quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

70 anos da Batalha de Stalingrado


Max Altman* - janeiro de 2013
Texto enviado pelo autor
Ilustrações colhidas na internet pela redecastorphoto


Mal. Von Paulus
Faz exatos 70 anos. No dia 31 de janeiro de 1943, o marechal Friedrich Von Paulus, comandante do VI Exército alemão, comunicava sua capitulação incondicional ao general Vassili Chuikov, comandante do Exército Vermelho em Stalingrado.

Estava encerrada a mais feroz, a mais encarniçada, a mais renhida e sangrenta, a mais comovente, a mais obstinada e violenta, a mais cruenta e impetuosa das batalhas militares que a História da humanidade conheceu.

Estava quebrada a espinha dorsal da poderosa máquina de guerra nazista e do Terceiro Reich. A Segunda Guerra Mundial sofria, naquele momento, dramática guinada.

A humanidade deve aos heróicos soldados do Exército Vermelho ter se livrado das trevas do nazi-fascismo. Todo ser humano, defensor da democracia, da liberdade, da fraternidade, tem o dever de ressaltar sempre e em cada momento o significado desta epopéia.

A Alemanha nazista era poderosa e intensa a sua influência política. Se tivesse derrotado o Exército Vermelho, a sombra do nazismo pairaria por muitas e muitas décadas sobre povos e nações do mundo inteiro, com todo o seu horror ideológico e racial. 

Assistam a seguir o filme "Stalingrado - A batalha final" (legendado em português) e o excelente resumo histórico do Max Altman.


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Stalingrado salvou a humanidade da sanha nazi-fascista

Por volta de setembro de 1942, a soma das conquistas de Hitler era estarrecedora. O Mediterrâneo havia se tornado praticamente um lago do Eixo, a Alemanha nazista e a Itália fascista dominando a maior parte da costa setentrional, desde a Espanha até a Turquia e a costa meridional da Tunísia até cerca de 100 quilômetros distante do rio Nilo. As tropas da Wehrmacht mantinham guarda desde o cabo setentrional da Noruega, no Oceano Ártico, até o Egito; da ocidental Brest no Atlântico até a parte sul do rio Volga, às bordas da Ásia Central. Regimes fascistas pré-existentes e governos fantoches faziam o jogo do Reich nazista. França, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, os Bálcãs, a Grécia e outras mais já haviam sido engolidas pelas Panzer Divisionen.

Em fins do verão de 1942, Adolf Hitler parecia estar em esplêndida situação. Os submarinos alemães estavam afundando 700.000 toneladas por mês de barcos britânicos e americanos no Atlântico, mais do que se poderia substituir nos estaleiros navais dos Estados Unidos, Canadá e Escócia, então em franco progresso.
As tropas nazistas do 6º Exército do marechal Friedrich von Paulus haviam alcançado o Volga, exatamente ao norte de Stalingrado em 23 de agosto. Dois dias antes, a suástica tinha sido hasteada no monte Elbruz, o ponto mais alto das montanhas do Cáucaso (5.642 metros). Os campos petrolíferos de Maikop, que produziam anualmente 2,5 milhões de toneladas de petróleo, haviam sido conquistados em 8 de agosto. No dia 25, os blindados do general Kleist chegaram a Mozdok, distante apenas 80 quilômetros do principal centro petrolífero soviético, nas imediações de Grozny e a cerca de 150 quilômetros do mar Cáspio. 

No dia 31 de agosto, Hitler ordenou que o marechal-de-campo List, comandante dos exércitos do Cáucaso, reunisse todas as forças existentes para o assalto final a Grozny, a fim de se apoderar de todos os ricos campos petrolíferos da região.

Determinou que o 6º Exército e o 4º Exército Panzer se lançassem para o Norte, ao longo do Volga, cercando e sufocando Stalingrado, num vasto movimento envolvente que lhe permitisse avançar de leste e de oeste contra o centro da Rússia, tomando, finalmente, Moscou. Ao almirante Raeder, no final de agosto, Hitler dizia que a União Soviética "era um 'lebensraum' (espaço vital), à prova de bloqueio" o que lhe ensejava voltar-se para os ingleses e americanos que "seriam obrigados a discutir os termos da paz".

