sábado, 25 de setembro de 2010

... Mas os soldados voltarão para casa.

É o declínio do “império” americano...
24/9/2010, Tom Engelhardt, Asia Times Online
Traduzido pelo coletivo Vila Vudu

Comparem-se as duas estimativas seguintes, do futuro dos EUA.

A mais nova pesquisa feita em conjunto pelo canal NBC News e pelo Wall Street Journal mostrava que 61% dos norte-americanos entrevistados consideravam que “as coisas no país” estão “no caminho errado”; 66% dos entrevistados “não acreditam que a vida dos nossos filhos será melhor que a que vivemos”. (7% “não sabiam” e só 27% responderam que “se sentem confiantes no futuro”. Mas a pergunta que mais interessa não é essa, nem jamais foi vista nos jornais locais, nem nos jornalões de Washington: “Você acha que os EUA entraram em declínio, ou você acha que não, que as coisas voltarão a entrar nos eixos”? 65% dos entrevistados responderam “os EUA entraram em declínio”.

Simultaneamente, o comandante dos EUA no Afeganistão general David Petraeus foi entrevistado semana passada por Martha Raddatz da rede ABC News. Perguntado se a guerra do Afeganistão, depois de quase dez anos de luta, estaria afinal começando a acertar a mão na estratégia de contraguerrilha e prosseguiria por outros nove ou dez anos, Petraeus concordou que estamos ainda no início do processo, que o “relógio” só agora começara a andar, e que devemos ter “expectativas realistas” sobre o que pode acontecer e sobre a duração dos acontecimentos. O “progresso” no Afeganistão, comentou o general, é quase sempre tão lento, que tentar acompanhá-lo pode ser como “ver grama crescer ou tinta secar”.

Não sou dado a jogatinas, mas embarcaria amanhã mesmo para Las Vegas e poria meu dinheiro, contra o general e a favor dos norte-americanos comuns, no que tenha a ver com estimativas sobre o futuro dos EUA. Apostaria na ideia de que os EUA já estão “num processo de declínio” e apostaria também, contra todas as evidências e discursos, em que não haverá soldados norte-americanos no Afeganistão dentro de nove ou dez anos. Arriscaria também a sugestão de que as duas apostas estão intimamente conectadas, e que os norte-americanos comuns entendem mais e melhor o que se passa, num plano muito mais visceral, do que Washington é capaz de ver na real situação dos EUA no mundo. E poria meu dinheiro em mais uma aposta: por ruins que pareçam, as notícias não são todas más notícias; não, se se pensa no longo prazo.

Declínio já! Por que adiar para amanhã o que se pode fazer declinar hoje?

Comecemos com o Afeganistão. Sim, os EUA estivemos “no” ou intimamente envolvidos “com” o Afeganistão, não por apenas uma década, mas por significativos 30 anos. Durante a maior parte desse tempo, os EUA jogaram sobre o Afeganistão parte importante do nosso dinheiro, para produzir lá caos e desgraça, embora em nome de “liberdade”, “libertação”, “reconstrução” e “construção nacional”.

Começamos nos tempos remotos do governo de Ronald Reagan, com a CIA canalizando enormes quantidades de dinheiro e armas moderníssimas para fortalecer a jihad antissoviéticos. Naquele tempo, apoiamos risonhamente as mais violentas táticas de terror, inclusive os carros-bombas e até camelos-bombas em ataques aos soviéticos em cidades afegãs, além de ataques a bomba em cinemas. Foram atos cometidos por islamitas fundamentalistas da pior espécie organizados e armados por funcionários dos EUA, que os chamavam de “combatentes da liberdade” e nunca paravam de elogiá-los.

Foi uma primeira década caríssima, para os EUA, no Afeganistão. Em 1989, quando os russos retiraram-se, derrotados, os EUA partimos, triunfantes. O round seguinte todos conhecemos bem: os EUA voltamos para lá em 2001, armados e famintos de carne humana, carregando malas cheias de dinheiro, e prontos para matar o maior número possível dos mesmos fundamentalistas da pior espécie que nós, os EUA (e nossos aliados paquistaneses) havíamos reunido, financiado e armado nos vinte anos do intervalo entre sairmos e voltarmos para o Afeganistão.

