10/9/2012, Robert
Parry, Consortium News
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
No
Twitter, de Blog do Noblat @BlogdoNoblat,
9:36 PM - 9 Sep 12
Nada
pode ser pior do que um despreparado, um s/equipe, um ator travestido de
advogado dos + pobres ser eleito prefeito. E logo de SP.
RESPOSTA,
21h, Vila Vudu @VilaVudu
@BlogdoNoblat,
sinceramente: já tô achano q o Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) MERECE
Ruçomano-prefeito. Ah! E a Febraban e a Fiesp, tb! Kkkkkkkkk
Robert Parry |
O
“verificador de fatos” [orig. fact Checker] políticos do Washington
Post, Glenn Kessler, atribuiu “quatro Pinóquios” à campanha Obama, por ter
chamado Mitt Romney de “empresário-abutre” [orig. corporate raider], que
vive da desgraça de empresas em dificuldades. Mas novo artigo de Matt Taibbi da
revista Rolling Stone [1]
explica
que, sim, a expressão aplica-se perfeitamente ao que faz a empresa de Romney,
Bain Capital.
Taibbi
conta como, nos anos 1980s, Romney foi pioneiro da estratégia negocial de atacar
empresas em situação de vulnerabilidade, sufocá-las em empréstimos (e dívidas)
gigantescas, sangrá-las com juros escorchantes, forçá-las a demitir empregados
e, não raras vezes, arrastá-las à falência – em processo do qual o próprio
Romney e sua financiadora Bain
Capital saíram sempre com lucros de milhões de dólares.
Matt Taibbi |
Taibbi
vê Romney também como pioneiro noutro sentido, fundador do novo mundo sem estado
dos ultrarricos, construtor de um “arquipélago” de enclaves de privilegiados,
nos quais os extravagantemente ricos podem viver afastados das criaturas médias,
deixadas para trás nos antiquados estados-nação cujos recursos são drenados para
beneficiar o “arquipélago”.
“Obama
concorreu “para mudar” em 2008,” escreveu Taibbi, “mas Mitt
Romney representa mudança muito mais sísmica e muito mais real, na paisagem dos
EUA. Romney é o artilheiro e apóstolo de uma revolução econômica, na qual se
produzem negócios, não produtos; a riqueza é gerada sem a correspondente
prosperidade, e brotam e são cultivadas adoráveis parcerias nas Ilhas Cayman,
enquanto, nos EUA, as cidades são desgraçadas.
O
objetivo absoluto do modelo de negócios do qual Romney é pioneiro é levar o
dinheiro para o arquipélago, vindo de todos os pontos fora dele, usando
quantidade massiva de dívidas subsidiadas pelo contribuinte para enriquecer um
punhado de bilionários. É uma visão enlouquecida da sociedade, viciosa,
pervertida e quase inacreditavelmente egoísta.
Pois
o homem está concorrendo à presidência dos EUA e tem real chance de ser
eleito.
Em
outras palavras, os bucaneiros da “financeirização” e da “reestruturação
corporativa” já construíram e comandam seu império de abutres. E agora
despacharam seu abutre-campeão para governar as massas conquistadas.
Defender
Romney!
Pois,
mesmo assim, o jornalista do Post decidiu defender o modelo de negócio de
Romney. Disse que é injusto chamá-lo de “empresário-abutre”. Kessler baseia sua
defesa no fato de que a empresa de Romney, Bain Capital, sempre evitou brigas no
processo de ocupar e tomar suas empresas-alvo, preferindo, em vez das disputas,
vencer mediante “soluções de gestão”. Kessler insiste que só se poderiam
classificar como “empresários-abutres” os que fazem mais agressivamente o que
Romney faz; se a velha administração da empresa-alvo é demitida com violência.
Rick Perry |
Mas
“empresa/empresário-abutre” também se aplica a empresa privada de investimentos
que ataca empresas em situação de risco, assegura para si número de ações que
lhe dê o controle e, em seguida, sangra todos os recursos da empresa-alvo, até
exauri-la, o que levou o governador do Texas, Rick Perry, a descrever Romney
como “capitalista-urubu”, expressão que ficou famosa.
Mas
a interpretação de Kessler do que seja “empresário/empresa-abutre” não combina,
sequer com a definição que ele mesmo cita, extraída da página Investopedia
da Internet, que define a expressão como:
Investidor
que compra grande número de ações de uma empresa cujo patrimônio pareça estar
subvalorizado. O grande número de ações dá ao investidor consideráveis direitos
de voto e decisão, que então são usados para forçar mudanças radicais no comando
e na gestão da empresa. O movimento faz subir o valor das ações e, assim, gera
retorno massivo de lucros para o investidor atacante.
Tudo,
nessa definição, aplica-se ao que a empresa Bain Capital, de Romney, sempre fez nas
empresas que ocupou e tomou. Estimou o valor potencial de empresas em
dificuldades, comprou a maioria das ações com voto, forçou mudanças na
administração que visavam exclusivamente a fazer aumentar o valor da ação (quase
sempre, movimentos espetaculares de demissão em massa de empregados), e obteve
grandes lucros, ou vendendo suas ações ou estatizando a empresa. Bain ganhava dinheiro também quando a
empresa ia à bancarrota.
