pentágono, nem a CIA foram capazes de engolir esses governos, embora ao longo dum certo período tivessem sido mais conciliantes. É sabido que a Casa Branca reserva sempre uma grande atenção às sugestões que vêm dos serviços da diplomacia, intelligence e poder militar. Agora há a sensação de que chegou o momento para Washington começar a "pôr ordem" nesta parte do mundo, com veemência particular nas Caraíbas. Porque, se o que está em preparação no Médio Oriente finalmente acontecesse, ou até transformar-se em algo de ainda maior, seria conveniente para Washington poder confiar numa retaguarda "tranquilizada", ou pelo menos em condições susceptíveis de ser forçada a obediência com ameaças ou com uso da força militar.
Nestas bandas não haverá tumultos em massa, mas algumas das mais duras áreas do establishment político-militar norte-americano preferem a subordinação automática aos pedidos de diálogo entre Estados soberanos. Em Washington, já não era vista bem (Hillary Clinton dixit) a manobra brilhante de Lula para propor-se como mediador no conflito com o Irã.
Mas voltando ao assunto principal, a mão pesada do império faz-se sentir. A reativação da Quarta Frota, o golpe em Honduras, as sete ou mais bases dos EUA hospedadas na Colômbia de Uribe, as manobras contra Chávez, a zona franca que a Costa Rica cedeu ao Exército dos Estados Unidos, são os sinais muito eloquentes. Neste caso,segundo Atilio Borón, dezenas de navios de guerra com equipamentos e helicópteros, além de cerca de 7.000 fuzileiros navais, estão agora começando a desembarcar ou a transitar livremente neste País latino-americano, com a paz extrema resultantes da aceitação do Costa Rica do direito de extraterritorialidade em matéria judicial, que irá beneficiar os hospedes da América do Norte.
A razão dada para esta como para a implementação de forças maiores, é a luta contra os cartéis da droga. Ridícula desculpa, pois nesse caso não prestam nem os aviões, nem os tanques, nem os milhares de soldados para realizar um trabalho que pode ser tratado pelas forças especiais. O objetivo, todos sabemos, é nada mais do que militarizar a região latino-americana para garantir o controle total da área. A América Latina já está dividida entre Países e governos cheios de pretensões que apontam para uma autonomia regional integrada, como Argentina, Brasil e Venezuela, e outros, incluindo Colômbia, Peru, Panamá, Chile, México, Honduras e Costa Rica, que reafirmam os laços com os Estados Unidos.
Temos de lidar com este cenário e preparar, mentalmente e na prática, para resistir ao mau tempo que vai durar certamente mais dum inverno.
terça-feira, 27 de Julho de 2010
Fontes: Eurasia, Perspectivas
Tradução, Edição e Comentários: Informação Incorrecta