Se, em 1979, alguém dissesse a um grupo de cidadãos “pesquisáveis”, que o país deles estava a poucos anos de envolver-se numa guerra sem fim, na qual se consumiriam centenas de bilhões de dólares; que construiria por lá muitas bases militares, onde os EUA enterrariam somas inacreditáveis de dinheiro (inclusive os pelos menos 27 bilhões que custam aos EUA o treinamento de soldados e policiais afegãos cujo único desejo, com treinamento ou sem, é desertar); que os EUA perderiam muitos soldados (e que os afegãos além de soldados perderiam também muitos civis); e que lá se inventaria a primeira guerra da história guerreada com mísseis-robôs disparados de aviões-robôs... E se se pedisse àqueles cidadãos “pesquisáveis” que identificassem o país onde os EUA fariam tudo isso, nem um, em um milhão de norte-americanos, responderia “o Afeganistão”.

Pois, hoje, o principal general dos EUA (“talvez o maior general de sua geração”) nem pisca, quando diz que os EUA continuaremos enterrados no Afeganistão, pelos próximos nove ou dez anos, fazendo mais de tudo que fizemos até agora e nada de melhor.

Depois de 30 anos, quase parece lógico. Por que não mais dez anos? A resposta é que será preciso ser tão cego quanto Washington, além de surdo e idiota, para ainda não saber por que não por fim àquela guerra, e os norte-americanos não somos nem cegos, nem surdos nem idiotas.

Os norte-americanos sabemos que Washington vive crise de negar a realidade, porque os norte-americanos estamos vivendo na carne o declínio dos EUA, embora Washington não sofra qualquer declínio. Não, pelo menos, até agora. E os norte-americanos sabemos que estamos vivendo o declínio, não como alguma espécie de ameaça que exista no futuro, mas como realidade presente, aqui e agora.

É fato claro, simples realidade: os EUA são potência imperial em declínio – e não se trata do tipo de declínio que atingirá algum dia os filhos e netos de nossos contemporâneos. Falo de desemprego massivo, que não nos leva a lugar algum; e de uma economia que não dá qualquer sinal de que algum dia volte a oferecer os empregos que destruiu, nem que, por milagre, “os bons tempos” renascessem. Falo da infraestrutura velha, que começa a ruir – das pontes em colapso, dos gasodutos que explodem – colapso geral ao qual nenhum remendo cosmético dará remédio.

Além do mais, sejam quais tenham sido as forças históricas subjacentes que nos levaram ao ponto a que chegamos, os George W Bush, Dick Cheney e companhia aceleraram muito fortemente o processo. Os EUA podem agradecer a eles e às suas duas guerras loucas, à ensandecida “guerra ao terror” eterna e para todo o planeta, ao desvario de desencaminhar para o Pentágono e suas guerras praticamente sem qualquer limite, todos os dólares dos contribuintes, no presente e no futuro, e ao esquema de privatizar a guerra, partilhada entre os militares e um pequeno grupo de empresários armados, para não falar na já impressionante transformação, em curso, pela qual um estado no qual a segurança nacional sempre foi obsessão está hoje convertido em estado nacional do medo.

Tudo isso, ao mesmo tempo em que a comunidade financeira converte os EUA num esquema Ponzi gigante (e já hipotecado).

Foi o equivalente de dirigir um carro que já precisava desesperadamente de revisão dos freios, diretamente no rumo do despenhadeiro mais próximo – e o resto, inclusive o colapso econômico de 2008 já é, como dizem eles, história, a história que os norte-americanos estamos padecendo ‘ao vivo’, em tempo real. Que ninguém se esqueça de agradecer ao governo Obama, que não teve pulso para mudar o plano de viagem quando ainda teria sido possível, no mínimo, tentar.

