segunda-feira, 19 de julho de 2010

SE O CIDADÃO NÃO É PELA CIDADE QUEM É ENTÃO? CUSTÓDIO? ESTAMOS LASCADOS...

Laerte Braga

O problema todo é que Custódio não fala javanês. Se assim o fosse seria até engraçado. Mas fala tucanês. Não tem graça alguma, pelo contrário. Tucanos são uma reedição como tragédia do que há de pior na história dos partidos políticos do Brasil.

Falo da velha UDN.

E há uma diferença que é decisiva. O partido de Carlos Lacerda tinha algumas figuras respeitáveis. Adauto Lúcio Cardoso, Afonso Arinos, Milton Campos, por uns tempos Frota Aguiar.

O PSDB em si e por si é uma espécie de “desrespeitabilidade” geral e absoluta.

Não tem nada e nem ninguém que possa confirmar a regra que toda regra tem uma exceção. É claro que têm uma ética. A máfia também tem. Ética por si só não significa reputação ilibada. É apenas a parte da filosofia que estuda o ser enquanto livre e pessoal. A ética da máfia, por exemplo, pode ser resumida numa frase – “não é nada pessoal, são negócios” –. E pronto.

Al Capone costumava colocar alguns inimigos de pé sobre uma base de cimento e tão logo endurecesse, o cimento, jogava o dito cujo ao mar, ou num rio qualquer. Certeza que o corpo não boiaria.

A tucana, falo de ética, é bem mais complicada, porque tem um espectro quase que infinito na arte de ser sem ser absolutamente nada, mas de desconstruir toda e qualquer perspectiva de vida digna, em bases humanas em qualquer lugar.

Seja o Brasil, vendido em boa parte por FHC durante seus oito anos de governo. Seja a mania de pedágio de José Arruda Serra, ou seja, o tal choque de gestão de Aécio Neves, em que um professor, no duro mesmo, percebe que essa ética é a do choque de privações diante do minguado e ultrajante salário.

São pródigos em fantasias.

O jornal JF HOJE (Juiz de Fora Hoje) revela em sua edição de domingo, 18 de julho, que o tal investimento de bilhões em Juiz de Fora, com direito a contrato e tudo, é farsa.

Montaram o circo, divulgaram os fatos para lá e para cá, chamaram o então governador, assinaram contrato e agora o diretor, chefão da empresa, diz que isso não existe.

Uai? Trem de doido sô!

Os caras montam um cenário caríssimo com direito a foguete e no fim é tudo mentira?

Bom, dizem que existe um negócio por aí chamado de Câmara Municipal. Entre suas atribuições está a de fiscalizar os atos do dito poder Executivo. Só que os sinos que lá ecoam são de madeira, logo não ecoam, evidente. O trabalho de cinco ou seis vereadores interessados em cumprir esse papel termina na ética predominante da maioria, a do “me dá o meu que eu voto qualquer coisa”. Uma espécie de ética do “me ajudem”. Não precisa ser necessariamente propina, pode ser algo mais simples. Apito, uma luz colorida, coisas assim.

Tem gente que ainda não conhece a bússola, um aparelho simples que mostra sempre o norte. E nem adianta explicar, corre o risco dessa turma se enrolar dum tal jeito que não há jeito de desfazer o nó. Dá no cérebro, é de alto risco, que o diga a cidade. Mas fareja à distância o “me dá o meu”.

A CESAMA – COMPANHIA DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE – foi criada a partir de um embrião, o DAE – DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ESGOTOS.

Isso aconteceu por inspiração direta do então engenheiro Itamar Franco, à época filiado ao PTB de João Goulart, no segundo governo do prefeito Ademar Resende de Andrade (1963/1967). A percepção que a água é um dos bens mais preciosos para o ser humano e daí a necessidade de políticas próprias e adequadas para tal. Ademar Resende Andrade, engenheiro também, curiosamente foi sucedido pelo próprio Itamar Franco. Uma das preocupações daquele que mais tarde viria a ser presidente da República foi exatamente o de criar uma política voltada para a água. Tanto no que diz respeito a abastecimento, como reservatórios e tratamento, tudo.

Com o passar dos anos, transformada em empresa pública, transformou-se também em modelo para o setor, mostrando que o poder público é capaz de gerir com propriedade, de forma adequada e íntegra setores que necessariamente não podem e não devem ser privatizados. Não são fontes de lucro. São direitos fundamentais do cidadão. Como saúde, educação, transportes, segurança e lazer.

Tucanos inventaram por aqui, melhor seria dizer, trouxeram para cá os tais choques de gestão. Privatiza aqui, terceiriza ali e dane-se o cidadão comum. Paga o dobro por serviços que são consagrados universalmente como direitos.

Custódio não tem a menor ligação com Juiz de Fora, exceto a de sanguessuga.

Aportou por aqui e por aqui descobriu os caminhos para mansões, fazendas, altos negócios, passando inclusive pelo guichê de Marcos Valério. Cerca-se de gente da pior espécie e agora é parceiro de Bejani no negócio do lixo. Este sim, propina de alto calibre.

