12/1/2013, Michael Meacher, Partido Trabalhista (Labour, britânico)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido num esconso da Vila Vudu: “Este artigo não é nenhuma maravilha... mas, pelo
menos, ouve-se um deputado (inglês) espernear”.
Andrea Orcel |
Andrea
Orcel, novo
diretor de investimentos do Banco UBS e, antes, no Banco Merrill Lynch,
arquiteto da incorporação, pelo RBS, do Banco ABN Amro em 2007 (incorporação que
lhe rendeu comissão de £7,5 milhões, mas custou £45 bilhões aos contribuintes
quando, adiante, o banco incorporador teve de ser “resgatado”) – pois Andrea
Orcel parece dizer agora a verdade (ou afinal criou alguma coragem), ao admitir
hoje que os bancos são “arrogantes demais” e que “a indústria bancária tem de
mudar”.
Parece
que afinal, embora com cinco anos de atraso, até os “mestres do universo”
começam a ver a luz. Ora, ora, há mais felicidade no Paraíso para a alma que se
arrependa... Mas 99% dos bancos restantes continuam a chafurdar no pecado.
Os
banqueiros do Banco UBS disseram à Comissão Parlamentar [na Grã-Bretanha] de
Investigação das Atividades dos Bancos, ontem, que, apesar de auditores
rigorosíssimos terem determinado que 40 empregados do banco sabiam das violações
da legislação trabalhista, só 18 foram demitidos. E a alta direção do banco
negou que tivesse conhecimento das infrações à legislação trabalhista – embora
tivessem sido discutidas em teleconferência e em listas de discussão interna por
e-mail, no Banco, por mais de 70
funcionários. Deve-se concluir que os “altos diretores” são altamente
incompetentes, altamente negligentes ou mentirosos altamente descarados.
Assim
sendo, o que se deve fazer com os bancos e com os que, dentro dos bancos,
criaram a gigantesca e prolongada recessão que hoje tanto faz sofrer nosso país
e o mundo?
Relatório da Comissão Leveson e os "envolvidos" ( arte: Gary Barker) |
Primeiro, deve instaurar-se (de
fato, já devia estar ativa, porque toda a Coalizão [de governo] votou e aprovou
a instauração de uma) comissão de inquérito com poderes amplos e independentes –
semelhante à Comissão Leveson (ing. Leveson
Inquiry) que investigou a imprensa – que
terá a missão de investigar e expor todo o horror e a corrupção do sistema
bancário na era do capitalismo neoliberal, particularmente na década que levou
ao crash em 2007.
À
luz do que seja investigado e exposto por essa Comissão – e a menos que se
comprove que já estejam comprometidos demais, ou que são ineficientes demais, ou
que estejam corrompidos demais para o que lhes exige a função – o Banco da
Inglaterra e os “controladores” da Financial Services Authority (FSA) são as instituições que terão de
atacar os bancos infratores (com multas, reestruturação, divisão em bancos
menores) e condenar e punir os indivíduos que se comprovem culpados (com multas,
desqualificação/desautorização para operar, cadeia).
Em segundo lugar, é indispensável
que se demarque clara separação entre o braço de investimentos e o braço de
serviços no varejo dos brancos (as recomendações do [relatório]
Vickers
[1], de
que se construíssem “muralhas da China” entre partes dos banco, infelizmente,
não foram adequadas).
Sir John Vickers e o Relatório sobre as Fraudes |
Em
terceiro lugar, é indispensável que se promova uma grande reestruturação do
sistema bancário no Reino Unido, para assegurar que os bancos sirvam ao objetivo
para o qual existem – servir aos interesses da indústria britânica, às famílias
e aos cidadãos britânicos.
Hoje,
os “Cinco Grandes” [orig. Big 5: bancos HSBC, Royal Bank of Scotland (RBS) Group, Lloyds Banking Group, Barclays e Standard Chartered] têm poder demais, há
tempos vivem dedicados prioritariamente aos serviços de especulação e sonegação
de impostos em escala industrial e são, de fato, infiscalizáveis. RBS e Lloyds devem ser mantidos estatizados e
transformados em bancos nacionais de investimento para promover o indispensável
renascimento do comércio e da manufatura regionais; e os bancos Barclays e HSBC, corrompidos muito além de qualquer
possibilidade de recuperação, devem ser fracionados em vários pequenos bancos
especializados, orientados para atender às necessidades ainda desatendidas de
uma economia moderna e de alta tecnologia.
Em
quarto lugar, a gestão monetária – componente criticamente importante para
determinar a direção futura da economia – deve ser tomada de volta, arrancada
das garras das “desregulações” da “Era Thatcher”, para que volte a ficar sob bom
controle público democrático, de modo que o renascimento da indústria e de toda
a economia britânica volte afinal a ser outra vez
possível.
Nota dos tradutores:
[1] O Relatório
final da Comissão Independente sobre Bancos, presidida por Sir John
Vickers, foi publicado em setembro de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.