Convergência de quatro fatores
explosivos: Bancos, Bolsas, Aposentadorias e Dívidas
por GEAB [*]
Aguardando que a Eurolândia se
dote, daqui até o fim de 2012, de um projeto político, econômico e social comum
de médio e longo prazos, na sequência nomeadamente da eleição do novo presidente
francês François Hollande, antecipada há numerosos meses pelo LEAP/E2020, os
operadores permanecerão prisioneiros dos reflexos de curto prazo ligados aos
sobressaltos políticos gregos, às incertezas sobre a governança da Eurolândia e
aos riscos das dívidas públicas.
Paralelamente, nos Estados Unidos,
o desaparecimento da ilusão de uma retomada [1] acumulada à renovação de
inquietações quanto ao estado de saúde do sector financeiro americano (de que o
JPMorgan acaba de ilustrar a
fragilidade) e ao grande retorno do problema do endividamento do país levam os
atores econômicos e financeiros a encarar um futuro cada vez mais inquietante
[2].
No Reino Unido, o retorno em
recessão do país conjuga-se com o fracasso em dominar déficits e com a ascensão
de uma cólera popular face a uma austeridade que não está senão nos seus
princípios [3].
No Japão, a atonia econômica e o
enfraquecimento das exportações num contexto de recessão mundial [4]
fazem ressaltar o espectro do endividamento excessivo do país.
Neste contexto, de acordo com o
LEAP/E2020, o segundo semestre de 2012 vai ser o momento privilegiado da
convergência de quatro fatores explosivos para as economias ocidentais: bancos,
bolsas, aposentadorias e dívidas.
Para os operadores econômicos,
financeiros ou políticos assim como para as simples famílias, esta convergência
vai significar riscos importantes tanto sobre o estado das suas finanças como
sobre a sua aptidão para enfrentar próximos desafios.
Neste GEAB nº 65, nossa equipe
desenvolve pois suas antecipações referentes a estes quatro fatores explosivos
do segundo semestre de 2012 assim como as recomendações para minimizar as
consequências negativas. Além disso, o LEAP/E2020 apresenta sua nova antecipação
sobre as consequências da crise sistêmica global em matéria de línguas
internacionais (em nível mundial e na Europa) no horizonte 2030 a
fim de ajudar pais e filhos, assim como as instituições pedagógicas, a fazer
boas escolhas de aprendizagem linguística a partir de hoje.
Neste comunicado público do GEAB
nº 65, nossa equipe optou por apresentar o fator explosivo correspondente às
dívidas públicas e privadas.
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Dívidas: dívidas públicas
dificilmente domináveis e dívidas privadas destruidoras... os credores
aproximam-se dolorosamente da hora das contas e os povos de uma explosão de
cólera
O LEAP/E2020 anunciou desde 2008 e
repetiu numerosas vezes. Havia cerca de US$30 trilhões de ativos fantasmas no
sistema financeiro mundial. Restam cerca de US$15 trilhões que vão no essencial
esfumar-se daqui até o fim de 2012. A boa notícia é que a partir
deste momento poder-se-á encarar seriamente a reconstrução de um sistema
financeiro mundial são. A má notícia, é que é no decorrer dos próximos
trimestres que estes US$15 trilhões se vão esfumar. Isso implica, naturalmente,
como havíamos evocado anteriormente, a falência (e/ou o salvamento pelos
Estados) de 10% a 20% dos bancos ocidentais. E desta vez, ao contrário de
2008/2009, os acionistas serão as primeiras vítimas (inclusive nos Estados
Unidos), qualquer que seja a hierarquia dos seus direitos [5]. Só os
acionistas que possuírem um peso geopolítico importante serão tratados com
respeito (fundos soberanos, Estados amigos, ...).
Em matéria de dívidas privadas, as
famílias vão no essencial, nomeadamente nos Estados Unidos e no Reino Unido, ter
de enfrentar por si só as consequências das altas de taxas e da insolvabilidade
induzida que as vão afetar. Capturados na armadilha da austeridade e da
recessão, os Estados ocidentais não têm mais os meios de prestar socorros às
classes médias enquanto o crescimento não tiver retomado por pouco que seja. E,
infelizmente, não será esse o caso daqui até o fim de 2012. Vê-se atualmente nos
Estados Unidos que a questão da dívida dos estudantes está em vias de se
transformar em “subprime bis” [6]. Alta de taxas devido ao fim da
política de bonificação pelo Estado federal e à paralisia política em Washington
num pano de fundo de tentativas de domínio do déficit federal que está em vias
de criar uma situação desastrosa para milhões de jovens americanos e seus pais.
