*José Flávio Abelha
Não se admirem com este 2010. Ele só está no meio e já tem o seu lugar na história.
Duvidam? Então vejamos o que os seis primeiros meses já aprontaram.
É bom começar pela Copa do Mundo.
Ela encerrou uma geração de craques e não deu atenção aos campeões do mundo. Todos de mãos abanando, chorando, voltando para casa. Do Brasil até a Inglaterra, que dizem ter inventado esse tal de esporte bretão.
Os meninos bonitos, glostorados (vocês sabem o que foi a Glostora? O Aurélio registra) ou, modernamente, com as melenas molhadas do mais puro gel.
Todos para casa sem o dever cumprido.
O maior craque atual, com caneco da FIFA, não se deu ao luxo de fazer um golzinho. Neste particular, dos fracassos, de cair de quatro (no sentido esportivo), a página já foi virada. O palhacinho Maradona teve os seus minutos de fama. E só. Veio do pó e ao pó já voltou. Palavras de porta de cemitério.
Mas não ficou só nisso. Pela primeira vez alguém teve a coragem de dar uma cotovelada no eterno presidente da CBF, aquele gordo cidadão que mais parece com o veterano ator Peter Lorre, já decadente, no fim da vida. E o corajoso torcedor que deu a cotovelada atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, falando naquele seu jeitão brincalhão que OITO ANOS de mandato estava de bom tamanho para o Peter Lorre dos pobres. E a figuraça acusou o golpe e uma boa parte dos jornalistas que nutrem verdadeira antipatia pelo ditadorzinho aplaudiu.
Isso vai dar o que falar. Aguardem.
A FIFA não está saindo incólume do barulho psicológico da vuvuzela.
Já está pensando em modernizar-se, colocar TV para ver se a bola entrou, ou não, no gol. E mais, já pensa em rever os critérios da convocação de juízes.
Ora, meus cinco leitores, não é possível que um juiz do Kifiristão (?) apite um jogo da importância mundial. Revi esta semana o emblemático filme "O Homem que queria ser rei". O filme mostra uma partida de um arremedo de futebol naquelas abas geladas do mundo. A bola não era bem a jabulani, mas a cabeça do inimigo.
E é desses países que a FIFA vai buscar juízes, esses que, no calor da partida, fazem uma idiota ou infantil pergunta ao artilheiro: a bola bateu na sua mão? Isso, depois de confirmar o gol. Qual seria a resposta adequada?
E mais fiascos e acontecimentos inusitados podem ser pinçados, aqui e ali.
A rainha da Espanha foi ao vestiário da seleção cumprimentar o herói e não é que ele a recebeu pelado, somente com uma toalha a lhe cobrir o corpo, da cintura às canelas? Alguém, algum jornalista, alguma autoridade criticou o episódio? NÃO! Ele foi registrado como uma demonstração de democracia. Ah! Se fosse a primeira dama do Brasil...
Mais interessante ainda foi o outro tabu, desmoralizado naquele país. As videntes, cartomantes, jogadores de búzios e conexos devem estar numa deprê que nem quero saber. Um Polvo fez previsões melhores e mais acertadas das que os profissionais desvendadores dos mistérios da futurologia. E Polvo não seria parente da Lula?
Ainda na África a Globo foi desmoralizada pela primeira vez. Perdeu a autoridade. Foi barrada pelo xerife Dunga, o escolhido pelo Peter Lorre dos pobres para organizar uma seleção e lhe obedecer em tudo. Dunga fez o que o genro do João mandou. Barrou imprensa, não deu bola para a exclusividade da Globo, mas cometeu um erro, o de não entrar em campo e jogar pelo perna de pau, glostoradinho Kaká, belezinha da vovó, conforme minha neta Marcelinha o apelidou.
Dunga fez o que queria seu "rei" e não convocou o decadente Ronaldinho Gaúcho, nem o auto-desconvocado Imperador, nem uns garotos que ainda estão engatinhando la nos pampas. Tudo de acordo com o script do Peter Lorre dos pobres. Se Felipão, que barrou o "peixe" mas trouxe o caneco, não o fizesse, seria massacrado e estaria dirigindo um time de várzea.
E o que fez o todo poderoso Peter Lorre dos pobres e com uma dor na costela pela cotovelada do Lula? No outro dia do fracasso do selecionado brasileiro foi ao programa do mais boboca dos narradores, o tal de "cala a boca Galvão", da Globo, naturalmente, e saca do punhal e fere mortalmente o bravo Dunga. Aí já entra no campo da falta de caráter, coisa que não quero entrar. Mas o troco vem. Nem os competentes jornalistas não mais agüentam a caixa preta da CBF, embora com Caixa-D'agua também fosse assim.
Todos os times Cariocas choravam a sua presença nefasta, mas na hora do voto, surgia um Eurico da vida e o Caixa era eleito, perpetuando-se no poder.
Da África, a história vai registrar o fracasso da Copa, com elefantes brancos construídos não se sabe para quê, com uma tal de vuvuzela que enche o saco de qualquer mortal, com dívidas até os cabelos.
