23/2/2012, Pepe
Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
Pepe Escobar |
Não é fácil ser POTUS (President of the United States).
Corãos queimados
no Afeganistão, Líbia “liberada” governada por milícias, Síria caindo em guerra
civil, o psicodrama sem fim em torno do Irã. Onde buscar alguma consolação?
Simples: se o POTUS não consegue escapulir até a Casa do Blues – o Serviço Secreto
não permitiria – o
blues
vem à Casa (Branca).
Performance at the
White House: Red, White and Blues, foi um concerto
doméstico gravado no Salão Leste, em homenagem ao blues e ao Mês da História
Negra nos EUA, parte de uma série musical com POTUS (Barack Obama) e FLOTUS (First
Lady of
the United States,
Michelle Obama) como anfitriões. Irá ao ar na 2ª-feira, pelo PBS, Sistema
Público de
Broadcasting [1].
E então aconteceu o momento mágico; arremedo de
bluezeiro, Mick Jagger passa o microfone para POTUS – e o resto é história (veja o vídeo
[2] ). Houve o precedente (veja o vídeo remixado
[3]), quando POTUS enviou mensagem nada sutil de campanha, em
código “Let's Stay Together” [Fiquemos juntos].
Mas foi para
valer:
POTUS
assumindo o espírito de Robert Johnson via “Sweet Home Chicago”. E
que
cast
de apoio! Incluindo o “Rei do Blues” em pessoa, BB King, 86,
apresentado por
POTUS; Mick Jagger (ainda em forma em “Can't Turn You Loose”;
Buddy Guy; Jeff Beck; e Booker T Jones, lenda viva da gravadora Stax – que já
deveria ter sido canonizado – como band leader e diretor musical. Gol de
placa, o do cantor-em-chefe.
POTUS
até fez uma
declaração oficial elogiando o blues; que “nos ensina que quando nos
descobrimos numa encruzilhada, não nos escondemos dos nossos problemas. Nós os
encaramos. Lidamos com eles. Cantamos sobre eles. Os convertemos em arte”. [4]
Bombatômica-em-mim, baby, até o
sol raiar
Por que um negro
não poderia brincar com o blues na Casa Branca? Afinal, a economia dos EUA
vai – lentamente voltando a girar (mais ou menos) apesar daquela canção pungente
“16 trilhões/O que mais você quer?”, que ainda se ouve do coro, ao
fundo.
O desemprego cai –
devagar. E os ex-talvez candidatos Republicanos que ainda se arrastam ou são
doidos ou batem todos na mesma tecla “Jesus!; e Mulá (Rick) Santorum
apresenta-se ele mesmo como o homem que salvará os EUA, de Satã.
A turma do Tea Party pirou. Newt Gingrich, em
desespero, diz que
POTUS
é “o mais perigoso presidente de todos os tempos”. Mitt Romney – num
debate da campanha para presidente – diz que o Irã dá uma bomba atômica ao
Hezbollah no Líbano; o Hezbollah traz a bomba para o México; em seguida a bomba
atravessa a fronteira disfarçada como imigrante ilegal e explode em
Ohio.
E o pior de tudo:
em matéria de música, esse pessoal aí, pior, impossível. Não cantam blues – nem soul,
nem
jazz, nem gospel, nem country – nem se a vida
(paranóica) deles depender disso.
Seja como for, o
cantor-em-chefe não estava exatamente bluezando quando assinou a National Defense Authorization Act [Lei
de Autorização da Defesa Nacional] na noite de Ano Novo – quando ninguém estava
prestando atenção. O guerreiro-em-chefe, de fato, legalizou a conversão dos EUA
em estado policial militarizado – onde o Pentágono pode mandar prender
norte-americanos sem acusação e sem julgamento durante “toda a duração das
hostilidades” na imatável-imorrível “guerra global ao terror”.
No fim da semana
que vem,
POTUS
tampouco estará cantando blues quando discursar na convenção anual do
Comitê EUA-Israel de Assuntos Públicos [American Israel Public Affairs
Committee
(AIPAC) – ante milhares de apostadores de jogo de alto risco,
num salão de baile em Washington, todos berrando em uníssono pela destruição do
Irã.
Mas a véspera do discurso parece saída diretamente de
“Hellhound on My Trail” (Há um cão do inferno no meu encalço [5]) de Robert Johnson [1937]: é quando POTUS recebe o
primeiro-ministro de Israel Benjamin “Bibi” Netanyahu em visita a Washington, o
qual todos os grãos de areia do deserto do Negev sabem que quer livrar-se
de
POTUS
e instalar na Casa Branca um seu fantoche pessoal de
doido-por-guerras.
Afinal, Bibi já
esbravejou até contra o general Martin Dempsey, Chefe do Comando do Estado-Maior
das Forças Armadas dos EUA, porque o campeão do Pentágono atreveu-se a
manifestar algum bom senso e disse que qualquer ataque de Israel ao Irã seria
“desestabilizador” e “imprudente”.
POTUS
prefere cantar
o
blues
a ir à guerra; quanto ao resto dos norte-americanos médios, parecem
absolutamente confusos, ou absolutamente anestesiados pelo ruído ambiente.
Segundo a mais recente pesquisa CNN/Gallup, quase 80% deles acreditam que ou o
Irã tem armas nucleares ou pode arranjar uma amanhã mesmo; ao mesmo tempo, 63%
preferem a diplomacia à guerra, como meio para dissuadir o Irã de converter-se
em país nuclear. Então, como é que fica? Convencer o Irã a desistir de bombas
inexistentes que eles talvez tenham?
O Supremo Líder do
Irã Aiatolá Ali Khamenei talvez considere o blues música do demônio – mas já disse, pelo menos
uma vez oficialmente, que “o Irã não tem arma nuclear”. Simultaneamente encoraja
os cientistas nucleares iranianos a prosseguir no seu trabalho “fundamental”
para “os interesses nacionais iranianos”.
Em meio a toda essa loucura, pelo menos o seriado Mad Men
[6] estará de volta, nos
idos de março [7].
E enquanto seus
opositores afundam-se nos pântanos do apocalipse, POTUS – que as pesquisas informam que pode
derrotar qualquer deles – parece andar, cantando blues diretamente para a zona de
conforto.
Notas
dos tradutoires
[1] Sobre o show,
ver:
Watch Red
White and Blues on PBS. See more from In
Performance at The White House.
[2] Assista “Blues night at the White
House, February 21, 2012” ,
[3] Assista:
[4] 29/5/2004, Asia
Times, em: “Highway 61
revisited”.
Uma olhada retrospectiva à
encruzilhada de Robert Johnson, de 2004, apenas algumas semanas antes de POTUS irromper na paisagem
política dos EUA, feito o Hoochie Koochie Man [tema clássico
do
blues, escrito por Willie Dixon e apresentado pela primeira vez
por Muddy Waters, em 1954. Pode ser ouvido, em gravação posterior, a
seguir:
[5]
Letra
(mal) traduzida e som em:
“Hellhound
On My Trail”
[6] Sobre o
seriado, clique em “Mad
Men”.
[7] O anúncio que já
está no ar, assista:
[8] “Vamos... Baby,
você não quer voltar para aquele velho lugar, doce lar, Chicago?” É o verso que
Obama canta, de “Sweet Home Chicago”
(em nota 2).
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