1/6/2012, Bassam
Haddad entrevista
Haytham
Manna’,
Jadaliyya
Transcrição
completa em inglês e todos os vídeos em:
“The
Current Impasse in Syria: Interview with Haytham Manna' [Now with full English
transcripts + all videos]”
Transcrição
traduzida pelo pessoal da
Vila
Vudu
Ver
também:
Intervention, Resistance, Transformation, and Exit in Syria: Interview with Haytham Manna’ (Part 2)
Bassam
Haddad (BH): Tratemos
agora das questões da resistência, da questão palestina e da relação que mantêm
com a posição de rejeitar intervenção externa. Há inúmeras razões pelas quais
alguém pode opor-se a uma intervenção vinda de fora. Qual é sua posição na
questão da oposição à intervenção externa, dos que dizem que o objetivo
[verdadeiro] da intervenção pelas forças ocidentais é atacar grupos e estados
considerados como a base da resistência pró-palestinos na região? [Pergunto-lhe
isso] principalmente porque há razões de vários tipos pelas quais alguém pode
opor-se a uma intervenção e a oposição, no caso da Síria pode não implicar
qualquer tipo de apoio ao regime autoritário. Por outro lado, há também os que
se tornaram menos críticos contra o regime Assad pelo fato de ele também se opor
a qualquer intervenção; e por crerem que a intervenção, em todos os casos,
incluiria um tipo de conspiração. Essa posição gera riscos novos, presentes e
futuros. Qual sua posição, dado, especialmente, que o senhor sempre se opôs a
qualquer intervenção externa e continua a opor-se?
Haytham
Manna' (HM): No início
de maio de 2011, cerca de uma semana depois que o exército entrou em Dar'a, o
cenário foi terrível. Meu pai morreu por falta de medicação. Perdi vários amigos
e muita gente ou emigrou ou fugiu. Meu irmão fugiu, mas foi encontrado e
martirizado. Vivi uma situação pessoal muito difícil. Mas, em termos de luta
política, lancei o que chamei de “trindade fundamental”, para que não
perdêssemos completamente o rumo.
A
“trindade fundamental” é: contra a intervenção estrangeira; contra armas e
violência; e contra o sectarismo. Muitos me acusaram de estar sendo
excessivamente teórico, excessivamente frio, de reagir “sem o coração”. Mas os
movimentos começaram a adotar essa abordagem da “trindade fundamental”.
Inclusive a Fraternidade Muçulmana, no início do levante. Estive num programa de
televisão com o poeta Rawi, no qual ele declarou que “nós adotamos essa
trindade”. Mas, depois, mudaram de posição; muita gente mudou de posição. No
começo, Ghalyoun [Burhan Ghalioun,
presidente reeleito do Conselho Nacional Sírio; renunciou em maio-2012 (NTs )] e todos adotaram a “trindade”.
Nos
mantemos firmes na “trindade”, por duas razões. A primeira tem a ver com a
questão nacional, questão muito sensível na Síria, e que está em pauta desde a
minha infância. Temos uma batalha pela frente. Desde cinco anos de idade, todos
os sírios ouvimos a expressão “Síria natural”. A “Síria natural” estende-se até
Gaza. Aprendemos na escola. Fomos educados assim. Os sírios nunca fomos educados
na direção de que a Síria deveria incorporar ou ocupar a Palestina. Mas, sim,
fomos educados para saber que qualquer afronta ou ataque aos palestinos sempre
seria como uma adaga cravada às costas das causas sírias e árabes. Seria
portanto impossível, para os sírios, tratar com frieza a questão palestina, ou
agir como se os sírios nada tivéssemos a ver com os palestinos ou a causa
palestina. A segunda razão é a questão das Colinas de Golan. Até hoje há um
milhão de sírios que foram expulsos do Golan e permanecem deslocados. O ocidente
e todo o mundo está permanentemente sacrificando essas pessoas... E por quê?
Para dar casas a cerca de 18 mil colonos ilegais? Isso é crime de guerra. É um
crime continuado. Manter um povo sob ocupação é crime de guerra. E há completo
silêncio, completa cumplicidade internacional sobre isso.