Opinião pública versus opinião das elites

O povo americano jamais foi o problema, nesse processo. Os norte-americanos já viram o filme e já sabem o resultado do jogo. O problema hoje é o general Petraeus, comandante da guerra do Afeganistão. O problema é o secretário de Defesa Robert Gates. O problema é a secretária de Estado Hillary Clinton. O problema é o Conselheiro de Segurança Nacional James Jones. O problema são esses burocratas, militares e civis, que passam por “realistas” e que hoje fazem o management da “presença militar global dos EUA”, de suas bases militares descomunais, de suas guerras, do barulho todo. Esse pessoal vive na Ilha do Cuco Maluco. [1]

Os norte-americanos comuns vivem no mundo real. Veem o que está desabando e, a julgar pelas pesquisas, sabem avaliar com perfeito discernimento e propor com realismo. Jim Lobe do blog Inter Press Service comentou, quando foram divulgados os resultados de uma ampla pesquisa bianual nacional, “Internacionalismo mitigado: adaptação a novas realidades”, feita pelo Chicago Council on Global Affairs (CCGA). Aqui vai o aspecto central do que a pesquisa descobriu, nas palavras de Lobe:

A mais importante lição da pesquisa, porém, é que a opinião pública nos EUA quer ver cada vez mais reduzido o papel de Washington nos assuntos mundiais, sobretudo em conflitos com os quais os EUA não têm qualquer relação direta. Embora 2/3 dos cidadãos ainda creiam que Washington deva ter “participação ativa nos assuntos mundiais”, 49% – a mais alta porcentagem desde que o CCGA incluiu a pergunta em sua pesquisa, em meados dos anos 1970s – concordam com a afirmação de que “os EUA devem tratar só se seus negócios, no plano internacional, e deixar que outros países façam o que decidam fazer, sem intervenção dos EUA”.
“Além disso, 91% dos respondentes concordaram com a ideia de que “o mais importante hoje é os EUA resolverem suas dificuldades internas”, em vez de se concentrarem em “desafios externos” – porcentagem bem superior aos 82% que ofereceram a mesma resposta na mesma pesquisa do CCGA em 2008.”
  
Aqueles 49% não são número isolado. Charles Kupchan e Peter Trubowitz já haviam chamado a atenção, em artigo publicado no jornal International Security, para pesquisa do Instituto Pew, de dezembro de 2009, e para a evidência de que idêntica porcentagem de cidadãos norte-americanos havia declarado que desejavam que “os EUA cuidassem melhor da própria vida”. Foi, como os autores anotaram lá, “a mais alta porcentagem jamais registrada nessa pergunta, superando de longe os 32% registrados em pesquisa de 1972, no auge da oposição à guerra do Vietnã.”

Na mesma direção, a pesquisa do CCGA descobriu que maiorias significativas manifestaram o desejo de que os EUA cooperem com a China, mas sem tentar impedir o crescimento chinês; e que não apóiem Israel, no caso de ataque ao Irã. E maiorias similares optaram por “aliviar o peso da intervenção militar [no mundo], com os EUA reduzindo seu papel de “policiais mundiais”. No caso específico da guerra do Afeganistão, as últimas pesquisas indicam que continua a aumentar o número de norte-americanos que não veem qualquer possibilidade de saída honrosa, para os EUA. São resultados que não sugerem qualquer “isolacionismo” tradicional e apontam para uma política externa mais realista, mais de acordo com um país que não se vê como guardião do planeta nem acalenta sonhos de qualquer hegemonia global.

Pode estar aí um reflexo evidente de que os norte-americanos já se veem como poder imperial em declínio, sob a pressão de duas guerra impopulares. Expliquem-se esses resultados de pesquisa como preferir-se, aí está um conjunto de fato e opiniões que Washington tem-se mostrado incapaz de ver. Qualquer pesquisa do CCGA que se concentrasse só nas opiniões das elites mostraria que os líderes políticos e empresariais nos EUA continuam prisioneiros de um paradigma global já ultrapassado, interessados, exclusivamente, em continuar a despejar centenas de bilhões de dólares no Afeganistão ou onde for, em vez de se interessarem por ouvir o que pensam os cidadãos sobre o papel dos EUA no mundo.

Surtos de rejeição “imperial” autista não bastarão para reverter o declínio

Desde os muitos planos feitos durante e depois da 2ª Guerra Mundial, orientados para o objetivo de os EUA virem a ser poder dominante no mundo do pós-guerra, Washington sempre atuou como se tivesse “responsabilidades” eternas como “líder do mundo livre”. Isso, é claro, antes do colapso da URSS. Depois de 1991, o único serviço que fizeram tanto os jornais como nos gabinetes de Washington foi apresentar os EUA como único “xerife”, único “policial global” ou, na expressão mais freqüente, como “única superpotência”.