Com essas conquistas vitais o "Reich de mil anos" estaria garantindo sua subsistência e permanência: as vastas estepes da Ucrânia, ubérrimas, a fazer brotar um infindável celeiro dourado de trigais; os abundantes campos de ouro negro a besuntar de energia a máquina bélica e industrial alemã.

As imagens mais longínquas de minha meninice datam dessa época. Registram meu pai, cercado de amigos, debruçados sobre um mapa da Europa estendido sobre a mesa, lupa em punho, rádio em ondas curtas. Esta mesma cena provavelmente estaria se repetindo em milhões de outros lares pelo mundo afora. Anos mais tarde, meu pai, um jovem revolucionário imbuído de ideais socialistas, que no começo dos anos 1930 tinha abandonado a Polônia de governo pró-nazi e anti-semita para vir ao Brasil, relatava a agonia e o horror com que acompanhavam a expansão irrefreável do império nazista.
Quando os cabogramas anunciaram que a infantaria alemã havia atravessado o Don silencioso em direção a Stalingrado, o assombro se instalou. E se a Alemanha nazista derrotasse a União Soviética?

A ideologia da supremacia racial ariana de Hitler se abateria sobre grande parte do mundo.

Negros, eslavos, indígenas, árabes, mestiços, mulatos, amarelos, sub-raças e escória social, trabalhariam sob o tacão de ferro do nazismo, como semi-escravos, para a glória da raça superior. Povos inteiros, judeus, ciganos, seriam aniquilados em nome da limpeza étnica. Comunistas, socialistas e liberais seriam confinados em campos de concentração e de lá não sairiam vivos.

O colonialismo na África e Ásia ganharia alento. As liberdades seriam espezinhadas e governos lacaios em todos os quadrantes se encarregariam de organizar gestapos em cujos porões um elenco monstruoso de torturas ao som da Deutschland Über Alles seria levado a cabo contra os inimigos do regime. As conquistas sociais dos trabalhadores estariam esmagadas.

O progresso, as artes, as ciências sofreriam abalo. Além do que, Werner von Braun e seus assistentes em Penemunde estariam aperfeiçoando as mortíferas bombas voadoras de longo alcance com ogivas nucleares e outras máquinas bélicas de alta tecnologia a pender como espada de Dâmocles sobre qualquer país que ousasse desafiar o Reich alemão. E se alguma nação pretendesse enfrentar os interesses do Grande Império Germânico novas ondas de panzers ou de bombas V1 e V2 desencadeariam blitzkriegs preventivas para aniquilar pelo terror qualquer tentativa.


Quando o jovem general Konstantin Rokossovsky, levando a cabo as instruções táticas da Operação Uranus ordenadas diretamente de Moscou e arquitetadas pelos generais Alexander Vasilievsky e Vasily Volsky, conseguiu romper, em 19 de novembro, o anel de aço que cercava Stalingrado, a esperança reacendeu. No entanto, a cidade estava sitiada, os seguidos bombardeios da Luftwaffe haviam-na reduzido a escombros.

Dia após dia o cerco se apertava e em fins de novembro a zona urbana era invadida. Veio a ordem terminante: defender a todo custo as fábricas Outubro Vermelho e Barricadas que produziam os carros de assalto, a Fábrica de Tratores que construía os blindados T-34 e a estação ferroviária central onde as matérias primas eram desembarcadas.

Iniciou-se então a mais feroz, a mais encarniçada, a mais renhida e sangrenta, a mais dramática das batalhas militares que a História da humanidade conheceu.

O terreno coberto de destroços impedia qualquer ação de blindados, a proximidade dos contendores tornava impraticável a cobertura aérea. Só restava calar baionetas e passar a travar a luta casa a casa, corpo a corpo, em cada centímetro de chão. Para ilustrar a tenacidade com que se combatia, basta lembrar que a plataforma semidestruída da estação de trens mudou de mãos sete vezes num único dia. Os operários da Outubro Vermelho empunharam armas e estabeleceram uma muralha de fogo em torno da fábrica. Jamais se havia visto tantas cenas de heroísmo, bravura e coragem, de lado a lado, naquele cenário lúgubre das ruínas da cidade. Nunca antes soldados haviam lutado com tanto denodo para conquistar e defender.