Temos
também a questão do Líbano. Por exemplo, tenho uma irmã que jamais se
interessara antes por política, até que começou o levante em Dar’a. Hoje é
militante engajada. Deu a casa onde morava a uma família expulsa da própria casa
no sul do Líbano e mudou-se para Dar’a. Não perguntou quem eram, o que fariam da
casa. Deu a casa porque entendeu que era seu dever. Para ela, a resistência é
parte da vida, da existência, da cultura. Não é possível separar o cidadão de
seus direitos básicos, porque os direitos individuais e os direitos dos povos
são inter-relacionados. As duas coisas vivem na memória coletiva.
Alguns
indivíduos, alguns grupos e vários veículos da imprensa-empresa, sim, com
certeza tiveram papel importante na operação de destruir essa consciência. Dou
um exemplo. Apenas três semanas depois de iniciado o levante em Dar’a, a rede
Al-Arabiyya noticiou várias vezes que haveria elementos do Hezbollah
lutando em Dar’a [aliados ao exército de Assad]. Sinceramente... Quem
acreditaria nisso?! Nós conhecemos os libaneses e conhecemos os sírios!
Noticiaram até que haveria atiradores treinados que nem falariam árabe, o que
provaria que vinham do Irã e de outros lugares. A mídia fez isso. E foi o começo
do processo pelo qual lutas regionais infiltraram-se na mobilização dos sírios.
Chegou a tal ponto que muita gente que sempre apoiou a resistência, ao mesmo
tempo em que lutava contra o autoritarismo e a corrupção, passou a atacar a
resistência. Esse processo continua ativo, até hoje.
Hoje
já há um hiato entre o que é manifestação cívica e o que é manifestação
nacional. Os campos separaram-se – e isso foi efeito do que fizeram a imprensa
coordenada, vários grupos regionais e, sim, muitos sírios. De um modo ou de
outro, conseguiram criar uma situação na qual a resistência e a rejeição à
resistência são usadas como ferramentas que uns e outros usam como bem entendem.
No caso do regime, a resistência está sendo usada para reforçar suas credenciais
nacionalistas.
Todos
sabem que o Hamás não precisa do governo sírio para ser legítimo na Palestina.
Todos sabem também que o Hezbollah não precisa da Síria para ser legítimo no
Líbano. A raiz da legitimidade do Hezbollah está no Líbano. A partir dessa
legitimidade, o Hezbollah pode decidir se apoia ou não outros regimes, inclusive
a ditadura síria. Mas esse apoio não compromete a legitimidade do Hezbollah como
cabeça da resistência. Estamos em luta e a luta não raramente obriga a fazer
alianças menos... recomendáveis.
Consequentemente,
a primeira batalha que o Movimento de Coordenação Nacional teve de fazer, desde
o primeiro momento, foi construir elos compreensíveis entre o movimento de
cidadãos e a causa nacional. Absolutamente não somos inimigos da resistência – é
exatamente o contrário. Se o regime autoritário ofereceu salas e escritórios à
resistência, nosso regime democrático tem de oferecer bases à resistência. Esse
é o primeiro ponto.
O
segundo ponto – e muito importante – é que estamos fazendo nossa luta a partir
de manter boas relações com os estados vizinhos, sem qualquer tipo de
preconceito. Não nos interessa trocar o Irã pela Turquia, ou a Turquia pelo Irã.
Temos vizinhos que não escolhemos nem poderíamos escolher, que estão aí, por
circunstâncias que não controlamos. Você pode trocar de esposa, se se divorciar.
Mas não pode trocar o país que está do outro lado da fronteira. Portanto, temos
de ter relações amistosas com os países vizinhos, relações equilibradas. Não
estamos aqui para fazer guerra a favor dos interesses de um ou de outro. Não
somos revolucionários alugados a um ou outro projeto. Se o ocidente sabota o
programa nuclear iraniano, que ninguém diga que a sabotagem é feita “graças à
Síria”, ou pelos cidadãos ou pelos mártires sírios. Nenhum mártir sírio esteve
nas ruas ou foi às ruas pensando em “conter” o programa nuclear iraniano. Os
mártires sírios foram e estão nas ruas para derrubar o regime autoritário. Não
pode haver qualquer confusão entre esses alvos. Se os sírios forem envolvidos em
guerras por procuração, será sempre contra a vontade dos sírios. O preço a pagar
será a vida da revolução síria.
