O trânsito de cocaína da América do Sul para a Europa através dos países costeiros corruptos. Entrevista com o jornalista Christopher Campin .
Barack Obama disse em junho: "o filho do ex- Presidente guineense, Lansana Conte, é um traficante". Assim como os líderes dos cartéis mexicanos e colombianos. Como a África Ocidental, caiu nas mãos dos traficantes de drogas? Por que a Europa demora tanto ao reagir?
À primeira vista, não há nada a fazer, mas contabilizar: em 2010, 39% da cocaína produzida no mundo será consumida na Europa e nos Estados Unidos.
Nesta última década, os cartéis sul-americanos conseguiram inundar o mercado no Velho Continente, baixando preços e aumentando a oferta. Resultado: um grama de cocaína pura está sendo negociado entre 30 e 70 euros. As drogas tornaram-se disponíveis em maior quantidade.
Na África Ocidental, Estados fracos , plataformas ideais para as drogas
Para conseguir essa façanha, foram "fluidificadas" as rotas de trânsito, e essas rotas se multiplicaram. De um esquema clássico - rota direta por transporte marítimo - a logística de cartéis tem evoluído significativamente na África. Mudou para caminhões, barcos, aviões... Por todos os meios disponíveis. Por que a África Ocidental? "Porque os estados são fracos", conforme relata Christophe Champin, jornalista da RFI , autor de uma longa investigação sobre o tráfico de cocaína na África:
"A África Ocidental é agora vista como a plataforma ideal : é próxima da Europa e dos países que são frágeis, com estruturas de repressão deficientes e altos níveis de corrupção. Foi, portanto, muito fácil instalar plataformas de armazenamento e distribuição". ( Veja vídeo )
Diversos países estão na linha de fente, começando com os Estados costeiros :
"Havia apenas Cabo Verde no início de 2000 . Então, a Guiné-Bissau surgiu como uma possibilidade, pois é um país onde o Estado é muito fraco. Uma espécie de zona cinzenta, com um litoral muito interessante, com uma cadeia de ilhas em que existem pistas de pouso improvisadas construídas pelos portugueses durante a guerra de libertação.
Hoje, a elite de Guiné-Bissau - Estado e Forças Armadas - está completamente envolvida no tráfico.
A infraestrutura gerida por "chefetes de bairro"
No coração deste negócio, existe intrincada e interminável rede de "mulas", transportadores que "engolem" cocaína em pequenos sacos de plástico ou carregam a droga em sacolas de fundo duplo. Mais e mais vezes, esses jovens de periferia, vão passar férias na África com viagem paga e por 3000 euros pelo transporte da "carga".
Christophe Champin conta a história de Hassania, moça pobre que foi pega no aeroporto de Bamako ( Mali) na volta para a Europa, com 15 quilos de pó no fundo falso de sua mala. Estas novas redes se multiplicam e difíceis de ser descobertas :
"Esses pequenos traficantes vêem nisso uma oportunidade de ganhar uma bolada e são usados por uma boa quantiodades desses "chefetes de bairro" por não se comportarem como organizações criminosas convencionais.
Esta é a realidade do trecho entre Bamako e Paris, um grupo de jovens, muitas vezes de seus próprios bairros, mas nem sempre, são originários de alguns dos países fornecedores.
É mais fácil ir para um país cuja língua eles falam, onde conhecem o terreno, do que se aventurar ir até a Colômbia onde enfrentariam maiores perigos. Estamos falando de 100-200 kg de cocaína. " ( Veja vídeo )
Como ignorar a corrupção das elites políticas?
Último desafio: como lutar eficazmente contra esta avalanche de cocaína? Para Christophe Champin , a principal dificuldade de "contornar"a corrupção das elites - policial, militar, judicial ou política - desses países. Claramente, é complicado estruturar um combate às drogas centralizado se, por exemplo, a comitiva de um chefe de estado está envolvida com o tráfico :
"A resposta será sempre demorada. Nos países africanos, óbvio, e nos países europeus. Em 2007, uma organização de coordenação da luta contra o tráfico no Oceano Atlântico foi criada: MAOC .
Há uma soma dos recursos marítimos e de informação para realização de operações conjuntas. Existem agentes de ligação mais e mais.
Há também a formação de serviços africanos anti-drogas. Mas nem tudo pode ser feito pelo Ocidente , sabendo que esses traficantes são muito adaptáveis frente à repressão. " ( Veja vídeo )
O exemplo de Ousmane Conté , filho do falecido presidente da Guiné, é enfático. O comandante do Exército reconheceu finalmente, um ano após sua prisão em 2009, seu envolvimento no tráfico de cocaína. Com notoriedade inédita: Barack Obama enviou uma Carta ao Congresso, na qual coloca os traficanes africanos na mesma categoria que os barões dos cartéis sul-americanos.
Foto: Uma patrulha da polícia contra o tráfico de drogas, em um mercado de Timbuktu (Mali) 28 de dezembro de 2009 (Tim Gaynor / Reuters)
► "África Negra , o pó branco " - Champin Christophe , ed. Andre Versaille -RFI - Paris - 2010.
Links:
[1] http://www.rue89.com/entretien
[2] http://www.rue89.com/droguesnews/2009/03/08/les-nouvelles-autoroutes-africaines-de-la-cocaine
[3] http://www.rue89.com/2010/04/14/la-mephedrone-alternative-legale-et-puissante-a-la-cocaine-147283
[4] http://afriquedrogue.over-blog.fr/article-52302243.html
[5] http://blogs.lesinrocks.com/droguesnews/
[6] http://livre.fnac.com/a2809062/Christophe-Champin-Afrique-noire-poudre-blanche?Origin=RUE89_EDITO
Traduzido por CF