sábado, 14 de setembro de 2013

Os xeiques em viagens de negócios, na maior correria

13/9/2013, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido no Bar da Pregassorta na Vila Vudu: É impressionante. Ninguém, até agora, em tooooooda a “imprensa” do Brasil, com tantos e tantos e tais “especialistas” e demétriosmagnollis & coisa e tal e tooooooooda a USP inteirinha, além dos williamswacks e dos boriskassois & zivisgvelders & sionistas adjuntos, conseguiram sequer começar a perceber a EXTENSÃO da derrota do governo Obama e do “ocidente”; nem – e muuuuuuito menos – a importância de a Síria e o Irã não se terem deixado destruir pelos EUA. “Resistência”, teu nome é Síria e Irã e Hezbollah. É impressionante. Im-pres-si-o-nan-te. A esquerda mundial, se não morreu, está desmaiada (de cagaço ou de espanto, sabe-se lá!).

Lembrei com nostalgia uma canção que andou nas paradas de sucesso de música country nos EUA nos anos 70s, East Bound and Down [ap. “Rumo leste e pé na tábua”] – escrita para o filme “Agarra-me se puderes” [orig. Smokey and the Bandit, 1977]. Vídeo a seguir:


Caso estejam ocupados demais para assistir ao YouTube, anoto aqui alguns versos da canção: “Rumo leste e pé na tábua, carregar [o caminhão] e cair na estrada/Faremos o que eles dizem que é impossível./O tempo é a curto e a estrada é longa./Para o leste! E o xerife que coma poeira”. [1]

É bom resumo do que deve andar na cabeça hoje atribulada dos xeiques do Golfo Árabe, obrigados a aceitar o silêncio boquiaberto e catatônico do presidente Obama e o cavalo-de-pau que deu na tal de “ação limitada” contra a Síria. O Washington Post publica hoje matéria interessante, de Beirute.

Evidentemente, a mudança de regime na Síria é questão existencial para as monarquias sunitas no Golfo Pérsico, que sabem que, se Bashar Al-Assad permanecer no poder é altamente provável que, mais dia menos dia, ele os fará experimentar as vinhas da ira, por terem destruído seu belo país – sobretudo o rei Abdullah da Arábia Saudita, que humilhou a Síria publicamente, até agora ainda sem resposta.

O colapso do projeto de mudança de regime na Síria será gravíssima derrota para a Arábia Saudita, com toda a estratégia construída para toda aquela região à base da divisão sectária já começando a ruir, e ante a imperiosa urgência de terem de recomeçar do zero, se recomeçarem, dessa vez contra o Irã.

Ali Shamkhani
Mas, sim, o Irã ajudará a Arábia Saudita a mudar de barco, como Riad percebeu, com a recente indicação do Vice-Almirante, Ali Shamkhani ao posto de representante do Supremo Líder no Conselho Supremo de Segurança Nacional. Para não esquecer: há apenas dez anos, Shamkhani foi condecorado, precisamente pelo rei Abdullah, por serviços prestados na promoção de boas relações entre o Irã e os sauditas. O almirante, dedicado amante da paz, servia então como Ministro da Defesa no gabinete do presidente Khatami, serviço que exerceu com notável facilidade durante oito longos anos sem interrupção.

Já que falamos disso, observam-se mudanças interessantes de alinhamento dentro da estrutura de poder no Irã. Ainda não se conhece o novo papel que caberá ao Conselho Supremo de Segurança Nacional na formulação das políticas iranianas.

Mas a matéria do Washington Post é excessivamente unilinear. Os persas e os xeiques sunitas vivem às turras, mas podem remendar – sem qualquer ajuda externa – as feridas que se inflijam mutuamente.

Há sobejas razões para preocupação, entre os xeiques. Por outro lado, até onde podem ir, para saltar fora da órbita de influência do ocidente? Tanto quanto consigo pensar, o fator mais importante são os invisíveis fios de nylon que atam os xeiques ao sistema financeiro ocidental. Os xeiques estão comprometidos demais. Demais. Além disso, não sobrevivem sem o guarda-chuva de segurança dos EUA.

Tudo isso considerado, é muito parecido, sim, com os versinhos de Smokey and the Bandit. Os xeiques já partiram rumo leste, e na maior correria.

O príncipe coroado Mohammed bin Zayed Al Nahyan dos EAU e Vladimir Putin
O príncipe coroado dos Emirados Árabes Unidos, Al-Nahyan, estava em Moscou na 5ª-feira, trabalhando para construir “uma nova ponte” nas relações. Foi recebido pelo presidente Vladimir Putin como “amigo antigo e confiável” – apesar de os Emirados Árabes Unidos estarem apoiando os rebeldes sírios. 

Na 2ª-feira, chega a Moscou o Ministro das Relações Exteriores do Egito Nabil Fahmiem visita de trabalho; logo no primeiro dia, quando Sergey Lavrov estará acabando de chegar de volta da maratona com o secretário de Estado Kerry, em Genebra.

Mas o que mais chama a atenção, é a visita de Estado que o rei do Bahrain, Hamad Bin Isa Al-Khalifa faz à China no fim de semana, e que coincide em parte com outra visita de Estado de governante árabe, o rei da Jordânia, Abdullah I Bin Al Hussein.

As duas visitas coincidem com a cerimônia de abertura da Exposição China-Estados Árabes de 2013, em Yinchuan, no domingo, à qual estará presente um membro do Politburo chinês, Yu Zhengsheng, Presidente da Comissão Nacional do Comitê Central do Partido Comunista da Chinês e que, para alguns, é um dos nomes a ser acompanhados como futuro alto governante da China.
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Nota dos tradutores
[1] Orig. East bound and down, loaded up and truckin’, / We’re gonna do what they say can’t de done. / We’ve got a long way to go and a short time to get there. / I’m east bound, just watch ol’ “Bandit” run.
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[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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