Em 30 de janeiro de 1943, décimo aniversário da subida de Hitler ao poder, o führer fazia uma solene proclamação pelo rádio: "Daqui a mil anos os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida". 

Mal. Von Paulus (último à direita) assina rendição diante do Gen. Chuikov e oficiais russos

Três dias depois, em 2 de fevereiro, o marechal-de-campo Von Paulus assinava diante do general Vassili Chuikov, comandante das tropas do Exército Vermelho em Stalingrado, a rendição do 6º Exército alemão.

A transmissão da capitulação foi feita em Berlim, através da rádio alemã, pelo general Zeitzler, chefe do Alto Comando da Wehrmacht (OKW) precedida do rufar abafado de tambores e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven.

A maior e a mais épica das batalhas da 2ª Guerra Mundial que tivera início em 26 de junho havia chegado ao fim. Foram feitos prisioneiros pelos soviéticos 94.500 soldados alemães dos quais 2.500 oficiais, 24 generais e o próprio marechal Von Paulus. Mortos cerca de 140.000 soldados da Wehrmacht e 200.000 homens do Exército Vermelho. Os soviéticos tomaram do exército inimigo 60.000 veículos, 1.500 blindados e 6.000 canhões. A espinha dorsal do exército nazista e do Terceiro Reich estava irremediavelmente quebrada.

Os mesmos milhões de lares que tinham vivido momentos de apreensão e pavor explodiram de emoção.

Hitler havia mordido o pó da derrota.

Corações e mentes voltaram-se para glorificar os heróis combatentes do Exército Vermelho e honrar os que tombaram no campo de batalha pela liberdade. A admiração pela extraordinária façanha impunha a pergunta: o que levou aquele contingente de centenas de milhares de jovens a lutar com tal fúria e obstinação? Certamente o apelo da Grande Guerra Patriótica, livrar o solo pátrio do invasor.

Havia mais. A leitura das lancinantes cartas aos familiares escritas no front deixava evidente a determinação de defender as conquistas da Revolução de Outubro por cuja consolidação seus pais, 25 anos antes, haviam derramado sangue enfrentando e derrotando o exército branco e tropas invasoras de catorze países mobilizados para sufocar no nascedouro a revolução bolchevique.

A partir daí o Exército Vermelho arrancou impetuoso rumo a capital do Reich nazista, abrindo em sua passagem os portões macabros de Auschwitz-Birkenau.

As tropas anglo-americanas desembarcam na Normandia em 6 de junho de 1944. No dia 2 de maio de 1945, soldados do destacamento avançado do general Ivan Koniev hasteiam a bandeira soviética no mastro principal do Reichstag.

Cinco dias depois, numa pequena escola de tijolos vermelhos em Reims, França, na madrugada de 8 de maio de 1945, o almirante Friedeburg e o general Jodl assinam, em nome do que restou da máquina de guerra nazista, diante do general Ivan Susloparov pela União Soviética, e do general Walter Bedell Smith pelos aliados, a rendição incondicional.

Os canhões cessaram de troar e as bombas deixaram de cair. Um estranho silêncio pairou sobre o continente europeu pela primeira vez desde 1º de setembro de 1939.

O mundo estava livre da sanha nazi-fascista.


Max Altman* é jornalista, estudioso das questões internacionais, membro do Coletivo da Secretaria Nacional de Relações Internacionais do Partiudo dos Trabalhadores, coordenador geral do Comitê Brasileiro pela Libertação dos 5 Patriotas Cubanos.  

