17/1/2013, Jonathan Shaw, The Independent,
UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Major-General Jonathan
Shaw foi Chefe do Comando Terrestre das Forças do Reino Unido, entre
2007-8. Em 1981 alistou-se no Regimento de Paraquedistas. Serviu nas Malvinas,
no Kosovo e no Iraque, antes de passar a trabalhar no Ministério da
Defesa.
“Altere um milímetro, desafine uma única corda, e veja o
quanto de discórdia se instala” [1]
Muammar Gaddafi |
Esse
clamor jacobino por estabilidade deveria ressoar em nossos ouvidos, ao
assistirmos a mais recente manifestação de instabilidade no Oriente Médio/Norte
da África [ing. Middle East/North Africa
(MENA)], agora na Argélia. E, se grande parte da Primavera Árabe brotou lá
mesmo, autogerada, os atuais tumultos no Sahel muito devem ao “triunfo” da OTAN,
que tanto fez para derrubar e assassinar Gaddafi.
No
outono de 2010, visitei o Marrocos, a Argélia, a Líbia e o Egito, antes de meu
posto no setor de Política de Segurança Internacional no Ministério da Defesa
ser extinto, porque “nada nunca acontece na região do MENA” (quando então fui
transferido para uma unidade recém constituída de Ciber-segurança).
Como
eu já percebera em viagem anterior ao Sudão, a maior ameaça à estabilidade na
Região vinha da mudança que se observava entre os islâmicos, de práticas
religiosas localmente afinadas, sufistas, para o salafismo/wahhabismo. A causa
disso era a disseminação de escolas islâmicas (madrassas) construídas, mantidas
e regidas por dinheiro e teologia sauditas, disseminação que se via, bem clara,
em todo o
Norte da África muçulmano e até a costa do Oceano Índico, da
Somália, pelo Quênia, até a Tanzânia.
Negociando
com esses regimes, o Reino Unido tampava o próprio nariz para os direitos
humanos, porque os métodos que esses estados empregam sempre estiveram mais
próximos dos padrões locais, que dos padrões ocidentais. Não surpreende, porque
os desafios são horrendos. A Argélia é hoje, depois da divisão do Sudão, o maior
país da África.
“Nosso
homem em Argel” está mais próximo de Londres do que dos campos de petróleo sobre
os quais fala. A escala do desafio de controlar o Sahel derrotará os EUA.
Não
temos de nos imiscuir nos métodos locais de “controle”. Gaddafi era um eixo
central de transmissão naquele plano informal de segurança no Sahel, no qual
todos os demais participantes citados acima, oponentes em inúmeras, muitas
outras questões, uniam-se – para resistir e suprimir a al-Qaeda no Maghreb
islâmico e para manter a estabilidade no Sahel.
A
derrubada de Gaddafi rompeu todos os arranjos locais de caráter étnico, tribal,
de comércio e barganhas comerciais e de poder, que o ocidente jamais conheceu ou
compreendeu.
Não
deveria surpreender ninguém que a resposta da Argélia, mais uma vez, tenha mais
a ver com as práticas locais do que com o que o ocidente pense ou suponha. Não
deveríamos jamais intervir ou criticar coisa alguma, porque não conhecemos
alternativa simples.
Nota dos tradutores
[1] Orig. “Take but degree away, untune that string, and hark what
discord follows”. Shakespeare, Troilus and Cressida, ato 1, cena
3.
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