Nosso
programa sempre foi esse. E a batalha é dificílima. Por isso, precisamente, a
imprensa-empresa sempre falou tanto sobre a presença de estrangeiros. Mas que
estrangeiros? Se se examina, vê-se que é gente vinda de al-Ramadi no Iraque,
sejam iraquianos, ou sauditas com documentos iraquianos. Também há líbios e
gente de outros estados do Golfo. Encontramos cadáveres de egípcios e de
maghrebinos. Infelizmente, entraram islamistas e jihadistas na Síria. Mas os
jornais aqui só falavam de combatentes do Hezbollah, que não estavam aqui.
Uma
questão é que nós nos opomos à presença de não sírios na nossa luta contra o
autoritarismo, e não importa de onde venham. Estamos pedindo exatamente o
contrário: queremos fronteiras controladas. Estamos pedindo que árabes e não
árabes que estejam na Síria possam deixar o país em segurança, porque haverá
luta e eles não terão qualquer proteção legal, não conhecem o país, não estarão
obrigados a obedecer ao cessar-fogo, se se chegar a algum acordo, nem haverá
como obrigá-los a obedecer a qualquer acordo a que se consiga chegar. Os
estrangeiros que estão na Síria são hoje risco incontrolável e podem servir como
combustível para grandes incêndios, à menor fagulha. Devem deixar o país. Como
já dissemos várias vezes: voltem para o local de onde vieram. Vocês aumentam os
riscos que pesam contra a revolução síria e não tem papel algum a desempenhar
aqui. Prova disso é que sabemos quem são os responsáveis por várias explosões,
nas quais as vítimas foram, na maioria, sírios.
Uma
segunda questão é que temos de ter uma política síria equilibrada. Não
romperemos laços nem com a Rússia nem com a China, para nos deixar escravizar às
relações só com os EUA. Não. Teremos relações internacionais e relações
econômicas ponderadas e equilibradas. Se os japoneses são os melhores quadros em
termos de tecnologia que trabalham hoje na Síria, colaboraremos com o Japão.
Ninguém dirá à revolução síria o que pode fazer e o que não pode fazer. Esse
aspecto é fundamental.
O
lócus primário, básico, do sucesso da revolução civil democrática síria
radica em construir capacidade para tomar decisões soberanas. Temos de ter
capacidade soberana para tomar decisões. Não podemos ceder nossa independência a
quem deseje nos dizer com quem negociamos e como negociamos. Se conseguirmos
isso, obteremos depois outras formas secundárias de independência. Se
sacrificarmos essa primeira independência, pagaremos o preço de perder todas as
independências que queremos ter.
BH: Há os
que dizem que já não há revolução síria. Que se transformou, de um levante
contra o autoritarismo, em outra coisa. Dizem que a
revolução síria foi sequestrada, e que, em termos simples, foi convertida
em algo sinistro.
Como um sírio – hoje, de fato, como qualquer ser humano –
consegue extrair algum sentido, alguma coerência da situação que se vê hoje na
Síria? A revolução foi sequestrada e o regime sobrevive? Como é possível
conciliar essas duas situações? Render-se é inaceitável, mas é como se a
revolução estivesse de mãos atadas. Até quem vive fora, que nada poderia fazer
em qualquer caso, está preocupado com o que se vê acontecendo na Síria, e têm a
impressão de estar paralisados: ninguém pode aprovar o que está acontecendo lá,
mas ninguém tampouco pode apoiar a alternativa que vê. A situação parece ser de,
para apoiar a revolução, ter-se de apoiar a intervenção externa.
HM: Há
várias lições que se aprendem da história. A primeira é que revoluções são
movimentos espontâneos, terremotos que brotam de dentro da sociedade. Mesmo
assim e apesar disso, uma revolução também é um processo de acumulação, e o que
a sociedade acumula se torna recursos do povo. Por exemplo, o medo de antes não
voltará à Síria. Outro exemplo: o conceito de obediência e a velha ordem não
poderão ser reconstituídos. Também não poderá ser reconstituída a noção de
rendição a decisões tomadas por outros. Essas questões tiveram papel importante.