Um comentário:

  1. Artigo de Mauro Santayana enviado por e-mail e postado por Castor

    A cidade que salvou o mundo

    No tempo em que surgem, em nome da cínica “isenção” dos historiadores, os que tentam, na Alemanha e em outros países, rever os fatos e desculpar Hitler e os seus seguidores, é bom relembrar a Batalha de Stalingrado, encerrada há 70 anos, e reverenciar os que ali morreram. Graças à sua bravura, conseguimos preservar alguns dos grandes valores do humanismo.

    Mauro Santayana

    Há setenta anos, depois de mais de dois milhões de mortos nos dois campos (a União Soviética perdeu mais de um milhão e cem mil combatentes e civis, só nesse combate) terminou a mais sangrenta de todas as batalhas da História – a de Stalingrado.

    Com a capitulação de von Paulus e mais 22 generais de Hitler, e 91.000 de seus soldados remanescentes, a Segunda Guerra Mundial foi decidida ali. Até então, o Fuehrer e suas tropas pareciam invencíveis. Em julho de 1942, quando se iniciou a batalha na cidade, Hitler e Mussolini dominavam todo o território continental europeu e parte da Escandinávia - com a exceção dos paises neutros, como a Suíça e a Suécia. A Noruega, apesar de sua declaração de neutralidade, foi invadida pelos alemães e resistiu com bravura à superioridade bélica dos agressores durante 60 dias, sendo obrigada a capitular.

    As Ilhas Britânicas resistiram, com estoicismo, depois da dramática retirada de Dunquerque, aos bombardeios quase cotidianos de Londres e de seus centros industriais pelas bombas voadoras, e pelos aviões da Luftwaffe. Os americanos, que lutavam no Pacífico, adiaram por muitos meses o envio de tropas ao teatro europeu. O seu desembarque, na Sicília, só ocorreu em julho de 1943, quando, com a virada de Stalingrado, os soviéticos já haviam iniciado a contraofensiva, com a marcha sobre Berlim. Se Hitler vencesse a guerra na Europa, seus simpatizantes norte-americanos, entre eles o seu maior industrial, Henry Ford, e o seu herói nacional, Charles Lindbergh, seriam provavelmente estimulados a liderar um movimento fascista na América.

    O mais pesado dos tributos de sangue e bravura no confronto com a Alemanha Nazista coube aos soviéticos e à resistência dos guerrilheiros, entre eles os comandados por Tito, na Iugoslávia. No inventário dos sacrifícios, o maior foi o do povo de Stalingrado e dos soldados soviéticos que ali combateram e morreram.

    Ainda que tenham sido comunistas os comandantes da resistência à invasão alemã de junho de 1941, eles tiveram a inteligência de não atribuir só ao regime os louros do triunfo. Assim, deram à sua luta o título de A Grande Guerra Pátria.

    Hitler e seus ideólogos, ao planejar a Operação Barbarossa, supuseram que os eslavos iriam saudar as suas tropas como libertadoras. Embora isso tenha ocorrido em certas cidades polonesas e, é claro, em antigos enclaves germânicos perdidos na Primeira Guerra Mundial, os russos imediatamente formaram seus grupos de guerrilheiros, com homens e mulheres, trabalhadores das cidades e dos meios rurais, sob o comando dos comunistas, mas também dos líderes nascidos no clamor da urgência, muitos deles bem jovens.

    Não era só o regime socialista que se via ameaçado; era a Pátria que estava sendo agredida por tropas estrangeiras. Stalingrado era um ponto estratégico para a ofensiva de Hitler. Lutou-se naquela cidade, durante seis meses e quinze dias, minuto a minuto, de bairro em bairro, de casa em casa, até a derrota dos alemães. Ao heroísmo dos resistentes de Stalingrado, civis e soldados soviéticos, cabe a parcela mais significativa dos sacrifícios da Europa Oriental, que perdeu mais de vinte milhões de seus habitantes durante o conflito.

    No tempo em que surgem, em nome da cínica “isenção” dos historiadores, os que tentam, na Alemanha e em outros países, rever os fatos e desculpar Hitler e os seus seguidores, é bom relembrar a Batalha de Stalingrado e reverenciar os que ali morreram. Graças à sua bravura, conseguimos preservar alguns dos grandes valores do humanismo.

    http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5959

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