O
que Taibbi acrescenta a essa compreensão de Romney como “empresário abutre”
gentil, é que o assalto, pelo modus operandi inventado pela empresa Bain Capital, evitava o incômodo de
abordar o navio atacado com espadas, ganchos e mosquetões. A empresa de Romney
simplesmente subornava os administradores antigos, oferecendo-lhe parte do
saque. Nas palavras de Taibbi:
Romney
e Bain evitavam a abordagem hostil. Preferiam sempre garantir a cooperação dos
administradores das empresas que escolhiam como alvos, oferecendo-lhes gordos
bônus. Se o corpo de administração de uma empresa está na gaveta, o resto é só
matemática. Se uma empresa-alvo vale $500 milhões, Bain tirava 20 milhões do
próprio bolso e tomava um empréstimo de $350 milhões de um banco, para comprar
um controle acionário.
Mas
é aí que está o pulo do gato. Quanto Bain toma todo esse dinheiro emprestado,
quem se endivida não é Romney, mas a empresa que ele esteja
atacando.
No
frigir dos ovos, dado que os antigos administradores também já estavam “na
jogada”, as principais vítimas sempre foram os empregados, que perdem tudo, o
emprego, o salário e os benefícios. Sofrem também as comunidades que vivam em
torno das empresas “atacadas”, que passam a ter de conviver com fábricas
fechadas, desemprego sem remédio e o stress social e pessoal que acompanha o
desemprego.
Mas
Romney e seus colegas financistas de Wall
Street não gostam de gente “perdedora”, sequer compreendem o que acontece
longe de seus escritórios, porque os “vencedores” já transferiram o que
encontraram de aproveitável na empresa que já “flexibilizaram” ou detonaram até
os alicerces, para o “arquipélago” dos ultrarricos, em suas comunidades muradas,
de mansões e vilas globais blindadas, nos territórios dessa nova aristocracia.
Fato
é que, sim, há algo de audácia, na candidatura de Romney à presidência,
sobretudo acontecida agora, tão imediatamente depois do “resgate” de Wall Street
em 2008, com transferência de trilhões de dívidas e respectivos papéis podres
para a carroça que o público dos EUA tem de continuar a puxar.
Hoje,
um dos homens de Wall Street é candidato à presidência dos EUA, num dos dois
grandes partidos. É como se os EUA que ainda lutam fossem apenas mais uma das
empresas que Bain Capital pôs na
mira. Uma que, agora, deve aceitar o prazer de ter um dos dois “artistas” da
empresa Bain instalado na cadeira
presidencial, democraticamente eleito para o posto de abutre-em-chefe.
Procurando
“o equilíbrio”, a “isenção”...
Glenn Kessler |
O
que se está vendo é que nesse momento crucial da vida dos EUA, Kessler e outros
jornalistas “verificadores de fatos” parecem nervosos, com medo de, no final,
verem-se no lado errado da nova ordem. Mesmo já se sabendo que a campanha de
Romney é indiferente a qualquer “verificação” de qualquer fato, Kessler e outros
como ele ainda tentam comprovar algum “equilíbrio”... Para tanto, vez ou outra,
dedicam-se a “verificar” nos exageros da campanha dos Democratas, quantidade
correspondente dos vícios que “verificam” na campanha de Romney, que vende
mentiras no atacado e no varejo. (...)
Como
Taibbi observou:
Os
novos proprietários da indústria norte-americana são o oposto polar dos Milton
Hersheys e Andrew Carnegies que construíram o país, que se orgulhavam de suas
realizações, construíram hospitais, escolas, bibliotecas, não raras vezes
deixando atrás de si cidades inteiras que homenageiam aquela
história.
Muito
diferente deles, escreveu Taibbi:
“Romney
é perfeito representante de um lado da odiosa divisão cultural que definirá a
próxima geração, não só nos EUA, mas em todo o mundo. Esqueçam a “estratégia
sulista”, estados azuis versus
estados vermelhos, estados oscilantes e eleitores indecisos – todos esses são
clichês-relíquia de um tempo muito menos ameaçador, mas que já é passado, ou
será, em pouco tempo.
O próximo conflito que definirá os norte-americanos é outro, e
horrível.
Será
o conflito entre os que moram ‘bem’ e os que nem casa têm. Entre gente que se
considera cidadãos de países reais, aos quais dedicam amor e fidelidade, e gente
cujos países nada significam, que vivem em arquipélagos globais sem estado,
terras só de privilégios feitas – uma coleção de escolas privadas, paraísos
fiscais, comunidades residenciais muradas, cercadas, blindadas, sem conexão com
o mundo exterior.
Mitt
Romney não é azul ou vermelho: é homem do arquipélago. (...) Talvez essa mudança
esteja a caminho, gostemos ou não. Talvez Mitt Romney seja o homem ideal para
conduzir essa transição. Mas, para os eleitores, talvez ainda pareça um pouco
cedo para rendição absoluta, em ritmo enlouquecido de
liquidação.
Mas
a verdade é que jornalistas “verificadores de fatos”, e ditos “independentes”,
como Kessler do Post, esses, já se renderam vergonhosamente.
Nota dos tradutores
[1] 29/8/2012, Rolling Stone Politics, Matt Taibbi, em: “Greed
and Debt: The True Story of Mitt Romney and Bain Capital”.
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