Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Laurent Fabius (França) e Sergey Lavrov (Rússia) encontraram-se ontem (16/9/2013) em Moscou, na residencia oficial do Ministro de Relações Exteriores russo |
O
ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, explicou a posição da Rússia
para o futuro documento, depois de encontrar-se com o ministro francês Laurent
Fabius em Moscou.
A
resolução, Lavrov repetiu, visa apenas a afirmar o apoio do Conselho de
Segurança da ONU ao plano já construído para destruir os estoques e armas
químicas, a ser assinado na Organização para a Proibição de Armas Químicas
[orig. Organization for the Prohibition of Chemical Weapons (OPCW)].
A
resolução também demarcará algumas medidas que escapam ao âmbito da OPCW, especialmente as providências
para garantir a segurança dos inspetores da organização, que supervisionarão o
processo em solo, na Síria. Mas a resolução não incluirá qualquer
referência ao cap. 7º da Carta da ONU, que dá ao Conselho de Segurança a
possibilidade de ordenar o uso de força militar para restaurar a paz.
Como
disse Lavrov:
A
resolução do Conselho de Segurança, que aprovará a decisão do conselho executivo
da OPCW nada tem a ver com o capítulo 7º. Dissemos
já claramente em Genebra, e o documento que aprovamos não contém nenhuma palavra
sobre o capítulo 7º.
A
Rússia construiu um acordo pelo qual o governo sírio concordou em abrir mão de
seus arsenais químicos, para reduzir as tensões que aumentaram muito depois que
houve um ataque com gás sarin, dia 21 de agosto. O acordo, aceito também pelos
EUA, impõe um freio aos planos dos norte-americanos, que se preparavam para usar
força militar contra os sírios, a pretexto daquele ataque, que Washington
insiste em atribuir a Damasco.
John Kerry |
O
ministro russo explicou que o Conselho de Segurança monitorará a missão dos
inspetores da OPCW em missão na Síria e que o próprio Conselho
pode agir, caso haja provas concretas de que qualquer dos lados esteja tentando
minar o processo.
Mas
essas ações serão consideradas à parte, pelo Conselho de Segurança. Não há
nenhuma ação já prevista no acordo –
explicou Lavrov.
Lavrov
disse que
O
Conselho de Segurança examinará cada relatório dos inspetores da OPCW em missão na Síria, para confirmar a verdade
dos fatos, caso a caso, e o mais rapidamente possível. Temos de assegurar que os
relatórios não sejam usados para finalidades de provocação. Já houve provocações
demais nos últimos dois anos e todas as provocações visavam a conseguir meios
para uma intervenção estrangeira. Se houver prova convincente de violação do que
nosso acordo prevê, o Conselho de Segurança terá de tomar medidas contra os
violadores, evidentemente.
Essa
futura resolução sobre o desmonte do arsenal químico sírio será um importante
teste para o Conselho de Segurança da ONU, disse Lavrov:
É
claro que podemos recorrer ao capítulo 7º se houver prova de que o regime ou a
oposição usaram armas químicas e trabalharam para aumentar as tensões e as
emoções, o que é inadmissível em disputas graves, que exigem decisões tomadas
com seriedade. E haverá profissionais capazes de avaliar imparcialmente e
extensivamente qualquer informação e de reportá-la ao Conselho de
Segurança.
Rússia
espera que o Ocidente não estimule a oposição armada: “Cabe aos sírios decidir
os termos da transição”
Os
ministros da Rússia e da França disseram que concordam que o principal objetivo
da comunidade internacional agora é a grande conferência internacional em
Genebra, que finalmente traçará a solução política da crise e estabelecerá um
governo de transição na Síria.
Lavrov
disse que Moscou está pronta para marcar a data dessa conferência, porque o
governo sírio já aceitou participar e já nomeou sua delegação. Só a oposição
síria é que ainda se nega a participar de Genebra-2.
A
chamada Coalizão Nacional de forças da oposição síria opôs-se declaradamente ao
plano russo-americano para destruir as armas químicas sírias... porque ainda
esperam que o problema possa ser resolvido por intervenção militar estrangeira.
Estão desapontados, agora que o plano de intervenção militar falhou e a questão
afinal está posta em termos estritamente diplomáticos e jurídicos” – disse
Lavrov.
Lavrov
pediu aos apoiadores ocidentais ainda alinhados à oposição síria, que tenham
alguma influência sobre eles, para que usem essa influência e consigam que a
oposição participe da conferência de paz. Lembrou que declarações de alguns
parceiros da Rússia, sobre personalidades do governo sírio, mais atrapalham que
ajudam, no trabalho de construir a paz:
Declarações
muito divulgadas, que se ouvem em algumas capitais, inclusive em Washington e
países europeus e do Oriente Médio, que dizem que Assad seria criminoso e que
não haveria outro lugar para ele se não no Tribunal de Haia, só fazem fortalecer
a oposição que se recusa ao diálogo e não representa o povo sírio.
Pouco
antes, na 2ª-feira, Kerry repetira que não haveria lugar para Bashar Assad num
futuro governo sírio, ao sair de reunião com Fabius e o secretário Hague, de
Relações Exteriores da Grã-Bretanha. Kerry disse que Washington espera que a
deposição de Assad seja parte de uma futura resolução política a ser tomada em
Genebra. A Rússia entende que cabe aos sírios decidir os termos da transição.
O
relatório da ONU recomenda contenção
Lavrov
e Fabiaus reuniram-se um dia depois que a ONU divulgou um relatório sobre o
incidente de 21/8, que confirma que foram usadas armas químicas naquele dia. Os
inspetores que assinam o relatório não foram autorizados a indicar a identidade
de qualquer suspeito, e o relatório está recebendo diferentes interpretações.
A
posição da Rússia é que as provas coletadas não são conclusivas e que o
relatório tem de ser considerado à luz de outras informações, inclusive
depoimentos de testemunhas e informes recolhidos pela inteligência russa, que
indicam que os ataques foram executados por grupos chamados “rebeldes”. Segundo
Lavrov:
Já
encaminhamos algumas perguntas na reunião do Conselho de Segurança que houve
depois da divulgação do relatório. O relatório nada explica sobre como foram
produzidas as armas químicas usadas no ataque: não diz sequer se são produtos
químicos feitos por processo industrial, ou se foram preparados domesticamente.
O relatório não responde outras de nossas perguntas. Portanto, é documento que
ainda terá de ser cuidadosamente analisado, ao lado de outras evidências já
recolhidas e acessíveis, inclusive, online e na imprensa mundial.
Lavrov
explicou que Moscou tem sólidas razões para continuar tratando o incidente como
provocação tentada pelos “rebeldes”, com o objetivo de atrair forças militares
dos EUA diretamente para dentro do conflito sírio, em apoio aos seus grupos.
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