[Interrupção]. Há aí conquistas, realizações, das quais não será possível
retroceder, nem na consciência coletiva nem por decreto.
O
segundo conjunto de questões tem a ver com mecanismos de transição e com quem
estará envolvido na transição. Ninguém mais está falando do que se pode chamar
de “a velha ordem”. A velha ordem acabou. Já comentei que nem os principais
defensores da velha ordem conseguem defendê-la.
Um
terceiro conjunto de questões tem a ver como nível social interno de análise.
Algumas transformações fundamentais não podem ser desfeitas. Centenas de
milhares de sírios são hoje recém-chegados ao mundo político, ao mundo da
consciência cívica. Antes, sentiam como se nada tivessem a ver com o mundo
político e alguma consciência política. Só pensavam sobre quem estava chegando
para visitar a família e os amigos. Nada os mobilizava. Hoje, essas centenas de
milhares de sírios, queiram ou não, estarão dando forma a uma nova visão
política do próprio país. Esse horizonte político é, em primeiro lugar e
principalmente, horizonte interno; foi forjado dentro da mobilização social, não
fora dela. Em segundo lugar, esse horizonte político não incluirá nenhum tipo de
marginalização, a marginalização de ninguém. Esses são os fatores e os elementos
que nos dão confiança.
Resta
sempre, ainda, a questão da transição. Acredito que a transição, hoje, por causa
da intervenção externa, está convertida em muito mais do que o povo poderia
arrancar pela violência. Essa é a importância de fazer cessar todas as formas de
violência. Essa é a razão pela qual estive em Moscou e em Pequim. Viajei para
encontrar pessoas que possam pressionar as autoridades sírias para que
interrompam definitivamente a solução militar de ‘'segurança'’. Isso é
essencialmente importante. Há 13 meses, a violência só aumentou. É preciso que a
violência retroceda, que volte, pelo menos, a um nível “normal”, para que os
sírios possamos voltar a falar de revolução.
Revolução
não é carregar armas ou matar soldados. Revolução é uma mudança na moralidade,
na conduta e nas instituições. Tudo isso requer que recuperemos a paz. Sem paz,
só os rifles falam. Nesse caso, procurar um representante político é procurar um
senhor da guerra. Hoje, um senhor da guerra é muito mais útil para um
pesquisador ou para um jornalista que deseje entender a situação, do que algum
comentarista político. Claro que muitos, nos cargos de poder, não foram e não
estão corrompidos, poluídos pelo autoritarismo e pela corrupção. Há os que são
legítimos, honestos servidores públicos. Esses, serviram ao estado, não ao
regime. Muitos desses serão naturalmente parte do processo de mudança. Como
poderemos selecionar as capacidades dos sírios, que existem em diferentes
locais, para que tenhamos um período de transição, sob governo unificado? Na
minha opinião, essa é a melhor solução a encaminhar agora, para sairmos da
situação em que estamos, com um mínimo de perdas.
BH: Como
se fará isso, sobretudo com as divisões que há? Há gente que já desistiu e já
não apoia o levante sírio. Ninguém consegue ver metas claras a apoiar, mesmo que
muitos se oponham tanto ao regime de Assad quanto à intervenção externa. E muita
gente está nessa posição dupla, embora, sim, a maioria pareça estar fora, não
dentro da Síria. Em termos práticos, o que pode fazer um sírio que já não
concorde com a trajetória do levante, considerando-se a situação que temos hoje?
HM: Entendo
perfeitamente o que você diz e concordo integralmente. Muita gente afastou-se do
levante inicial, depois que apareceram as armas. Mas nenhum desses, até agora,
levantou alguma bandeira branca, de rendição. Nenhum desses passou a defender a
ditadura. Ninguém, sequer, abraçou o pacote de reformas práticas que o regime
propôs. De um modo ou de outro, a maioria mantém-se no campo do projeto de
mudança democrática. Hoje enfrentamos uma situação em que esse projeto foi
obstruído. Portanto, é possível desbloquear a situação e remover a obstrução que
há hoje à frente do projeto. Por isso tantos apoiaram tão fortemente o plano de
Kofi Annan.
