Publicado
em 04/09/2012 por Mário Augusto Jakobskind*
Quando
se encerra parte do julgamento do chamado mensalão em que a maioria dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal considerou os acusados culpados, entre
outros crimes, pelo desvio de dinheiro público, a pergunta que não quer calar é:
quando a opinião pública será informada sobre a punição dos corruptores? Por
enquanto só foram incriminados os intermediários acusados de corrupção das mais
variadas espécies, como Valério e outros, inclusive os funcionários do Banco
Rural. João Paulo Cunha mandou a mulher pegar 50 mil reais no caixa e assim
sucessivamente.
A
mídia de mercado, que antes mesmo da decisão dos Ministros já havia condenado os
acusados, não tem o mesmo interesse em apontar os corruptores, os grupos que sai
ano entra ano, sai governo entra governo estão ditando regras e se locupletando,
mas geralmente não são punidos. Fazem parte da rotina do
sistema.
Na
CPMI que apura os vínculos de Carlos Cachoeira com o mundo político, grupos
econômicos e da mídia de mercado, como a revista Veja, são poupados. Nem mesmo
evidências como as apontadas em gravações comprovando estreitos vínculos de
Cachoeira com o jornalista Policarpo Júnior, diretor da revista Veja, têm força
suficiente para que os parlamentares decidam convocá-lo, e ao poderoso chefão do
grupo Abril, Roberto Civita, para esclarecer fatos.
A
Construtora Delta tem maior raio de ação no Rio de Janeiro, mas os
representantes do povo não convocaram, pelo menos por enquanto, o Governador
Sergio Cabral e mesmo o Prefeito Eduardo Paes para prestar esclarecimentos sobre
fortes indícios de condutas irregulares envolvendo o Poder Público. Há poucas
cobranças nesse sentido, para falar a verdade, quase
nenhuma.
Por
estas e muitas outras, não basta apenas condenar os acusados de práticas de
corrupção e deixar os corruptores de fora. Provavelmente, aproveitando a visível
euforia pelas decisões dos Ministros do STF, os meios de comunicação de mercado
continuem deliberadamente a ignorar os corruptores.
Nessa
rotina, não será nenhuma surpresa se daqui a pouco surgirem, ou se já não
surgiram, novas Deltas e demais corruptores com outros nomes, que contarão com o
silêncio de sempre.
Não
é preciso nenhuma bola de cristal para prever o surgimento de mais esquemas
mafiosos envolvendo não apenas cidadãos acima de qualquer suspeita como
corruptores das mais variadas espécies.
Em
suma: tudo bem quanto a condenar corruptos, mas os corruptos só existem porque
corruptores mafiosos agem há muitos e muitos anos, e seguem impunes, mesmo com o
acompanhamento dos fatos pela opinião pública.
Há
também quadrilhas mafiosas agindo nas mais variadas esferas e contando com a
impunidade que lhes proporciona o próprio sistema do
capital.
Enquanto
isso, no Centro de Pesquisa da Petrobrás (Cenpes), três trabalhadores de uma
empresa que presta serviços à estatal petrolífera foram retirados do trabalho em
um camburão e processados criminalmente, segundo informa a Agência Petroleira de
Notícias. Um deles, Cláudio Charles Gonçalves, de 33 anos, está preso na 54º DP,
em Belford Roxo e já estava para ser transferido ao presídio de
Bangu.
E
sabem os leitores o motivo das prisões? De tentarem levar para casa um frango
jogado no lixo. Eles prestavam serviços à firma Ultraserve, contratada pela
Petrobrás e responsável por servir as refeições no restaurante do
Cenpes.
Tal
fato confirma uma coisa, a de que de um modo geral só os pobres são punidos,
mesmo que tenham eventualmente roubado galinhas ou se apropriado de produtos
recolhidos do lixo, como aconteceu com os três trabalhadores mencionados, mas
empresas que cometem irregularidades ou os corruptores são
poupados.
A
propósito de trabalhadores, no Estado de Tocantins, a Superintendência Regional
de Trabalho e Emprego libertou nestes dias 56 pessoas de condições análogas à
escravidão da Fazenda Água Amarela, em Araguatins . A área
reflorestada de eucaliptos, que também abrigava 99 fornos de carvão vegetal,
estava sendo explorada pela RPC Energética.
De
acordo com apurações da fiscalização trabalhista, ainda que registrada em nome
de um “laranja”, a empresa pertence a Paulo Alexandre Bernardes da Silva
Júnior e André Luiz de Castro Abreu, irmão da senadora Kátia Abreu (PSD-TO),
liderança ruralista que também é presidente da Confederação Nacional de
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Pois
é, a senadora volta e meia discursa em defesa dos ruralistas, que ela representa
no Congresso, e faz ameaças no caso de o Código Florestal não for promulgado de
acordo com os interesses dos grupos fundiários por ela
defendidos.
E
no Rio de Janeiro, o candidato a vereador e ex-prefeito Cesar Maia, o ator
Victor Fasano, a ex-presidente da Fundação Riozoo, Anita Carolina Levy Barra, o
ex-secretário de Meio Ambiente do Rio, Ayrton Xerez e o Criadouro de Aves
Tropicus terão que devolver aos cofres públicos um total de R$ 520 mil. Eles
foram condenados por ato de improbidade administrativa pela juíza Maria Paula
Gouvea Galhardo, da 4ª Vara da Fazenda Pública da capital.
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Antes
tarde do que nunca! O coronel reformado Sebastião Moura, conhecido como major
Curió, e o major da reserva Lucio Augusto Maciel foram denunciados pela Justiça
do Pará por crimes de sequestro de guerrilheiros do Araguaia cometidos na época
da ditadura. Os dois acusados pelo Ministério Público terão de responder por
escrito às acusações.
A
decisão da Justiça paraense demonstra também que crimes da natureza de que são
acusados os referidos militares não prescrevem. Espera-se que desta vez a ação
judicial chegue mesmo até o fim.
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil
do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de
São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto da Redação
Charge do Simch (sul21)
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