terça-feira, 3 de setembro de 2013

Síria: “A charada dos Troodos”

Foi Israel! Foi Israel mais uma vez!

31/8/2013, [*] Craig Murray,
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


A charada dos Troodos está decifrada: Troodos não interceptou coisa alguma, pela suficiente razão de que aquele telefonema não existe: o Mossad inventou. A “prova” que John Kerry exibiu é o mais sujo dos truques. E mais crianças poderão agora ser explodidas em pedaços por ataque massivo dos mísseis dos EUA. Nada disso tem qualquer coisa a ver com intervenção humanitária. É só, mais uma vez, os EUA agindo como cambonos de Israel.

Posto de ciberespionagem da Inglaterra/EUA nos Montes Troods em Chipre
O posto de escuta da inteligência britânica nos Montes Troodos em Chipre é, pode-se dizer, a instalação britânica mais importante, mais valiosa e mais efetiva, que fornece inteligência aos EUA, na parceria EUA/Inglaterra. As agências de interceptação de comunicação – a britânica GCHQ e a NSA - Agência de Segurança Nacional dos EUA – partilham entre elas toda a inteligência que obtêm (como a CIA e o MI6). A Agência Nacional de Segurança dos EUA valoriza enormemente a contribuição que recebe de Toodos. Ali se monitora todo o tráfego por rádio, satélite e micro-ondas de todo o Oriente Médio, do Egito e Leste da Líbia até o Cáucaso. E praticamente todo o tráfego telefônico nessa região do mundo feito por micro-ondas é, em alguns momentos, também recebido em Troodos.

Troodos é base excepcionalmente efetiva – a joia da coroa da inteligência britânica. A capacidade e eficiência, além do alcance vastíssimo são, sim, impressionantes. Os EUA não têm nada instalado no Oriente Médio que se compare à Troodos.

Devo dizer que estive lá, visitei todas as instalações e fui informado sobre capacidades e operação, quando comandava o serviço britânico em Chipre, no início dos anos 1990s.  Tudo isso são fatos, nenhuma especulação.

John Kerry
Portanto, é muito esquisito, para dizer o mínimo, o que John Kerry anda dizendo, que teria tido acesso a comunicações interceptadas, de militares e autoridades do governo sírio, que estariam organizando ataques com armas químicas, se essa informação interceptada jamais chegou ao conhecimento da Comissão Conjunta da Inteligência Britânica.

Por um lado, a explicação é simples. A prova interceptada foi oferecida aos EUA pelo Mossad – como já fui informado por minhas fontes, muito bem localizadas dentro da comunidade de inteligência de Washington. Informação recebida de terceiros não é automaticamente distribuída para a inteligência britânica – e Israel prescreve que não seja.

Mas a questão da qual ninguém conseguirá escapar é a seguinte: o Mossad não tem instalações de captação sequer comparáveis às instalações britânicas em Troodos. Se tivesse existido a tal conversa telefônica, ela teria sido necessariamente capturada em Troodos – e teria sido imediatamente distribuída dali, dada a importância crucial daquela informação.

É absolutamente impossível que aquela comunicação não tivesse sido capturada em Troodos... e só tivesse sido capturada pelo Mossad. A única possibilidade seria que se tratasse de conversação feita por telefone “comum”, não protegido, de fiação aérea: é praticamente impossível, por várias razões, a mais óbvia das quais é que já não há fiação operante naquela área, nem aquele nível de comando a usaria para esse tipo de contato.

Israel, via MOSSAD, sempre comandando os governos(?) dos EUA
Israel inúmeras vezes já se envolveu na guerra civil síria, com inúmeros ataques ilegais à bombas e mísseis, há vários meses. Essa atividade absolutamente ilegal dos israelenses – que já matou muitos civis, inclusive crianças – tem levado a condenações eloquentes e repetidas, em todo o ocidente.

O que aconteceu agora é simples: Israel ofereceu “inteligência” aos EUA para “ajudar” os EUA a associarem-se aos bombardeios e ataques de mísseis israelenses contra a Síria.

A charada dos Troodos está decifrada: Troodos não interceptou coisa alguma, pela suficiente razão de que aquele telefonema não existe: o Mossad inventou tudo. A “prova” que John Kerry exibiu é o mais sujo dos truques. E mais crianças poderão agora ser explodidas em pedaços por ataque massivo dos mísseis dos EUA. Nada disso tem qualquer coisa a ver com intervenção humanitária. É só, mais uma vez, os EUA agindo como cambonos de Israel. 
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[*] Craig Murray é autor, radialista e ativista dos direitos humanos. Nasceu em West Runton em outubro de 1958 e foi educado na Sheringham Primary and Paston Grammar. Formou-se na University of Dundee, em 1982, com o título de MA 1ª Classe em História Moderna. De 1982 a 1984, foi Presidente da Dundee University Students Association.
De 1984 a 2004 prestou serviços no Commonwealth Office como membro do Serviço Diplomático do Reino Unido em várias partes do mundo.
Foi embaixador britânico no Uzbequistão desde agosto de 2002 a outubro de 2004 e Reitor da Universidade de Dundee 2007-2010. Em 2005, nas eleições gerais do Reino Unido, assume como sub-secretário de Relações Exteriores britânico na gestão de Jack Straw, como candidato independente, conquistando 2.082 votos.

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