28/12/2012, Paul R. Pillar*, Consortium News
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Desde que foi aventado o nome de Chuck
Hagel (na foto com Obama) - antigo senador pelo Partido Republicano - como Secretário da Defesa dos
EUA, ele tem sido vilipendiado e colocado na “lista negra” por suspeita de ser
“esquerdista” e não ter “suficiente apoio de Israel”; isso é uma nova forma de
McCarthyismo.
Sou
suficientemente velho para ainda ter lembrança vaga, mas direta, de uma mancha
na história dos EUA que se tornou conhecida como “o McCarthyismo”. Numa das
recordações mais vívidas, revejo meus pais, em 1954, assistindo aos depoimentos
televisionados do processo Exército-McCarthy – a primeira investigação conduzida
pelo Congresso que foi televisionada em rede nacional nos EUA.
Embora
eu fosse então jovem demais para perceber, aqueles depoimentos marcaram o começo
do fim da horrenda campanha de calúnias e difamação orquestrada pelo senador
Joseph McCarthy. Antes do fim do ano, o senador foi formalmente censurado pelo
Senado dos EUA.
Joseph McCarthy |
Um
dos principais fatores que aceleraram o fim da campanha de difamação e detonação
de reputações capitaneada pelo senador McCarthy foi o trabalho da imprensa
naqueles primeiros dias da era da televisão. A cobertura pela mídia, dos
interrogatórios e depoimentos de 1954, que duraram várias semanas e nos quais se
ouviam acusação e defesa, todos reunidos numa mesma sala de audiências, tornou
completamente impossível não entender do que realmente se tratava, nas ações do
McCarthyismo. A televisão influiu muito, ao levar aquelas cenas dramáticas para
dentro dos lares norte-americanos pela primeira vez, em todo o país.
Outro
fator importante, foi a coragem com que inúmeras figuras denunciaram o senador
McCarthy, diretamente e claramente, diante dele. Um desses foi Joseph Welch,
destacado advogado que trabalhava como principal conselheiro do exército dos EUA
nos depoimentos.
Joseph Nye Welch |
Quando
McCarthy tentou aplicar seu método de declarar culpados-por-associação, contra
um jovem advogado do escritório de Welch, Welch levantou-se. Disse, de público,
que as táticas de McCarthy não passavam de “perversidade insaciável”; e
pronunciou a frase mais memorável daquelas audiências horrendas:
Já
basta. Chega! O senhor não tem nenhum senso de decência? Será que não lhe sobra
mesmo nenhum senso de decência, senador?
Hoje,
as coisas não estão, de fato, de modo que se possa, tão clara e diretamente,
interpelar os agentes do neo-McCarthyismo. A imprensa é mais difusa; há muitos
meios para impugnar os principais desmandos; ao mesmo tempo, a internet ou
programas de entrevistas, por rádio e televisão, já causam impacto maior que
sessões televisionadas do Congresso dos EUA.
Resta
a questão da disposição de personagens influentes para falar com clareza e
declarar crimes, os crimes – claramente, explicitamente. O professor, jornalista
e empresário israelense Bernard Avishai escreve sobre a falta que fazem esses
personagens, intimamente relacionada ao aspecto mais daninho (e abundante) das
atuais táticas de estilo McCarthyista: a difamação (hoje quase sempre mascarada
sob o que Avishai chama de “falsas campanhas contra a difamação” [no Brasil-2012, foram falsas campanhas
pela “ética” udenista, ou, melhor dizendo: campanhas muito reais e ativas por
uma suposta “ética” golpista udenista, sempre falsa (NTs)]. Naquelas falsas
campanhas contra a difamação, agride-se, quase sempre, quem se atreva a
questionar as políticas israelenses ou a conivência dos EUA com aquelas
políticas.
A
difamação é praticada por gangues de intelectuais midiáticos, jornalistas e
comentaristas de televisão que dizem cultivar os interesses de Israel, mas que,
na prática, pregam apoio acrítico, incondicional às políticas do governo
israelense de direita hoje no poder – o que absolutamente não é cultivar os
interesses de Israel.
Bernard Avishai |
Avishai,
que é um pouco mais jovem que eu, também já percebeu o que há de semelhante
entre o que hoje se vê e o McCarthyismo original. Hoje, a difamação inclui
arrastar para o centro do palco qualquer argumento, qualquer calúnia, qualquer
mentira que ajude a destruir o nome a ser destruído, em cada instância.
Nesse processo jamais faltam, embora não sejam as únicas
calúnias, acusações injustificadas de antissemitismo.
E, como no McCarthyismo original,
o processo constrói-se não só com atos de difamação direta de nomes seletos, mas
também com intimidação, para paralisar muitos outros que poderiam não apenas
questionar as políticas israelenses e norte-americanas, mas também o próprio
processo de intimidação. O artigo de Avishai é claro e vai direto ao ponto;
poderia citá-lo praticamente inteiro; melhor que todos leiam diretamente: “Hagel
e os neo-mccarthyistas”, 26/12/2012, The Daily
Beast.
Avishai
escreve a propósito do tumulto criado em torno da indicação de Chuck Hagel ao
posto de Secretário da Defesa. Como eu e outros já observamos, o assunto recebeu
tanta atenção que a definição terá efeito no processo de deixar rolar à vontade
o neo-mccarthyismo, ou dar-lhe um basta. Mas o presidente Obama ainda não se
decidiu.
Mas
mesmo que a indicação de Hagel se confirme, não bastará. Ainda falta quem dê
nome aos bois, claramente, diretamente, explicitamente; e exponha o
neo-McCarthyismo praticado por grupos e indivíduos que se apresentam como
defensores de Israel e que, em nome disso, manifestam-se sobre qualquer
indicação do presidente dos EUA ou, afinal, sobre qualquer assunto.
Quando
Joseph Welch fez calar o senador McCarthy, as galerias irromperam em aplausos.
Ouso crer que muitos dos observadores até agora passivos também aplaudirão, se
alguém se levantar e fizer calar os neo-McCarthys.
Paul R.
Pillar*,
com experiência de 28 anos na Agência Central de Inteligência (CIA), passou a
ser um dos seus principais analistas. Atualmente também é professor
visitante na Georgetown
University para estudos de
segurança. (Este artigo apareceu pela primeira vez como um
post de blog no site The National Interest na Internet. Aqui reproduzido com a
permissão do autor).
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