Na Europa, o Reino Unido já
decidiu deixar sua classe média enfrentar sozinha seu endividamento recorde.
Isso equivale a fazê-la cair na classe desfavorecida. Os próximos meses vão
assistir a uma nova confrontação brutal entre esta classe média britânica e seus
dirigentes, pertencentes quase todos à classe alta (upper-class).
No continente, através dos votos
de rejeição dos dirigentes adeptos da austeridade como solução única e exclusiva
para a crise do endividamento público, os povos abriram uma grande confrontação
democrática com as elites estabelecidas desde há uma vintena de anos, e ao
serviço dos credores. A tentativa que o novo presidente francês encarna, de
abrir um caminho médio entre austeridade e relançamento keynesiano, ambas
fracassadas pois são impossíveis politicamente ou pelo controle orçamentário,
vai vencer (pois doravante é a única viável em termos políticos e orçamentais
[7]) mas não antes do fim de 2012 [8].
Nesse intervalo de tempo,
sobressaltos políticos como na Grécia e negociações complexas no seio da
Eurolândia vão dominar a agenda, tornando cada vez mais nervosos os credores e a
sua emanação, os mercados [9]. E este nervosismo dos mercados é agravado
pela consciência da infinita fragilidade das instituições financeiras da Wall Street e da City face ao risco de não pagamento dos
créditos: dívidas públicas ou privadas. Isto são quase os últimos restos do
ativo do seu balanço e eles esperam poder recuperar um valor
significativo.
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Desde o fim do Verão de 2012, o
retorno do tema do endividamento inadministrável dos Estados Unidos, ligado às
reduções orçamentais automáticas impostas em caso de não acordo do Congresso
sobre a redução do endividamento, vai desencadear um “Taxmageddon” [10]
nos EUA. Assistir-se-á assim ao remake da dupla detonador-bomba que as
dívidas europeia e americana já jogaram no Verão de 2011, mas desta vez numa
versão muito mais violenta. Com efeito, se os temores de ver o euro e a
Eurolândia explodir desapareceram [11], eles serão substituídos por um
perigo muito mais aterrador para os mercados: a monetização maciça e brutal da
dívidas estadunidense [12]. Esta situação apresentar-se-á nos Estados
Unidos com a agravante de ser dar num contexto de paralisia política completa
[13], com um Congresso que será segmentado pela emergência de facções
radicais tanto entre os republicanos (“Tea Party”, p.ex.) como entre os
democratas (“Occupy” p. ex.)
[14].
[1] Retomada de tal forma ilusória
que provoca um retorno às práticas das “subprimes”. E mesmo o preço do leite,
indicador fiável dos amortecimentos econômicos, aponta para a recessão. Fontes:
CNBC, 26/04/2012; New York Times, 10/04/2012 .
[2] A este respeito, lembramos que
doravante o governo dos EUA e o Fed devem criar US$2,50 de dívida para gerar
US$1,00 de crescimento. É o problema com que se depara toda economia cujo
endividamento se torna excessivo. Isto é o gênero de “pormenor” que os keynesianos, como Krugman, se esquecem
de precisar quando clamam às tontas e loucamente que as políticas de austeridade
são aberrantes. Como em toda abordagem de bom senso, que leva em conta o mundo
real e não as teorias econômicas, é preciso um equilíbrio entre redução do
endividamento e apoio ao crescimento. Este é igualmente o caminho que vai tomar
a Eurolândia a partir deste Verão; ao passo que os Estados Unidos continuam a
negar a necessidade de tratar o seu endividamento descontrolado.
[4] Fontes: TimesofIndia, 11/05/2012; MarketWatch, 10/05/2012; ChinaDaily, 06/05/2012; ChinaDaily, 28/03/2012; Washington
Post, 11/05/2012; USAToday, 13/04/2012; CNBC, 06/04/2012
[5] Fonte: MarketWatch, 10/05/2012
[6] Fonte: CERF, 21/04/2012
[7] Desde Fevereiro de 2012 e do GEAB nº 62,
nossa equipe pormenorizou amplamente sua antecipação sobre a evolução 2012-2016
da Eurolândia e os acontecimentos em curso confirmam a nossa análise (se quiser
ter uma apresentação "viva" das perspectivas da Eurolândia e da Europa, pode
assistir o discurso de Franck Biancheri pronunciado em inglês a 2 de Maio último
perante os 1000 delegados da principal rede estudantil europeia, AEGEE-EUROPE).
