23/1/2013, Richard Becker, Global Research
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O
discurso de posse do presidente Barack Obama ao assumir seu segundo mandato foi
saudado pelas corporações de imprensa-empresa e seus financiadores e anunciantes
como uma nova “visão liberal”, como se lia em manchete do New
York Times “Obama
Offers Liberal Vision: ‘We Must Act’” [Obama oferece visão liberal:
“Temos de agir”].
Mas,
embora boa parte da retórica do presidente soasse progressiva, e o discurso
tenha sido enunciado em tom firme, há nele bem pouco conteúdo de realidade, e
praticamente todo o discurso foi anti qualquer progressismo. E/ou foi mentiroso.
“Uma
década de guerra está terminando” – discursou Obama. A verdade é que os ataques
militares e movimentos de intervenção prosseguem no Afeganistão, no Paquistão,
no Iêmen, na Somália e em outros países. Todas as
terças -feiras há uma reunião na Casa Branca, durante a qual o presidente
autoriza novos assassinatos de alvos predefinidos, assassinatos premeditados e
planejados de indivíduos selecionados e de quem mais tenha a infelicidade de
andar por perto dos alvos atacados pelos aviões-robôs armados, os drones,
em muitos países, nenhum dos quais está em guerra com os EUA.
Depois
de declarar que “Nós o povo ainda cremos que segurança e paz duradouras não
exigem guerra perpétua”, Obama disse que “os EUA continuarão como a âncora de
alianças fortes em cada canto do mundo”. O Pentágono continua a manter mais de
900 bases militares distribuídas por todos os continentes. O orçamento militar
dos EUA é maior que todos os orçamentos militares de todos os demais países do
mundo, somados! Esses, sim, são os elementos essenciais do império e da guerra
perpétua.
Em
seu discurso, o presidente citou “Seneca Falls e Selma e Stonewall”, tentando
pintar-se, ele mesmo, como continuador de três movimentos de defesa de direitos
iguais para as mulheres, os afro-americanos e os/as LGBT. As conquistas desses
movimentos jamais dependeram de presidentes ou exércitos. Foram conquistas de
movimentos de massa determinados, ao longo de décadas e séculos.
Contra
a evidência de que mais imigrantes foram deportados durante seu governo do que
jamais antes em toda a história dos EUA, Obama vangloriou-se de que “estudantes
jovens e brilhantes, e engenheiros alistaram-se em nossa força de trabalho e não
foram expulsos de nosso país”.
Alguns
trechos do discurso soam como saídos de um universo paralelo. “Sabemos que os
EUA avançam quando cada pessoa extrai a própria independência e muito orgulho do
próprio trabalho, quando os salários pelo trabalho honesto liberam famílias nas
fronteiras da miséria”.
No
mundo real dos EUA-2013, há mais de 23 milhões de desempregados ou severamente
subempregados. Mais de 146 milhões – 48% da população – vive com renda menor que
a mínima necessária para sobreviver ou já mergulhou na indigência, recorde
nacional. Os salários reais foram incansavelmente empurrados para baixo, ao
longo dos últimos 30 anos. Se corrigido pela inflação, o salário mínimo hoje é
45% menor do que era em 1968.
Apesar
disso, a palavra “pobreza” só ocorreu duas vezes no discurso: uma, com o verbo
usado no pretérito (“quando os anos do anoitecer da vida eram consumidos na
pobreza”...) como se hoje não houvesse milhões de idosos entre os mais pobres.
E
a outra referência à pobreza: “Somos fiéis ao nosso credo, quando uma menininha
nascida na mais profunda pobreza sabe que tem a mesma chance de sucesso que
qualquer outra, porque ela é norte-americana, é livre e é igual...” Até soa
muito nobre, mas por que, em vez de fazer frases, o presidente não apresentou à
nação um plano para pôr fim à “mais profunda miséria” aqui, no país mais rico da
história?
Exatamente
como já fizera durante todo o primeiro mandato, o presidente não apresentou
proposta alguma que visasse a atacar o empobrecimento, a fome, a falta de
moradia que não param de crescer. Nada.
Num
dos parágrafos mais ardilosos de todo o discurso, ouviu-se o seguinte: “Nós, o
povo, ainda cremos que todos os cidadãos merecem grau básico de segurança e
dignidade. Temos de fazer as mais difíceis escolhas, para baixar o custo da
atenção à saúde e o tamanho de nosso déficit”.
Tradução:
Cremos que todos merecem segurança e dignidade. Por isso, em breve estaremos
cortando benefícios de atendimento público à saúde de vocês, para atender ordens
dos grandes bancos.
A
eleição de Barack Obama à presidência dos EUA em 2008 foi ocasião histórica num
país marcado pelo racismo mais profundo e mais violento. Quebrou uma sequência
de 220 anos de presidentes brancos, descendentes de europeus do norte,
praticamente todos milionários, eleitos para o mais alto posto eletivo dos EUA.
Mas fato é que, independente de quem
seja eleito, o emprego de presidente dos EUA impõe exigências bem claras aos que
se candidatem: terá de ser presidente executivo do império e do imperialismo e
protetor das megacorporações norte-americanas.
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