terça-feira, 13 de julho de 2010

O Blog e o CEO: TIP!


Que será que pensa um CEO? Será que tem emoções, reflexões sobre o futuro não só econômico?

Obviamente tem.

Mais difícil é que um CEO (acrônimo inglês que significa Chief Executive Officer, a posição mais importante numa empresa), manifeste em público essas prerrogativas.

Mas pode acontecer.

Informazione Scorretta, por exemplo, tem sido convidada com dois outros blogueiros para uma entrevista com o CEO da T.I.P., Tamburi Investment Partners SpA, instituição financeira italiana cotada na Bolsa.

Com participações em sociedades italianas, francesas e chinesas, a T.I.P. é uma jovem empresa em crescimento, cujo fundador e CEO, Giovanni Tamburi, concordou em discutir de economia e geopolítica na hora do almoço.

E este é o relato da reunião.

Entrevista com Giovanni Tamburi, T.I.P. S.p.A.


No silêncio do escritório de repente parte o riff de guitarra. Imediatamente o espaço é preenchido com as notas da noite memorável, quando os Nirvana tocaram no concerto Unplugged, e Kurt Cobain atacou a cover de The Man Who Sold The World de David Bowie.

Não há palavras para evocar as notas, ou você sabe ou não sabe, desde as primeiras duas notas.

Oh, bem, afinal é o meu telefone que está a tocar.

Na outra extremidade do fio metafórico (uma vez que é um telemóvel) há Andrea que pergunta se eu quero fazer uma entrevista daquelas que não se esquecem.

- Andrea, eu já disse, ou faz-me entrevistar Papa Ratzinger numa exclusiva ou não fazemos nada.
- Felice, o Papa Ratzinger tem a agenda cheia, sabes disso, não há um buraco antes de 03 de Setembro de 2011
- De jeito nenhum, no dia 03 de Setembro de 2011 expirar o iogurte de coco
- Ok, nada Ratzinger. Que tal acerca da TIP?
- Sim, Tip Tap, claro. Vamos bailar ou que agora. E quem entrevisto? Fred Astaire?
- Não Felice, T.I.P. SpA, Tamburi Investment Partners, besta! Interessado? É disponível para encontrar-se com blogueiros importantes que falam de economia.
- Mmmmm ... ok, quando quiser, excepto 3 de Setembro de 2011 que com iogurte de coco não se brinca

Assim, com este telefonema surreal, nasceu o post de hoje.

Então tivemos o prazer de conhecer em Milão Giovanni Tamburi, presidente da Tamburi Investment Partners, uma empresa cotada na Bolsa de Milão.

Este é o relato do dia.

A reunião


Tamburi recebe-nos na sua ampla sala de reuniões. Uma amigável trocas de frases e a seguir o almoço com os bloggers que perguntam: Bimboalieno, Mercato Libero, Informazione Scorretta.

MercatoLibero parte logo com uma série de perguntas mais técnicas sobre a empresa e a comunidade empresarial italiana e internacional, que pode ser lida ao visitar hoje o blog ou o blog de bimboalieno.

Lentamente, então, a conversa vira para o cenário macro, e é aí que Informazione Scorretta teve a oportunidade de ouvir, e propor agora, a opinião duma pessoa que conhece muito bem a economia italiana e tem uma visão clara da economia mundial.

Pergunta:

Na vida, existem alguns eventos que lembraremos para sempre. A primeira vez em que tomar uma tempestade sem guarda-chuva, o primeiro beijo, e muitos outros. Ficam gravados na memória e lembramos exactamente o que estávamos a fazer naquele momento, onde estávamos. Se falarmos sobre cenário macro, vamos começar a partir de um evento que ainda está definitivamente na memória de todos: o colapso do Lehman Brothers. O que lembra deste evento?

Tamburi surpreende imediatamente com uma opinião muito precisa sobre Lehman Brothers:

Em 2005 afirmei que todos os maus bancos teriam feito falência mais cedo ou mais tarde [...] não viver no vazio dos próprios produtos.

Vazio. De fato.

Um funcionário da Lehman Brothers leva 130 mil Euros por ano, logo que entrar na empresa, mais bônus de 50% .... nem os meus directores levam tanto.

Pois.
Bom começo, prosseguimos melhor ao começar a falar sobre a tendência:

Securitization, derivados, esperava que diminuíssem. Esperava que a finança entendesse e fizesse algumas limpezas. Tivemos o boom dos títulos e os bancos perceberam que poderiam morrer de carry trade.