Fosse o que fosse que os norte-americanos pensassem sobre “o preço da paz” no pós-Guerra Fria, as elites em Washington atuaram como se soubessem, sem saber. Como num cassino sem lei, as elites norte-americanas dobraram suas apostas, investiram os frutos da vitória em continuar a fazer o que sempre haviam feito – sobretudo em continuar a militarizar e ocupar (com soldados ou com bases militares ‘de apoio’) o Golfo Persa rico em petróleo. Enquanto o petróleo jorrou barato, e os únicos inimigos identificados em termos militares pareceram ser só alguns poucos “estados bandidos” [ing. “rogue states”] sem importância, ou pequenos grupos não-estatais, o surto imperial autista só fez crescer, sem limites.

Imediatamente depois do 11/9 – esse “Pearl Harbor do século 21” –, uma nova leva de eleitos de Washington e a imprensa e os “especialistas” e think-tanks que os cercam viram um planeta “no ponto” para ser invadido e ocupado. Já seduzidos e cooptados pelos militares norte-americanos, cometeram o erro de crer que poder bélico e poder global seriam uma e a mesma coisa, e que os EUA tinham tudo de que precisavam, desses dois poderes, para abocanhar o mundo.

Estavam convencidos de que uma “Pax Americana” no Oriente Médio Expandido estaria ao alcance da mão, desde que agissem com violência e guerra, e nem por um momento duvidaram da capacidade dos EUA para abocanhar também a Rússia – afinal, ainda eram Guerreiros da Guerra Fria – e para, ao mesmo tempo, reduzir à China à sua natural insignificância.

Os discursos daquele momento são memoráveis! Falavam de “fácil como tirar doce de criança” e “guerra soft”, de “choque e horror” fácil e barato, de ataques aéreos “cirúrgicos” e de “missão cumprida”. A piada típica daqueles anos era “Os meninos vão para Bagdá. Os homens, para Teerã.”

E se disseram, fizeram. Estavam prontos. Ou supunham que estivessem. Foi o período inesquecível durante o qual toda a imprensa abraçou orgulhosamente a ideia de “império” ou “império soft”. Jornalistas amigos comparavam os EUA ao império romano, ou britânico. É quase impossível acreditar que faz tão pouco tempo.

A vertiginosa queda de Washington, no que tenha a ver com as glórias do poder norte-americano, é silenciosa, não aparece nos jornais. Como se, hoje, todos eles só esperassem, no máximo, conseguir sobreviver. É mais um sinal evidente de declínio.

Por isso os EUA entraram num período no qual, exceto pelas repetições insanas, delirantes, sobre “a ameaça da al-Qaeda”, já ninguém em Washington preocupa-se com oferecer explicações aos cidadãos – qualquer explicação! – sobre por que os EUA fazem guerra, ainda, em tantos pontos do planeta ou sobre o que significaria, se significasse alguma coisa, a expressão “global”.

Preferem manter o fogo cerrado e administrar a hemorragia. Preferem vazar “notícias” para a imprensa, que publica, por exemplo, que a qualquer momento haverá mudanças na “estratégia para o Afeganistão”. O Washington Post publicou recentemente que “O cálculo da Casa Branca é que a estratégia ainda conta com apoio político e popular suficiente para contrabalançar as objeções de curto prazo. Os estrategistas estimam que, até o próximo ano, não se acumulará qualquer tipo de pressão que exija resultados ou definição mais clara de objetivos...”.

Não que não estejam vendo o declínio. É que preferem pensar que se trata de declínio soft, processo lento, que se estenderá por décadas, alguma coisa como os EUA só alcançarem situação de poder zero, lá pelo ano 2025. Pelas bordas, contudo, já se veem surgir outras avaliações e “soluções” de desespero – como, por exemplo, a ideia de Robert Blackwill, do Conselho de Segurança Nacional de Condoleezza Rice, que já fala em os EUA concentrarem suas tropas no norte do Afeganistão e cederem aos Talibãs toda a região pashtun do sul.

