Oposição
síria, em 2006, para os EUA:
[Uns]
“Sejam mais discretos. Metam o $$ numa mala, e estamos
conversados”.
[Outros]
“Nos respeitem! Os EUA não querem parceiros na Síria: querem
serviçais”.
Telegrama
06DAMASCUS760
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Reference
ID
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Created
|
Released
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Classification
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Origin
|
[Cabeçalho aqui
excluído]
ASSUNTO:
Mais dinheiro dos EUA para a oposição síria [em 2006]
REF: DAMASCUS 0701
1. (C)
Resumo: A operação “Anunciando a Democracia Síria”, do Governo dos EUA, continua
a provocar reações contraditórias em Damasco, entre a oposição e outras figuras
políticas. Já informamos em telegrama anterior as primeiras reações negativas.
Exame posterior da mesma questão permite ver um conjunto mais nuançado de
reações. Alguns receberam com entusiasmo a iniciativa, dizendo que nossa
operação envia a mensagem de que os EUA apoiam a oposição e não farão nenhum
tipo de “negócio” com o governo de Assad; mas mesmo esses ainda questionam se o
dinheiro que estamos oferecendo chegará às mãos dos membros mais sérios da
oposição. Um de nossos contatos descreveu a reação inicial (negativa) de
membros da oposição como exagerada, “mas típica”. Vários contatos ofereceram
sugestões de como podemos ajudar com dinheiro, apoiando a sociedade civil e o
desenvolvimento democrático na Síria.
Um
importante dissidente e ex-prisioneiro político, ecoando suspeitas generalizadas
sobre as intenções dos EUA, considerou nossa oferta “insultante”. Para ele, os
EUA são hipócritas ao apoiar a democracia na região; disse que nos interessamos
apenas por encontrar “instrumentos” por aqui, não parceiros. Não se registrou
nenhum (ou quase nenhum) apoio público à oferta de dinheiro que fizemos à
oposição síria. FIM DO RESUMO.
2. (C)
“Metam o dinheiro numa mala, e estamos conversados”
Basil
Dahdouh, deputado independente do Parlamento Sírio entende que o dinheiro agora
oferecido envia importante mensagem à oposição, indicando que os EUA estão sendo
“sérios”, na disposição para cooperar. Essa mensagem estimulará a oposição.
Contudo, o deputado considera o modo como o dinheiro tem sido entregue
“burocrático, legalista e ‘público’ demais para dar algum resultado”. “Aqui
nessa região as coisas não são feitas desse modo” – disse Dahdouh. “Khalid
Misha'al vai a Teerã e volta com alguns milhões numa mala simples. Não precisa
assinar recibos, nem papelada, nem precisa de computadores” – disse ele. Para o
deputado, o modo como os EUA entregamos o dinheiro é característico de estado
com leis e regulações, “mas nada disso corresponde à mentalidade nessa região”.
Por fim, o deputado Dahdouh disse que o fato de a entrega de dinheiro ser
pública, do conhecimento de vários, dada a imagem dos EUA no mundo árabe,
acabará por destruir a credibilidade de qualquer um que receba o dinheiro. As
pessoas dirão “Ora, claro que ele disse tal ou tal coisa. Ele é pago pelos
norte-americanos”.
3. (C)
SUGESTÕES MAIS AMPLAS PARA APOIARMOS: Quanto a
sugestões de áreas nas quais os EUA poderíamos oferecer apoio mais discreto à
oposição, Dahdouh sugeriu ajuda financeira a famílias de prisioneiros políticos,
algo como algumas poucas centenas de dólares por mês, por família. Essa ajuda
reduziria “alto risco de empobrecimento das famílias” que acompanha sempre a
prisão de qualquer dissidente. Embora admita que não sabe como se poderia
implementar esse tipo de programa, Dahdouh indicou o International Committee of
the Red Cross (ICRC) como possibilidade. Também sugeriu que os EUA ampliemos o
alcance dos programas culturais, programas de conferências, bolsas para estudo
de inglês e acesso à internet. Na opinião dele, os EUA podem usar relações
culturais para canalizar pequenas quantias de dinheiro para bolsas de estudo,
prêmios, remuneração de conferencistas e painelista e coisas desse tipo. A chave
é não procurar a controvérsia, mas manter programas regulares com reuniões,
através das quais pequenas quantidades de dinheiro possam ser distribuídas.
Dahdouh também sugeriu que se crie um centro de traduções que se concentraria
não nas manchetes e nas opiniões “das vozes mais ouvidas” (quase todas de apoio
ao regime), mas em ideias alternativas, com bom conteúdo intelectual sério. Esse
centro também poderia ser usado como veículo para distribuir alguns subsídios
informais. (...)
9. (C)
CRÍTICA DOS DISSIDENTES: Yassin
Haj Saleh, prisioneiro político por 18 anos, foi quem apresentou a crítica mais
consistente contra nossa proposta de oferecer dinheiro à oposição. Disse que a
oferta é “insultante”. Pede que os EUA “parem de negociar com os sírios desse
modo desrespeitoso”. Solicitado a explicar-se melhor, Saleh disse que os EUA são
hipócritas quando oferecem apoio à democracia no mundo árabe, mas só apoiam
democracia na Síria, e não apoiam democracia alguma na Palestina – onde os EUA
ignoraram completamente o governo democraticamente eleito do Hamás. “Vocês
cortam milhões de ajuda à democracia na Palestina e oferecem centavos à
democracia síria. Vocês só querem instrumentos, subordinados, não querem nem
parceiros nem amigos” – Saleh insistiu.
10. (C) Na
opinião de Saleh, os EUA “continuam a ser profundamente hostis a qualquer ideia
de independência no mundo árabe, mesmo hoje”, anos depois do fim da Guerra Fria
e décadas depois de Nasser ter desaparecido do cenário. O “maior presente que os
EUA poderiam dar, para ajudar a democracia na Síria, seria uma proclamação
pública em que criticassem a ocupação israelense no Golan, exigissem a imediata
retirada de Israel e oferecessem apoio a negociações” – disse Saleh. Saleh
também observou que as pessoas que aceitarem dinheiro dos EUA “são as menos
confiáveis de toda a oposição síria.” Disse que os EUA dariam melhor uso ao seu
dinheiro se oferecessem bolsas para estudantes sírios pobres estudarem nos
EUA.
11. (C)
NENHUM APOIO POPULAR: Figuras do campo das Relações Públicas tendem a dividir-se
entre declarações categoricamente críticas (dos nacionalistas tradicionais), e
formulações um pouco mais nuançadas – mas sempre rejeitando qualquer ajuda, por
princípio –, dos que parecem mais simpáticos ao apoio ocidental. Hassan Abdul
Azim, porta-voz do Grupo Democrático Nacional, coalizão de cinco partidos da
oposição constituído de pan-arabistas e ex-comunistas, disse que seu grupo
recusaria qualquer “financiamento vindo do lado ocidental” e puniria membros que
aceitassem aquele dinheiro.
Michel
Kilo,
ativista, disse que os problemas da oposição síria são políticos, não
financeiros. Acrescentou, porém, que a oposição não quer receber apoio
financeiro dos EUA, por causa “da política dos EUA no Oriente Médio e sobre a
Palestina”. [assina] SECHE
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