11/1/2013, David Wearing, New Left Project
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido na Vila Vudu: “Bom trabalho de reunir informação aproveitável, feito
e distribuído, claro, por comunistas laboriosos”.
Oriente Médio e Nordeste da África |
Uma
revolução é um processo, não um evento, e os levantes árabes não são exceção.
Revoluções acontecem quando muitas disfuncionalidades nas nações, sempre
escamoteadas por governos monárquicos ou ditatoriais, já não podem continuar a
ser escamoteadas. Quando a tirania explode nas costuras que a mantêm coesa, é
preciso mais do que alguns dias de catarse e euforia nas ruas, para que as
questões sejam, de fato, reencaminhadas.
Eis uma regra que jamais falha: se
as questões não resolvidas nem encaminhadas que fizeram eclodir uma revolução
continuam ativadas, sem qualquer modificação de fundo, nada garante que o
movimento leve a mudança de governo. Tome-se o caso da Tunísia, tantas vezes
festejada como caso de sucesso nos dois últimos anos. O fator que disparou a revolução
contra Bem Ali foi o sofrimento gerado pelos
desmandos no campo da economia – mas ainda não se vê nem sinal de
aquele sofrimento ter acabado. Quem suporá que um povo que já uma vez
levantou-se tolerará governo pós-revolucionário que não pode ou não quer atacar
as questões pão-e-manteiga-na-mesa que, no final de 2010 levaram multidões às
ruas?
Costa mediterrânea do Egito |
O mesmo vale ao longo da costa, no
Egito, onde entre crescente
crise monetária e as exigências
do FMI, a
maioria desesperantemente pobre vê-se hoje ante a iminência de novo grande
‘'choque'’ (cortes, cortes, cortes!) no seu padrão de vida. As divisões criadas
pela abordagem
destrutiva, pelo presidente Mursi, na crise constitucional do mês
passado, e a já visível
desilusão da opinião pública ante a nova ordem política, são o
cenário já pronto para novas e profundas convulsões sociais, se a desgraça
econômica alastrar-se ainda mais nas
próximas semanas e meses. Mas se a Fraternidade
Muçulmana desperdiçar sua grande chance de governar, quem há, no Egito,
que a substitua? Alguém capaz de atacar os problemas
econômicos que preocupam a maioria dos
egípcios? Nesse caso, quem?
A região crítica do Golfo Pérsico e o Estreito de Ormuz |
A Jordânia continua a ferver em fogo
ainda baixo, e o mesmo se pode dizer do Bahrain se Kuwait. Qualquer reação brutal desses
governos aliados dos britânicos contra o próprio povo criará graves embaraços
para Londres, mas dificilmente afastará os britânicos da rota que consideram
atender melhor aos seus interesses estratégicos
e econômicos na região. Mas a repressão
indefinida e o impedimento cada vez mais evidente de qualquer tipo de reforma de
fundo só fará aprofundar e disseminar a separação entre governo e povo, minando
a legitimidade dos governos e encurtando-lhe a sobrevida. As monarquias do
Golfo, sacudidas também pelos levantes regionais, tentam resolver tudo com
dinheiro. Mas, com estimados um em cada quatro sauditas vivendo em condições
de miséria, por exemplo, difícil crer que
medidas desse tipo consigam conter por muito tempo o avanço da maré.
Em fevereiro
passado, o autor do relatório da Anistia Internacional sobre a Líbia pós-Gaddafi
disse que França, Grã-Bretanha e os EUA “têm
de abandonar a atitude autocongratulatória
e autocomplacente” quanto à situação
de segurança
na Líbia. À luz de eventos
subsequentes,
esse ainda parece ser bom conselho. No Iêmen, a instabilidade continua a
ser ameaça, com o país posto como alvo da guerra
dos drones do governo Obama.
Palestina: Gaza e Cisjordânia - território roubado por Israel (ver assentamentos exclusivos para judeus marcados no mapa) |
A estabilidade na Palestina ocupada
permanece em questão, enquanto ali se mantém o colonialismo israelense
patrocinado pelos EUA. Com a economia
da Cisjordânia cada vez menos estável, e com o “processo
de paz” de Washington morto e enterrado há muito tempo, uma terceira
intifada parece estar madura, a ponto de eclodir. Mahmoud Abbas talvez
ainda insista em tentar movimentos diplomáticos, como a bem-sucedida operação na
ONU, em novembro passado, da qual resultou o reconhecimento da Palestina
como país-membro observador, num esforço cada dia mais
desesperado para reforçar sua posição doméstica.
Na Síria, as perspectivas continuam
muito sombrias (...).
Ver, sobre a
Síria:
·
7/1/2013 –
redecastorphoto: “Discurso do presidente Bashar
al-Assad: Passos para a paz na Síria”.
·
8/1/2013 –
redecastorphoto, Franklin Lamb em: “Assad no
Teatro de Ópera de Damasco”.
·
11/1/2013,
redecastorphoto, Pepe Escobar,em: “Syria: A
jihadi paradise”
“A região preocupa-se com a
Síria”, observam
Hussein Agha e Robert Malley. “E está obcecada com a situação no
Iraque”. E, no Iraque, a
história está longe de estar resolvida. O retumbante fracasso da opção feita por
Bush e Blair, em guerra planejada com o objetivo de ali implantar estado
superficialmente democrático, estado-cliente – parte uma colônia-acantonamento militar para
os EUA, parte um posto-gigante de gasolina a baixo preço – acabou por impor
no Iraque um regime cada dia mais autoritário, aliado
do Irã, que mal se sustenta
sobre nação
profundamente dividida. A abordagem linha-dura do
Primeiro-Ministro Maliki contra os adversários
políticos levarão o Iraque de volta à velha guerra civil? Surgirá ali uma nova
aliança nacionalista que reúna
sunitas e xiitas contra Maliki? Como isso afetaria o cenário político e
o posicionamento do Iraque no quadro internacional? Considerada a extraordinária
importância material e estratégica do Iraque, essas respostas interessam
enormemente ao Oriente Médio e ao resto do mundo. Interessam sobreturo ao povo
iraquiano que sofre muito, há muito tempo, e cujas misérias parecem sem fim,
agora que já se aproxima o décimo aniversário da invasão
anglo-americana.
Ver,
sobre o Iraque:
- 7/1/2013, redecastorphoto, Muthana Abdallah
em:“Ano
Novo e um glorioso levante no Iraque”.
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