sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Previsões para 2013: Oriente Médio e Norte da África



11/1/2013, David Wearing, New Left Project
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Entreouvido na Vila Vudu: “Bom trabalho de reunir informação aproveitável, feito e distribuído, claro, por comunistas laboriosos”.


Oriente Médio e Nordeste da África
Uma revolução é um processo, não um evento, e os levantes árabes não são exceção. Revoluções acontecem quando muitas disfuncionalidades nas nações, sempre escamoteadas por governos monárquicos ou ditatoriais, já não podem continuar a ser escamoteadas. Quando a tirania explode nas costuras que a mantêm coesa, é preciso mais do que alguns dias de catarse e euforia nas ruas, para que as questões sejam, de fato, reencaminhadas.

Eis uma regra que jamais falha: se as questões não resolvidas nem encaminhadas que fizeram eclodir uma revolução continuam ativadas, sem qualquer modificação de fundo, nada garante que o movimento leve a mudança de governo. Tome-se o caso da Tunísia, tantas vezes festejada como caso de sucesso nos dois últimos anos. O fator que disparou a revolução contra Bem Ali foi o sofrimento gerado pelos desmandos no campo da economia – mas ainda não se vê nem sinal de aquele sofrimento ter acabado. Quem suporá que um povo que já uma vez levantou-se tolerará governo pós-revolucionário que não pode ou não quer atacar as questões pão-e-manteiga-na-mesa que, no final de 2010 levaram multidões às ruas?

Costa mediterrânea do Egito
O mesmo vale ao longo da costa, no Egito, onde entre crescente crise monetária e as exigências do FMI, a maioria desesperantemente pobre vê-se hoje ante a iminência de novo grande ‘'choque'’ (cortes, cortes, cortes!) no seu padrão de vida. As divisões criadas pela abordagem destrutiva, pelo presidente Mursi na crise constitucional do mês passado, e a já visível desilusão  da opinião pública  ante a nova ordem política, são o cenário já pronto para novas e profundas convulsões sociais, se a desgraça econômica alastrar-se ainda mais nas próximas semanas e meses. Mas se a Fraternidade Muçulmana desperdiçar sua grande chance  de governar, quem há, no Egito, que a substitua? Alguém capaz de atacar os problemas econômicos que preocupam a maioria dos egípcios? Nesse caso, quem?

A região crítica do Golfo Pérsico e o Estreito de Ormuz
A Jordânia  continua a ferver em fogo ainda baixo, e o mesmo se pode dizer do Bahrain  se Kuwait. Qualquer reação brutal desses governos aliados dos britânicos contra o próprio povo criará graves embaraços para Londres, mas dificilmente afastará os britânicos da rota que consideram atender melhor aos seus interesses estratégicos  e econômicos na região. Mas a repressão indefinida e o impedimento cada vez mais evidente de qualquer tipo de reforma de fundo só fará aprofundar e disseminar a separação entre governo e povo, minando a legitimidade dos governos e encurtando-lhe a sobrevida. As monarquias do Golfo, sacudidas também pelos levantes regionais, tentam resolver tudo com dinheiro. Mas, com estimados um em cada quatro sauditas vivendo em condições de miséria, por exemplo, difícil crer que medidas desse tipo consigam conter por muito tempo o avanço da maré.

Em fevereiro passado, o autor do relatório da Anistia Internacional sobre a Líbia pós-Gaddafi disse que França, Grã-Bretanha e os EUA “têm de abandonar a atitude autocongratulatória e autocomplacente quanto à situação de segurança na Líbia.  À luz de eventos subsequentes,  esse ainda parece ser bom conselho. No Iêmen, a instabilidade continua a ser ameaça, com o país posto como alvo da guerra dos drones do governo Obama.  

Palestina: Gaza e Cisjordânia - território roubado por Israel (ver assentamentos exclusivos para judeus marcados no mapa)
A estabilidade na Palestina ocupada permanece em questão, enquanto ali se mantém o colonialismo israelense patrocinado pelos EUA. Com a economia da Cisjordânia cada vez menos estável, e com o “processo de paz” de Washington morto e enterrado há muito tempo, uma terceira intifada parece estar madura, a ponto de eclodir. Mahmoud Abbas talvez ainda insista em tentar movimentos diplomáticos, como a bem-sucedida operação na ONU, em novembro passado, da qual resultou o reconhecimento da Palestina como país-membro observador, num esforço cada dia mais desesperado para reforçar sua posição doméstica.

Na Síria, as perspectivas continuam muito sombrias (...).

Ver, sobre a Síria:
·        7/1/2013 – redecastorphoto: Discurso do presidente Bashar al-Assad: Passos para a paz na Síria.
·        8/1/2013 – redecastorphoto, Franklin Lamb em: Assad no Teatro de Ópera de Damasco.
·        11/1/2013, redecastorphoto, Pepe Escobar,em: Syria: A jihadi paradise

“A região preocupa-se com a Síria”, observam Hussein Agha e Robert Malley. “E está obcecada com a situação no Iraque”.  E, no Iraque, a história está longe de estar resolvida. O retumbante fracasso da opção feita por Bush e Blair, em guerra planejada com o objetivo de ali implantar estado superficialmente democrático, estado-cliente – parte uma colônia-acantonamento militar para os EUA, parte um posto-gigante de gasolina a baixo preço – acabou por impor no Iraque um regime cada dia mais autoritário, aliado do Irã, que mal se sustenta sobre nação profundamente dividida A abordagem linha-dura do Primeiro-Ministro Maliki contra os adversários políticos levarão o Iraque de volta à velha guerra civil? Surgirá ali uma nova aliança nacionalista que reúna sunitas e xiitas contra Maliki?  Como isso afetaria o cenário político e o posicionamento do Iraque no quadro internacional? Considerada a extraordinária importância material e estratégica do Iraque, essas respostas interessam enormemente ao Oriente Médio e ao resto do mundo. Interessam sobreturo ao povo iraquiano que sofre muito, há muito tempo, e cujas misérias parecem sem fim, agora que já se aproxima o décimo aniversário da invasão anglo-americana.

Ver, sobre o Iraque:

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