quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SE FICAR O BICHO PEGA, SE CORRER O BICHO COME

Laerte Braga

A estranha lógica das alianças partidárias que refletem apenas a característica de feudo dos principais partidos do Brasil coloca alguns estados no dilema de se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.

É o caso de Minas Gerais, por exemplo.

Não há menos ruim. Hélio Costa e Antônio Anastasia são duas tragédias por qualquer ângulo que se queira tentar enxergá-los.

Ou do Paraná. O dilema Beto Richa versus Osmar Dias é digno de sair correndo e só parar quando não tiver perigo mais, se é que isso é possível.

Já nem falo de Alagoas, onde Collor pontifica e ameaça voltar ao governo do estado, ou o Maranhão, onde Sarney aparece com Roseana.

O desafio de promover reformas políticas (essa palavra reforma hoje é de lascar) capazes de conferir uma espécie de equilíbrio saudável (equilibrar na ponta de uma faca não é saudável) ao processo democrático no Brasil faz parte do roteiro de construção de uma democracia com ampla participação popular.

Passa pelos que vão ser eleitos para o Congresso Nacional.

E soa como se fosse um tiranossauro ressurgindo de escombros dum trem qualquer, um maremoto, um tsunami, coisa assim, à medida que contraria interesses de caciques plantados nos seus respectivos tronos desde 1500, naquele negócio de pai para filho.

“Quando a mentira é universal, a verdade é um ato revolucionário”. A frase é de George Orwell, autor de “1984”, o livro que exibiu nu e cru o “grande irmão”.

Aquele que controla e determina.

Partidos políticos no Brasil só os nanicos, como chamam aos pequenos. Mesmo assim alguns. PCB, PSOL, PCO, PSTU (sem análise de mérito) e um ou outro.

Qualquer que seja o olhar que se lance sobre o futuro do Brasil (evidente que José Arruda Serra é um retrocesso ao estágio de colônia) passa necessariamente pelos movimentos sociais. Pela organização popular. Eleições são instrumentos e como tais têm limitações a avanços efetivos e reais na direção da democracia.

Em Minas se estranha a ausência da militância tanto do PT quanto do PMDB na campanha de Hélio Costa.

Como? O candidato derrotou o próprio PMDB, seu significado, na eleição interna de diretório e executiva. Impôs-se a Lula que o impôs ao PT e ainda arrastou Patrus Ananias para o sacrifício de ser o vice.

Vai para o brejo.

Anastasia, candidato de Aécio, candidato ao Senado pelo PSDB e fervoroso cabo eleitoral de Dilma do PT (o dossiê contra José Arruda Serra foi montado pelo tucano mineiro, por ordem do tucano mineiro), mas Antônio Anastasia, para quem não sabe, foi o inventor do tal fator previdenciário, que desvinculou as aposentadorias e pensões do salário mínimo, exigência do FMI, no governo de FHC.

Como o governo FHC era monitorado de fora, fica fácil entender.

Quer dizer, Minas se lasca já que os dois têm o maior número de intenções de votos e, neste momento, Anastasia começa a abrir vantagem sobre Hélio Costa (Anastasia é outro Eduardo Azeredo, pastel de vento, mas sempre pronto a cair de quatro diante das classes dominantes).

Eu não sei o que passa pela cabeça do senador e candidato ao governo mineiro Hélio Costa. Não sei se ele acha que as eleições vão ser decididas por lembranças dos seus tempos de repórter do FANTÁSTICO, ou por suas ligações com a ditadura militar (foi tradutor de Dan Mitrione, um dos responsáveis pela OPERAÇÃO CONDOR).

Numa das vezes que tentou chegar ao governo do Estado conseguiu ter 49.8% dos votos no primeiro turno e perder o segundo para Eduardo Azeredo que não fala e anda ao mesmo tempo, pois tropeça e cai. Uma proeza, inacreditável.

O erro de lançar o ex-ministro das Comunicações vai permitir aos tucanos mineiros manter por mais quatro anos o governo do Estado. E com uma figura lastimável.

A impressão que tenho é que Hélio Costa, tal e qual José Arruda Serra são obsessivos. Um quer ser governador de Minas nem que tenha que rolar montanha abaixo e outro presidente da República, nem que para isso tenha que vender a alma ao diabo.

Nem um e nem outro vão conseguir, a julgar pelas pesquisas.

E olha que Arruda Serra, tem apoio ostensivo da GLOBO. O grande partido político norte-americano no Brasil e de toda a Mídia “brasileira”.

A grande mentira universal se entendermos a mídia privada em todo o mundo capitalista como instrumento do “grande irmão”.

Tudo grande.

De repente, terminada a votação, a apuração, teremos governadora do Maranhão Roseana SARNEY, de Alagoas Fernando COLLOR, de Minas Antônio Anastasia (amestrado de Aécio e dos grupos econômicos que atuam no Estado), no Paraná ou Beto Richa ou Osmar Dias, tanto faz, são farinha do mesmo saco e outros tantos como Jáder Barbalho no Senado, coisas assim de arrepiar.

E a OPUS DEI (aquela que no livro e no filme O CÓDIGO DA VINCI sai matando tudo mundo) comandando São Paulo a partir de Geraldo Alckmin.

A bênção vem de Edir, o Macedo, por enquanto nos dez por cento ainda. Não seguiu o esquema de Roberto Campos de atualizar o “negócio”, ou seja, vinte por cento.

Como isso é possível?

Uai, no antigo estado do Espírito Santo o governador Paulo Hartung não colocou no mesmo saco água e óleo e conseguiu misturar a despeito do odor fétido? Registre-se que a expressão antigo estado do Espírito Santo é por conta da transformação daquela extinta unidade federativa do Brasil em latifúndio ARACRUZ/VALE/SAMARCO e outros menores.

É só olhar o quadro de alianças políticas no Brasil. Aquela dicotomia de esquerda e direita acabou.

Virou tudo um saco de onde saem caras diferentes, mas iguais.

Impossível? É esperar para ver.

É claro que algumas notícias alvissareiras trazidas pelas pesquisas, a esperança é que se confirmem. César Maia não consegue chegar ao Senado. Tuma sai do Senado.

Roriz deve perder as eleições em Brasília.
Não significa que os feudos estejam sendo derrotados.

Em muitos estados a situação é, de fato, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

De doer.
Olhe, para quem pensa que certas situações, digamos assim, inusitadas ou impensáveis não são reais, em Minas - “ó Minas Gerais” - em Cambuquira, um lugar lindo, existe ou existia uma fábrica de doces em barra. Marmelada, goiabada, pessegada, figada (dura essa palavra) e, tchan tchan tchan...

Miscelânea.

Um quebra dentes embalado numa caixinha de madeira, mistura de tudo e mais rapa do tacho. Danado de gostoso.

O doce. E Cambuquira, lógico.

Essas misturas que andam por aí, algumas são de dar dor de barriga daquelas de não dar tempo.

texto para O Rebate