Muitos
grupos, a maioria dos sírios que apoiam o Plano Annan ainda estão tentando
encontrar algum modo para chegarmos a uma solução política. Os que se opõem ao
Plano Annan, inclusive grupos do nosso campo, ainda não perceberam o que
significará o fracasso do Plano Annan. Não se discute hoje um programa para
mudança democrática não violenta. O único “programa” que se discute é a guerra
civil. Mas temos de discutir um programa pacífico de mudança democrática,
comprometido com a não violência da revolução. A única garantia que resta para
salvar a unidade da Síria é a não violência.
BH: Há os
que ouvem o que o senhor diz e respondem que não poderá haver solução política
enquanto existir o regime de Assad. Dizem que o regime não tem interesse algum
em partilhar o poder. Que, por isso, o levante converteu-se em luta armada; o
que levou a nada, porque o regime é mais forte. O senhor fala de solução
política e, simultaneamente, diz que o regime está praticamente acabado. Como o
senhor reconcilia essas duas ideias? Por que o regime cometeria suicídio, a
menos que seja forçado a isso?
HM: Não, não
vejo assim. Creio que, de certo modo, há um percurso “darwiniano : partes que já
não têm qualquer função tendem a sumir. O problema é com a função “ditadura” que
não tem como sobreviver, e desaparecerá. A autoridade está equilibrada sobre uma
fonte de instabilidade, que pode derrubar todo o sistema. O que quero dizer é
que o Estado sírio pode ser destruído, se persistir a ideia de que a solução
militar ainda pode levar a alguma saída. Na solução militar não haverá vencedor:
nem o regime vencerá, nem a oposição vencerá. Temos de lembrar de uma coisa: foi
a violência que levou à crise de confiança na revolução, pela sociedade síria. E
a violência também provocou afastamento entre a autoridade e a sociedade. Esse é
o fundamento de por que é tão importante parar a violência. É a causa pela qual
temos de nos opor à violência. A violência não contribui para os objetivos de
quem deseje ter algum papel na Síria do futuro. Não ajuda ninguém.
Gostaria
de dizer uma coisa: não há um único sírio, independente da posição, que tenha
algo a ganhar com o enfraquecimento da Síria, ainda maior do que o muito que a
Síria já foi enfraquecida. O enfraquecimento da Síria só significa que nos
tornaremos prisioneiros da “ajuda” internacional e das forças não democráticas
dos Estados do Golfo, os quais, o que mais desejam, é uma vastíssima crise
fiscal na Síria. Por isso, precisamente, empenharam-se tão pouco em construir um
cessar-fogo. Quanto mais fraca a Síria, mais forte o papel desses atores
externos. Temos de nos empenhar muito em manter a Síria forte.
Essa
é a causa pela qual, desde que lançamos o Corpo de Coordenação Nacional para
Fortalecer a Mudança Democrática, sempre falamos em uma Síria civil, democrática
e forte. Todos sabemos que uma Síria fraca nos relembrará o Sudão antes do
governo de Omar al-Bashir.
Temos
de obter mudanças que acolham noções de desenvolvimento, despertar, e estado de
direito. Temos de poder nos orgulhar da revolução síria, que ela seja exemplo a
seguir por outros povos. Por isso é indispensável construir solução política. No
que tenha a ver com violência e capacidade humana, há uma questão econômica. A
solução política pela qual lutamos é filha de outras experiências. Quanto mais
se marginaliza a solução política, mais sectária e mais extremista resulta a
revolução.
Quem
teria algo a ganhar com mais extremismo e retórica cada vez mais sectária? É
possível construir a Síria com extremismo e sectarismo? Não acredito. Por isso
acredito tanto no Plano Annan, independente do nome que receba. É importante no
que tenha a ver com a questão fundamental. Essa questão é por fim à violência em
nome de dar ao discurso político o lugar que ele tem de ocupar. Só depois disso
se poderá cogitar de uma maioria síria que seja contra a volta da violência,
venha sob a forma que vier.
[Continua]
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