17/9/2012, Ludwig Watzal, Palestine
Chronicle
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Leia
também:
7/4/2012, redecastorphoto, Baby Siqueira Abrão em: “O poema
que desmascarou Israel”
Ludwig Watzal |
Campanhas
de difamação contra pessoas que não obedeçam a pauta estreita, “politicamente
correta”, e respectiva retórica, no que tenham a ver com expor as repetidas
violações de direitos humanos e a opressão brutal, por Israel, do povo
palestino, são rotina na ação do lobby israelense pró-sionistas na
Alemanha.
A
mais recente vítima do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha é
Judith Butler, professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada e
co-diretora do Programa de Teoria Crítica na Universidade da California,
Berkeley. Butler também é militante ativa da luta contra preconceito de gênero,
pelos direitos humanos, contra a guerra, e participa do movimento Voz Judaica
pela Paz. Esse ano, recebeu o Prêmio Adorno, da cidade de Frankfurt, distribuído
a cada três anos, no valor de 50 mil euros.
Judith Butler |
Por
que Judith Butler foi massacrada? Seu “crime” é incluir o Hamás e o Hezbollah
como parte ativa da esquerda global, e apoiar a campanha BDS (Boicote,
Desinvestimento, Sanções) contra o consumo de produtos israelenses provenientes
dos Territórios Palestinos Ocupados. Imediatamente depois de divulgada a notícia
de que lhe fora conferido o Prêmio Adorno, abriram-se contra ela as portas do
inferno.
A
procissão de detratores foi chefiada pelo Secretário Geral do Conselho dos
Judeus na Alemanha, Stephan Kramer; ao seu lado apareceram imediatamente o
embaixador de Israel na Alemanha, seguido dos suspeitos de sempre.
Kramer
acusou Butler de ser “odiadora confessa de Israel” e “cúmplice” do Movimento
BDS, apesar da abordagem nuançada de Butler sobre a campanha BDS; classificar o
Hamás e o Hezbollah como parte da esquerda global ignoraria a visão de mundo
fundamentalista arcaica dos dois grupos, sobretudo contra as mulheres. Mas
Kramer não rotulou a crítica que Butler construiu contra a política de governo
de Israel como “antissemitismo”. A controvérsia em torno do Prêmio Adorno
revelou a tensão existente dentro do judaísmo entre a ética universalista e as
tendências nacionalistas, autoritárias, do sionismo.
Neve Gordon |
Na
furiosa campanha movida contra ela, Butler manteve-se inabalável. Recebeu apoio,
dentre outros intelectuais alemães, do professor Micha Brumlik da Universidade
de Frankfurt e do professor Neve Gordon da Universidade Ben-Gurion em
Beer-Sheva. Gordon escreveu:
A
bem orquestrada caça às bruxas, iniciada pelos autoproclamados “Intelectuais
pela Paz no Oriente Médio” contra Judith Butler é sórdida tentativa – baseada em
mentiras e meias verdades – para silenciar uma vigorosa crítica contra a
política de abuso de direitos que Israel pratica nos Territórios Ocupados.
Campanhas de
difamação promovidas pelo “Lobby sraelense” na Alemanha acontecem
periodicamente. Antes da atual campanha contra Butler, houve a campanha contra
Gunter Grass, prêmio Nobel, que se atreveu – no poema “O que tem de ser dito”
[ing. What has to be Said [1]] ” – a sugerir que
o governo israelense é maior ameaça à paz mundial que o Irã. Embora o Conselho
dos Judeus na Alemanha tenha iniciado a campanha, as calúnias foram publicadas
em toda a grande imprensa alemã, com a única exceção do semanário “der Freitag”
de Jakob Augstein.
Há
dois anos, a famosa advogada e militante da defesa de direitos humanos Felicia
Langer, que vive na Alemanha, foi também massacrada pelo “lobby
israelense” e seus infames apoiadores, imediatamente depois de receber a
prestigiada medalha da “Ordem do Mérito de Primeira Classe da República Federal
da Alemanha”. Alguns caluniadores não se envergonharam sequer de tentar
chantagear o presidente da Alemanha, ameaçando-o de devolver as próprias
medalhas, no caso de o presidente não cancelar a condecoração de Langer.
Dra. Ghada Karmi |
O
modo como as instituições alemãs e seus representantes tratam os professores
palestinos é exemplificado pelo caso da conhecida professora britânico-palestina
Dra. Ghada Karmi da Universidade de Exeter. Em fevereiro de 2012, a professora Karmi foi
convidada para falar sobre a Palestina, numa conferência na Universidade de
Bremen. No último minuto, o convite foi cancelado, e a universidade declarou que
as ideias da professora não seriam “adequadas”. Depois se descobriu que um aluno
dos cursos de pós-graduação, israelense, havia protestado contra a conferência
ter convidado a professora Karmi, que teria ideias “antissemitas”. As mesmas
acusações infundadas foram feitas contra o professor Ilan Pappé, judeu
israelense, para impedi-lo de falar em público na Alemanha.
O
pior aconteceu, no caso da professora Karmi, quando ela participava de uma
conferência, dias 8-9/6/2012 na Universidade Livre de Berlim, organizada pelo Research College da mesma universidade
em colaboração com o Conselho Alemão de Relações Internacionais. Nas palavras da
professora Karmi:
O
que aconteceu ali foi deprimente manifestação da hipocrisia alemã diante dos
israelenses presentes e mal disfarçado incômodo com a minha presença, como se
lamentassem a autorização para que se ouvisse uma voz palestina.
A
professora Karmi foi apresentada à conferência por um representante do Conselho
Alemão de Relações Internacionais, como alguém que, segundo “alguns israelenses”
é “terrorista palestina”. O público não protestou nem a universidade pediu
desculpas à professora. Se algum representante do Conselho Alemão de Relações
Internacionais se atrevesse a apresentar algum professor israelense como alguém
que segundo “alguns palestinos” é “terrorista israelense”, sua carreira
acadêmica estaria imediatamente terminada.
Essas
campanhas de difamação são retrato claro da desoladora paisagem política na
Alemanha, hoje.
Nota dos
tradutores
[1] Em inglês em: Gunter
Grass poem, English translation: “What must be
said”
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