quinta-feira, 1 de julho de 2010

Arruda Serra ou Índio da Serra?

Laerte Braga

O cara é genro do banqueiro Salvatore Cacciola, aquele amigo de FHC que quebrou de mentirinha, fugiu para a Itália, foi preso na Suíça, extraditado e cumpre pena na Penitenciária da Papuda em Brasília. E está envolvido no escândalo do superfaturamento da merenda escolar no Rio de Janeiro.

O deputado Índio da Costa tomou um susto danado quando soube que seria indicado para vice de José Arruda Serra. O dito foi casado com Rafaella Cacciola, filha do banqueiro, namorou a filha de César Maia e tem como primo um outro banqueiro, Luís Octávio Índio da Costa, dono do banco Cruzeiro do Sul.

O novo vice foi indicado por Rodrigo Maia, deputado e filho de César, o ex-prefeito, que, no sábado, havia ficado uma arara quando soube que Roberto Jéferson tinha emplacado na quadrilha tucana a candidatura de Álvaro Dias. Pulou, estrebuchou, fez o senador Sérgio Guerra sair correndo de Recife para apagar o incêndio no Rio e no fim... Índio de Costa.

Ou estão zoando com Arruda Serra, ou Arruda Serra está zoando com o Brasil. O mais provável é que esteja acontecendo uma e outra coisa. Rodrigo Maia, no sábado, em declaração a jornalistas disse que “já perdemos a eleição”.

Quando percebeu que sua política econômica ia gerar uma baita quebradeira no mercado, FHC consentiu que o Banco Central vendesse dólar mais barato aos bancos Marka e FonteCindam, com um prejuízo de bilhões para os cofres públicos.

Estava tentando salvar Salvatore Cacciola, que usava informações privilegiadas obtidas junto ao próprio Banco Central, através de Chico Lopes, amigo de FHC e presidente da instituição por uns dias. Teresa Grossi, diretora interina, à época, do Departamento de Fiscalização negociou com a Bolsa de Mercadorias e Futuro uma carta para justificar a negociata. Uma CPI apurou que o prejuízo foi de um bilhão e meio de reais aos cofres públicos, ou seja, ao distinto cidadão.

Cacciola? Sai logo, sem perder um tostão. Enquanto cumpre pena em cela especial o dinheiro vai rendendo aqui fora e de quebra o ex-genro é indicado candidato a vice-presidente na chapa do amigo do peito José Arruda Serra.

Não foi por outra razão que Aécio Neves, que já pulou fora desse barco faz tempo, saiu dizendo que estava tudo errado, que não era assim, ou seja, não dá para levar a candidatura Arruda Serra. Colocaram chumbo nos pés do candidato.

O sogrão de Índio da Costa foi condenado, em 2005, pela juíza Ana Paula de Vieira Carvalho, da 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro a treze anos de prisão. Crimes de peculato e gestão fraudulenta.

Está aí uma prévia do que poderia ser um governo Arruda Serra. Chico Lopes, do BC foi condenado a dez anos e Teresa Grossi a seis anos, mas estão em liberdade, aguardando julgamento de recurso.

Quando o escândalo estourou FHC tratou de demitir Chico Lopes, tanto quanto garantir o silêncio de Cacciola. O temor dos tucanos era exatamente o banqueiro abrir o bico e envolver mais figuras do corrupto governo do ex-presidente. Com as garantias que tudo seria jogo de cena, falo das investigações, foi para a Itália, até ser preso e extraditado. Foi preso em Mônaco.

Índio da Costa é piada pronta. Irresponsabilidade pronta, declarada publicamente. Ao lado do dito cujo, todo sorridente, o ex-senador Bornhausen, o deputado ACM Neto e Rodrigo Maia.

A vergonha foi tanta que Arruda Serra resolveu chegar quando a convenção do DEM já estava terminada. Jeito de despistar, dizer que não tem nada com isso, com amigos assim ninguém precisa de inimigo.

Mas por que aceitar então? Rabo preso. Só isso. Não tem como pular fora do barco. Pode até tentar, mas ou engole os caras ou vai para o brejo definitivamente.

Pelo andar da carruagem Arruda Serra vai disputar o vice-campeonato com Marina da Silva. E vai ser uma disputa dura, daquelas de arrepiar.

Andréa Gouvêa Vieira, vereadora à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, num relatório de uma CPI sobre o escândalo da merenda escolar afirma que o secretário de Administração do governo do município então o atual deputado Índio da Costa, favoreceu a um cartel de empresas pagando mais caro, com alimentos de baixa qualidade, em prejuízo dos alunos da rede pública. Segundo a vereadora em seu relatório à época, o trabalho do secretário Índio da Costa podia ser considerado um manual de como “não administrar na gestão da coisa pública”.

Mas, o cara é ex-genro de banqueiro com fundos no exterior (caixa 2), namorou a filha do ex-prefeito César Maia, boa pinta e contempla a quadrilha DEM, a família tucana agradece penhorada o que o próprio Arruda Serra chamou de “processo autofágico”. Ou como diz Aécio, “o Serra tem uma capacidade incrível para desorganizar tudo”.

Registre-se que a vereadora é do PSDB, partido de Arruda Serra.

Numa declaração ao jornalista Josias de Sousa, FOLHA DE SÃO PAULO, o deputado disse o seguinte – “acabei de ser indicado, foi uma surpresa, não sei de nada, vou ver como posso ajudar”.

Parece prefácio de livro-cabeça, como dizem. Chamam um especialista para apresentar a obra, ele escreve trezentas páginas para duzentas da dita obra, explica tudo, ninguém entende nada, mas faz que entende, e fica na dúvida se larga o romance para lá, lê só a orelha ou se nunca mais na vida lê prefácio.

Prefácios são ameaças à leitura e a literatura.

A dupla José Arruda Serra e Índio da Costa ameaçam algo muito maior, ameaçam o Brasil.

Ah! Segundo Andréa Gouvêa Vieira, a vereadora tucana que relatou a CPI da roubalheira do “ficha suja” Índio da Costa, o deputado Rodrigo Maia fez uma jogada de mestre. Afastou um concorrente já que o novo vice de Arruda Serra seria candidato a reeleição e tiraria votos de Rodrigo, atuam em áreas próximas.

Eiêta quadrilhazinha braba esse tal de DEM. Deu nó até na quadrilha grande, o PSDB. Essa nem Roberto Freire, o ex-honesto imaginava. Na verdade apenas sonhava de tudo ficar embrulhado e, de repente, alguém “lembrar”, “uai gente, por que não o Freire?”

É rato demais num navio só, estão zoando com o Brasil e os brasileiros.