Aquele sofrido país vai ser lembrado como uma experiência negativa, podem crer. E a vidinha dos pobres coitados vai continuar na mesma, a AIDS circulando solta, o analfabetismo correndo atrás, o negro pobre sem qualquer ajuda ou perspectiva de ascensão social, salvo aparecer dançando e tocando a nefasta vuvuzela para documentaristas que gostam de mostrar ao mundo branco o exótico de um país desconhecido e, talvez, com o sub solo mais rico do planeta.
Da África, ainda na metade do ano, vejamos o inusitado aqui neste abençoado país.
Vamos ter duas mulheres candidatas à presidência, ambas competentes, com um passado de lutas armadas, tanto Dilma no asfalto quanto Marina nos "empates" na floresta com o bravo Chico Mendes.
Mais atrás vem a velha UDN e os militares de pijama, clamando aos céus pelo anti comunismo, com o José Serra à frente, apoiado pela agremiação política que dava sustentação ao governo dos generais, a ARENA, depois, escondida fajutamente, foi mudando de nome até chegar ao atual DEMO. Porém, os mesmos de sempre, desde 64... Ou antes.
Mas este fato é, por si, corriqueiro. O que o semestre nos apresentou de inusitado foi a pose com que um senador, príncipe da República, numa entrevista convocada, anunciou que aceitava o convite para ser o vice do José Serra. O príncipe, de peruca nova, silicone e cabelos levemente acaju, o que deixa a desejar. Com a voz embargada pela emoção do ato, com caras e bocas, baixo operístico como aqueles locutores que dirigem, nas madrugadas, os programas "hora da saudade", disse solenemente que aceitava o convite como uma determinação do partido, uma tarefa a mais na sua vida pública a que não podia recusar.
Mas, no caminho havia uma pedra, melhor dizendo, havia o peso das clavas fortes das tribos do Mato Grosso, do Araguaia e, porque não dizer, da zona sul do Rio, e ficou o dito pelo não dito. Um Índio foi o escolhido. Se, de um lado a floresta tem uma defensora, que é a Marina, do outro, as chamadas "nações do Xingu" e da zona sul carioca estão bem representadas, pode acontecer do Brasil ter um índio na presidência.
E o senador que aceitou o cargo, como ficou? Não ficou. Diz o Pharol de Alexandria que não sabia de quem se tratava. Serra conversou com ele uma vez, na rua do Rio, por uns cinco minutos. Ninguém conhece a figurinha. E quem poderia exigir tal conhecimento se ele saiu do silêncio das matas. Pombas! Índio é arredio. Pombas! Deixa o Curumim ou Curupira pra lá.
Mas o semestre ficou com essas surpresas? Necas! A imprensa já tem um prato feito para continuar a fazer escorrer sangue nos noticiários, o crime ainda não apurado do Bruno. Mais tarde, depois do material que já circula na Internet, as fichas que surgem a cada dia, até do pai da conhecida atriz (?), algum cineasta vai,com certeza, rodar um filme incomum, aquele cujo enredo não vai ter mocinho, só bandidos. O brasileiro nunca viu um argumento assim. Vai dar bilheteria.
E tem ainda aquele cronista, com enorme barriga, fazendo caras e bocas, metendo o pau no governo, pintando os cabelos, também acaju e, como diria o velho Dorival Caymmi, virando os olhinhos para falar. E pensar que a Globo tem um Chico Anísio na geladeira. Muito mais artista, humorista, inteligente.
O Jô andou tentando um besteirol com as suas "meninas", mas convenhamos, a idade pesa e chamar as madames de "meninas" é um deboche, claro que não chega ao ridículo do gordo entrar no palco com um passinho sinistro, abrindo o paletó e requebrando, balançando a sua barrica, eu disse barrica e não barriga. Mais hilário e não ridículo, só o velho guerreiro, o imortal Chacrinha que jogava até bacalhau na cabeça dos assistentes e ainda era aplaudido mesmo. Mas, inteligente por inteligente a "ÓIA" tem um similar, não genérico, uma imitação barata do Paulo Francis, imitação pobre mesmo, uma caricatura de terceira categoria, visto que Francis não tirava nada da sua lavra porque não tinha lavra. Copiava tudo e todos aplaudiam. Há um livro (do Fernando Jorge) que reduz Francis a pó de traque e mostra todas as suas cópias e “adaptações”. O jornaleiro da "ÓIA" chama o presidente de anta. Este semestre tem coisas que só ele mesmo. Vi um documentário sobre animais e a anta ou "o" anta, tem um membro sexual que, bem medido, chega aos
Será que o buliçoso escrivão refere-se a alguma parte do Lula, uma parecença com "o" anta? Sei lá. Nestes tempos tem tanta gente com casos mal resolvidos que até duvido. O Pelé não disse que Maradona só pode ter alguma coisa com ele? E o Lula com a genitália do anta?
Finalmente, o semestre tem nos mostrado meia dúzia de cronistas de ocasião falando
... E o 2010 está somente na metade.
*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.