A parceria foi gerada a partir do berro de Bejani, tipo “alto lá, quem começou fui eu, se não receber minha parte boto a boca no trombone”. Resolveram tudo num encontro em mares de Angra dos Reis, depois de uma conversa na residência do alcaide, presente o vereador Rodrigo Matos, pimpolho do prefeito e candidato a deputado estadual. Mais ou menos como “fique tranqüilo que o seu está seguro, vamos definir aqui o quanto de cada um”.

Está aí a Queiróz Galvão através da Vital Engenharia Ambiental S/A de olhos postos num DEMLURB praticamente privatizado, já que comandado pela empresa. À espera apenas do momento propício para o pulo do gato. O alvo maior é a entrega da CESAMA. Uns falam em COPASA (companhia pública estadual que explora o setor), mas outros citam um consórcio montado à época do governo Bejani, envolvendo empresas de Belo Horizonte e alguns políticos.

A Câmara, recentemente, pela maioria dos vereadores, manteve um veto do prefeito Custódio Matos (prefeito? Onde?) que criava embaraços ao processo de privatização do DEMLURB. Da autoria do vereador Isauro Calais, o veto foi derrubado e assegurado a Custódio o direito de fazer o que bem entender, ou que o bem acertar com os que pagam, com o setor de limpeza pública da cidade.

O que se pretendia era simples. Participação popular no processo. Debate, discussão, conveniência, conhecimento da realidade e não da máscara vendida através da propaganda.

Essa turma quando está em campanha política carrega frascos de álcool no bolso e aquele negócio de higiene bucal que protege contra doze problemas. É que quando acaba a maratona de beijos em crianças e apertar de mãos, higieniza. Contato com povo, em se tratando de tucano, é osso do ofício.

O processo de privatização da CESAMA corre por baixo dos panos. Um ajuste aqui, outro ali, até que se possa dar o bote. É um crime que se pretende praticar.

No caso do lixo conseguiram as licenças necessárias da FEAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – a partir da compra do procurador do órgão, um tal Joaquinzinho. Pilantra que já correu o Brasil metendo a mão. Condenado a devolver dinheiro a cofres públicos em gestão fraudulenta num estado da Região Norte. Parceiro de mineradoras predadoras de rios, etc, algo de CPI da Assembléia Legislativa. Têm consciência que a privatização da CESAMA vai exigir maiores esforços para que o crime seja consumado, mas não têm nenhum escrúpulo em se buscar esses maiores esforços, pois trabalham com a ética do “quero o meu, dane Juiz de Fora, dane-se o cidadão”. E aí? Se o cidadão não é pela cidade, quem é, quem vai ser? Custódio? Corrupto de carreirinha. Tucano de caráter (é outra coisa que precisa ficar claro, caráter por si só não significa atestado de dignidade. Pode ser bom, mau, ou não ser nada).

Um jornal da cidade, dirigido por gente de fora também, sem vínculos com JF, mas com os negócios, hoje, dia 18, tenta imputar ao cidadão comum que paga o transporte coletivo, o direito de gratuidade a determinados segmentos da população.

Traz a lógica do capitalismo mais selvagem que existe. Desconhece que esse tipo de direito existe em quase todos os países europeus regidos por economia de mercado como gostam de dizer. Interpreta o ponto de vista dos donos, esse é o problema. O cidadão fica cercado de todos os lados. É induzido a acreditar numa irrealidade boçal e estúpida, regida pela lógica do “quero o meu, dane-se o resto”. Essa é a “ética JORNAL NACIONAL”. Considera o cidadão um Homer Simpson (idiota, definição dada por Wlliam Bonner e noticia o que “não desagrada os nossos amigos”. No fim, “caixinha, obrigado”).

O ex-presidente Itamar Franco é um homem sério no trato da coisa pública. Não tem e nem teve o hábito de meter a mão no bolso de ninguém e muito menos de dinheiro público. Pelo contrário, é uma das exceções no meio. Talvez por isso em sua trajetória partidária tenha sempre evitado o PSDB. Consciência que esse partido é, na prática, quadrilha.

Em respeito à cidade (da qual foi prefeito e um dos maiores de nossa história) não só não pode aceitar esse tipo de prática do atual prefeito (é o cúmulo da esculhambação um sujeito desse prefeito de Juiz de Fora, pior que Bejani), como deve de público repelir e lutar para que esse crime não se consuma. Custódio é seu aliado, foi candidato nas eleições de 2008 por insistência do ex-presidente. O xis da questão agora é esse. Se o cidadão não é pela cidade, quem então? É hora de assumir responsabilidades e por um paradeiro na destruição sistemática de Juiz de Fora por uma quadrilha que se apoderou da Prefeitura. De dar forças aos vereadores que repelem esse desgoverno.

É comum se falar em futuro. Construir para o futuro.

No caso específico, o futuro de Juiz de Fora na concepção tucana, de Custódio é um investimento de bilhões de dólares que não existe, pura fantasia eleitoral. Ou a privatização de setores essenciais, direitos básicos do cidadão.

Já o cidadão é diferente. Cada um de nós pisa o chão que nossos ancestrais construíram. É dever legar esse chão aos que vão chegar a seguir. E Custódio e sua quadrilha estão transformando esse chão num grande precipício.