sábado, 17 de julho de 2010

...And Justice For All (Justiça para todos) - Parte II

sábado, 17 de Julho de 2010

Segunda parte do artigo de Manuel Freytas.

Algumas considerações no final do artigo.

A primeira parte aqui.

Boa leitura!

A pirâmide das crises











Embora estime-se que esta crise global irá atirar (como resultado das demissões e dos cortes salariais) mais de 1 bilião de pessoas em situação de pobreza e exclusão, a grande preocupação dos analistas e jornalistas de sistema é focado nas perdas dos negócios e os efeitos da crise nos Países Centrais.

E quando tratam dos "efeitos sociais" da crise tomam como parâmetro apenas a redução do consumo nos Países Centrais, que geralmente qualificam como "sociedade" sem distinção entre a classe alta, média ou baixa que integram a pirâmide social capitalista nos EUA, Europa e nações "emergentes".

Não dizem, por exemplo, que a crise mais aguda de consumo e desemprego nos EUA como na Europa é sofrida pelos trabalhadores menos qualificados que estão a formar perigosas bolsas de protestos maciços e conflitos sociais que hoje já começaram nos subúrbios da Europa.

Enquanto (em nível dos Países Centrais e subdesenvolvidos também) as classes alta e médio-alta projetam a crise como uma "redução do consumo" (na maior parte de luxo), as classes mais baixas no mundo subdesenvolvido e emergente vivem a crise como perda de emprego e restrição do consumo básico para a sobrevivência (principalmente alimentos e serviços essenciais)

Enquanto um rico reduz os empregados, viagens de lazer e consumo desnecessário, uma classe mais baixa ou pobre reduz as compras de alimentos e de consumos necessários para a sobrevivência.
Em resumo, na pirâmide do colapso recessivo global, para a classe rica ou média alta a crise social significa "apertar o cinto", enquanto para a classe mais baixa significa ficar desempregado ou perder a capacidade de sobreviver, devido à redução do salário.

As chaves da explosão social











Assim na crise social está a projetar-se as mesmas variáveis do resto da economia capitalista: o peso da crise bate forte na base do triângulo social, o mais indefeso (trabalhadores e pobres) enquanto tende a diminuir no meio e nos vértices (empresários e profissionais), onde fica concentrada a maior parte da riqueza acumulada pela exploração capitalista.

A mesma equação é produzida na pirâmide dos Países capitalistas, claramente dividida entre a parte superior (Países Centrais), média (Países emergentes) e base (Países em desenvolvimento)

Esta é a chave para compreender, por exemplo, porque os efeitos da crise social na Europa (greves e agitação social) já começaram a ocorrer nas nações mais vulneráveis da Europa de Leste (ex-repúblicas soviéticas), que mantêm uma relação de dependência estrutural com as economias ricas das potências do Euro.

Os sujeitos e os atores da crise social, os motores da revolução social (tanto nos Países Centrais como nos subúrbios da Ásia, África e América do Sul) serão os milhões de desempregados e expulsos do mercado que não terão os meios para manter as próprias famílias.

A máquina dos media (imprensa ocidental), que fala de "crise global" misturando no mesmo saco as vítimas (os setores mais baixos da pirâmide) com os executores (os mais ricos no topo da pirâmide), têm como missão fundamental esconder o que está por vir: uma rebelião global generalizada dos pobres contra os ricos.

Esta rebelião (como já foi demonstrado na Europa Oriental) irá exprimir-se, no nível dos Países, numa escalada imparável de conflitos sociais e sindicais nos subúrbios emergentes e subdesenvolvidos, acompanhada por um crescente debate sobre a centralização exploradora e protetora das potências regentes.

Em nível social, estes processos de rebelião terão como protagonistas dois atores principais: os pobres e os desempregados expulsos do mercado consumidor.

Não é o mercado (nas suas diferentes variantes macroeconômica), mas os expulsos do mercado (excluídos sociais) serão os protagonistas deste ponto de viragem na crise global capitalista que está para chegar.

E há uma explicação lógica: a crise financeira e a crise de recessão, cujos resultados imediatos são a falência e o fechamento de bancos e empresas, podem ser reguladas e controladas através da injeção de bilhões de fundos por parte de governos e bancos centrais imperiais.

Para os efeitos sociais da crise recessiva financeira (desemprego e redução do consumo) não há outra solução senão recuperar a mão de obra expulsa para evitar o colapso social e revoltas populares.


E, para um capitalismo em crise, cuja lógica funcional passa através da expulsão dos trabalhadores para manter a sua taxa de lucro, esta é uma tarefa impossível.

Assim, os conflitos sociais são inevitáveis, como resultado.

Acaba aqui a segunda parte deste artigo. A primeira parte pode ser encontrada neste link.

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E aqui, infelizmente, emerge impetuosa a matriz política do autor com resultados tristes. Ao ponto de não reparar num pequeno pormenor: a classe media está a desaparecer.

Desejar matar o capitalismo é uma tentação legítima.

Desejar mudar o capitalismo para um modelo mais justo é uma aspiração mais do que legítima.

Mas é preciso saber que não é fácil. Não basta dizer: o capitalismo não funciona? Revolución!

O capitalismo é duro de morrer.

Não é tarefa de Informação Incorrecta responder politicamente às afirmações de Manuel Freytas. Mas podemos, isso sim, analisa-las sob outro ponto de vista.

Não é a primeira vez que o capitalismo enfrenta uma crise. Já em '29 teve que encarar uma situação dramática, com milhões de pessoas que tiveram problemas de sobrevivência. Não só em Países subdesenvolvidos (muitos dos quais, naquela época, tinham ainda menos independência do que hoje), mas mesmo nos Países Centrais, para utilizar a terminologia de Freytas.

E na década de 30 do século passado ainda era fresca a lembrança do acontecido na Rússia (Revolução de 1917).

Resumindo: condições ideais para um levantamento popular anti-imperialista, em particular nos Países Europeus.

Houve uma revolução? Não.

Pelo contrário: as situações de dificuldades econômicas levaram a um reforço dos nacionalismos.

É este, em nossa opinião, o maior perigo.

A globalização falha levou a emigrações maciças: uma boa percentagem das populações dos Países europeus é hoje constituída por imigrantes. Mas a integração falhou, na maior parte dos casos.

Não interessa analisar aqui as razões, o que conta é que não funcionou.

O mesmo pode dizer-se em relação à União Europeia. Um grande projeto, infelizmente conduzido por tecnocratas incapazes que tiveram como único resultado um conceito de Europa cada vez mais afastado dos Europeus.

A irritação em relação às próprias condições de trabalho; a irritação em relação aos imigrantes (porque "diversos", porque inflacionam o mercado do trabalho... As desculpas são fáceis de encontrar), a irritação em relação a uma Europa cada vez mais distante das reais necessidades dos próprios habitantes: tudo isso constitui uma excelente mistura explosiva à espera da idônea faísca.

Este é o verdadeiro perigo.

Mas também há outro, não contemplado pelo Autor: o que pode fazer um Estado quando as fricções atingem níveis perigosos no interior das próprias fronteiras? Onde encontrar uma válvula de segurança?

Já adivinharam? Exacto.

Há quem diga que a crise de 1929 acabou só com o início da Segunda Guerra Mundial.

A esperança é que os políticos não conheçam a História.

E este é o segundo verdadeiro perigo.

Ipse dixit

Fonte: IAR Noticias

Traduzido, comentado e editado por Informação Incorrecta

Publicada por Max às 17:00h