O darwinismo da crise
Giovanni Tamburi


Tamburi tem uma visão muito precisa da crise, quase darwinista.

Haverá, segundo ele, um aumento da polarização. Num cenário de crise econômica como esta, a polarização ocorre com as empresas que não funcionam, que vão perder quota de mercado e não irão sobreviver, e as empresas que, bem geridas e estrategicamente dotadas, vão fazer bem.

Num certo sentido, a crise opera uma espécie de seleção natural para as empresas. A crise econômica é vista como um meio de "limpeza", porém, diz Tamburi,

Tem havido uma forte inércia nesta limpeza. Porquê? Porque os bancos não têm interesse em fazer write off.


Traduzido, os bancos não têm interesse em retirar dos orçamentos os empréstimos que fizeram e que tornaram-se de alto risco ou até incombráveis.

Porque esta é uma operação dolorosa e com graves consequências orçamentais.

É uma operação que obriga a olhar para a verdade, chamar o ativo com o seu nome real, o passivo com o seu nome real, e olhar no interior dos buracos.

No entanto, bancos e realidade, como sabemos, não vão muito de acordo.


A crise sistêmica


Não parecia real compartilhar muito do que dizia o presidente duma empresa cotada. O mundo está de cabeça para baixo! No entanto chego a oportunidade.

Segundo Tamburi:

... o mercado sabe usar as próprias sofisticações e não acho que irá atingir uma crise sistémica. Superámos a crise do '29 [a Grande Depressão, NDT], vamos superar isso, talvez com uma guerra e com a China que terá metade da África.

Em 2009, realmente pensei que estávamos a arriscar uma crise sistêmica.

Hoje estou bastante otimista porque acredito que conseguiremos ultrapassar isso.


Esperamos o mesmo também, apesar de diferir no presente caso.

Acreditamos que estamos a enfrentar a maior crise sistémica da história, com uma série de mudanças fundamentais em curso, num plano não só económico, onde cada movimento que pode ser fatal. Até agora nenhum deslocamento foi realmente fatal, mas as forças envolvidas são tão grandes que é como ir para o espaço com um míssil e voltar: a possibilidade de retornar apenas com lesões é mínima.

Ou voltamos ou não voltamos.

Em Outubro de 2008 começou a ida.

E ainda estamos em viagem.


A inflação e as taxas de juro, o empobrecimento e a decadência


Assim continua:

Teremos inflação, mas não muita. Teremos uma falta de homogeneidade entre inflação e taxas de juros, com taxas de juros que vão subir, mas inflação estável ou ligeiramente ascendente.

Haverá empobrecimento da população.

Entramos num período de decadência que vai ser longo anos, talvez um século. Se desejarmos elaborar uma estratégia para enfrentar a situação, teremos que estudar a idade das trevas, os séculos do passado e ver o que aconteceu na época.



Teremos inflação, mas não muita: como dizer que a enormidade da dívida gerada será espalhada no longo prazo com golpes de inflação não mito alta. Para entender, nada de dramático como a República de Weimar ou o Zimbabue.

É uma opção que muitos homens de economia pragmáticos vêem como possível. Para nós vale o que foi dito acima sobre a enormidade das forças envolvidas.

E é com a palavra "decadência", um declínio de anos, talvez um século ou mais, que encerrou a reunião. Uma palavra que ecoou na sala, como o riff dos Nirvana Unplugged, mas menos agradável.

E uma guerra, e uma China que vai dominar.

Realmente .... bem, não terminou assim.

Porque gostamos de dar uma mensagem de esperança.

Porque, no entanto, como em todas as fases de prosperidade há empresas que falham miseravelmente, em todas as fases de crise há empresas que conseguem prosperar. Mesmo neste País, num deserto de incompetência (e má-fé) política e estratégica, ainda existem alguns picos de excelência que podem alcançar o sucesso na Itália e no exterior. Estas são as empresas sobre as quais aposta a sociedade com a qual falamos, e que vive do ponto de vista ético e economicamente correto.

Preferimos, no entanto, pensar que a prosperidade em tempos de crise, até sistêmica, seja possível, e se conseguiram isso homens frios de empresas como aquelas nas quais investe T.I.P., cada leitor tem todos os recursos para ser capaz de viver a sua própria vida de prosperidade. E pode encontrar os recursos... no próprio Centro.


Acerca da última frase: Capretta remete para um tema de grande sucesso, "Centro di gravitá permenente". É uma maneira para dizer que os recursos estão dentro de cada um de nós.


Fonte: Informazione Scorretta
Tradução: Informação Incorrecta em terça-feira, 13 de Julho de 2010