Mais cedo ou mais tarde – e duvido que demore tanto quanto tantos desejam que demore – todos começaremos a ouvir mais vozes, vozes mais próximas do centro de poder, vozes de ansiedade cada dia mais patente, e vozes de medo.

Não acreditem em prazos, nove, dez anos. Não dependerá de escolha e deliberação. Washington vive crise autista de auto-ilusão, mas não tem como resistir. Muito antes do que Washington supõe, a “presença militar global dos EUA” começará a ruir. E queiram ou não queiram, haja ou não haja movimento popular de oposição à guerra, aqueles soldados começarão a voltar para casa, não para uma nação feliz e acolhedora, mas, pelo menos, para casa.

Talvez soe terrível, e no Afeganistão e noutros lugares continuarão a acontecer coisas terríveis, ao mesmo tempo em que, nos EUA, a economia – com sorte – continuará a rastejar e produzir cada dia maior número de miseráveis, a infraestrutura continuará a deteriorar-se e ruir, mais empregos desaparecerão, e as finanças irão de mal a pior. Isso, se já não estivermos chegando ao que Arianna Huffington, em seu novo livro provocativo, chama de “Os EUA do 3º Mundo” [ing. Third World America]. Seja como for, não há boa fama e melhor felicidade no horizonte próximo dos EUA.

Mas, ânimo! Nem todas as notícias são péssimas. Os EUA nos viciamos com a certeza de que seríamos a “nação líder”, de que teríamos de ter “hegemonia planetária”, “a única superpotência”, “número 1 entre as nações”. Convencemo-nos, nós mesmos, de que nem nós nem o mundo poderíamos viver sem nosso “management” especial.

Portanto, agora, a boa notícia. Vai ser ótimo aprendermos a nos ver como um país como outros, talvez maior e mais poderoso que muitos, nesse planeta superpovoado. Vai ser ótimo aprendermos a defender só nossas fronteiras, em vez de, como até hoje, matar e nos deixar matar em guerras distantes e “contraguerrilhas” infindáveis, sempre nos preparando para mais guerras, sempre mais do mesmo.

Vai ser ótimo não termos de viver obcecados em vencer corridas armamentistas, sempre no papel de principal fornecedor de armas para o mundo.

Vai ser ótimo os EUA nos dedicarmos a resolver nossos problemas, tentar algumas soluções novas por aqui mesmo, e conseguir oferecer ao mundo modelos aproveitáveis para um futuro difícil para todos, em vez de nos consumirmos nessa conversa infindável sobre qual seria o “modelo ideal”, ao mesmo tempo em que, em matéria de modelo, só oferecemos o ‘modelo’ do bombardeamento incansável, da tortura e dos “assassinatos seletivos” em terras distantes, crimes dos quais sempre nos safamos vergonhosamente impunes.

Portanto, festejemos o que há para festejar: em breve os soldados estarão voltando para casa. Vai acontecer. Em pouco tempo, os EUA estaremos demitidos do serviço de “policiar” o mundo, do cargo de “xerife global”. Não será um alívio? Poderemos constituir coalizões de iguais, para fazer coisas para o bem global, livres, afinal, de só construirmos “coalizões de orçamentos”, de agentes que vivem de quebrar braços, puxar tapetes e subornar pobres e ricos subornáveis para que aprovem nossas soluções militares.

Dado que, até lá, Washington já terá reduzido os EUA a ruínas, é difícil levantar qualquer brinde ao futuro dos EUA. Mas se pode levantar meio-brinde, pelo menos, pelo fim – senão pelo fim, pelo menos, pelo quase-fim – do mito dos EUA como potência imperial, e pelo fim da desesperadora realidade das infinitas guerras que os EUA semeamos pelo planeta.

Vai acontecer. Podem apostar.

E muito obrigado, George W Bush (jamais supus que algum dia escreveria isso!), por ter dado a esse velho jornalista a chance de ainda colher alguns bons frutos do declínio do “império” americano. Mal posso esperar! Está chegando!

Nota de tradução
[1] Orig. “Cloud Cuckoo Land”; é expressão traduzida e adaptada que se lê numa comédia de Aristófanes, Os pássaros. A expressão foi usada como título de um musical infantil muito premiado em 2008 na Inglaterra e nos EUA [NT].

O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Why the troops are coming home