Daqui até o Verão, após as eleições legislativas francesas de Junho de 2012, um
acordo a seis sobre o equilíbrio austeridade/crescimento será encontrado
(França/Alemanha/Itália/Países Baixos/Bélgica/Espanha) que será levado à
Eurolândia + (Eurolândia mais os outros países participantes do MEE).
[8] Na Alemanha também se tornam cada
vez mais numerosas e fortes as vozes que exigem um caminho mais equilibrado pois
o custo social do êxito económico alemão começa a ser pesadamente ressentido por
uma parte crescente da população. Fonte: Spiegel, 04/05/2012
[9] Por exemplo: o fundo soberano
norueguês decidiu desembaraçar-se dos seus activos em dívida soberana dos países
frágeis da Eurolândia. Entretanto, o LEAP/E2020 lembra que no que se refere ao
euro, não há inquietações a ter e, ao contrário, daqui até o fim de 2012 é o US
dólar que experimentará o choque baixista. Fontes: Le Figaro, 05/05/2012; MarketWatch, 09/05/2012
[10] Neologismo criado a partir das
palavras “Tax” e “Armageddon”. Designa o caos fiscal que vai reinar no fim de
2012 no momento em que se irão impor opções de cortes orçamentais maciços no
orçamento federal dos EUA. Desde há aproximadamente um ano, os Estados Unidos e
a imprensa financeira internacional optou por ignorar cuidadosamente este enorme
problema. Será ainda mais difícil administrá-lo quando se impuser novamente na
paisagem.
[11] Como sublinhávamos em janeiro
último, é uma das grandes diferenças entre a crise grega atual e a histeria
anti-euro de 2010/2011. Se é teoricamente possível encarar hoje uma saída da
Grécia para fora da Eurolândia sem por em causa a moeda única, não é menos
verdadeiro que na realidade esta saída é impossível. Este é igualmente um dos
problemas com que se acham confrontados os dirigentes gregos. Sublinhamos este
ponto para lembrar que acerca deste assunto os economistas, que vivem em mundos
teóricos em geral sem relação com a realidade, há meses que se enganam sem
cessar. Os cantores do fim do euro, de Krugman a Roubini, têm neste assunto
tanta credibilidade quanto os sacerdotes romanos que liam o futuro nas entranhas
dos animais. Para retornar à Grécia, o LEAP/E2020 considera que na media em que
os dirigentes dos dois principais partidos de governo (PASOK e ND) pertencem às
gerações que conduziram o país a esta crise histórica, não haverá saída política
viável sem confiança popular... Cabe portanto aos dirigentes da Eurolândia, e
em
particular a Angela Merkel através do PPE e François Hollande através do PSE, fazerem pressão sobre os seus "partidos-irmãos"
respectivos para que daqui a Setembro de 2012 e às próximas eleições, o conjunto
dos dirigentes destas duas formações seja renovado em proveito de responsáveis
com menos de 45 anos. O êxito atual do partido de extrema-esquerda Syrisa deve-se tanto às suas ideias como
à idade do seu chefe: 38 anos. Um processo deste tipo foi bem utilizado para
fazer com que deixasse o poder um Silvio Berlusconi em fim de carreira. Os meios
existem portanto. E neste assunto, trata-se de permitir ao povo grego
reencontrar confiança em dirigentes novos, de direita ou de esquerda, sem
exclusão. Para bem entender porque uma saída da Grécia para fora da zona euro é
na prática impraticável, basta um só exemplo: se fosse grego e se se propusesse
trocar vossos euros por novos dracmas, o que faria? No comment!
[12] Mesmo Robert Rubin, o antigo
secretário do Tesouro dos EUA, doravante junta a sua voz àqueles que advertem
deste grave risco a curto prazo. Fonte: Reuters , 10/05/2012.
[13] Quer seja Barack Obama ou Mitt
Romney que ganhem a eleição presidencial.
[14] Ver GEAB
n°60
15/Maio/2012
[*] GEAB - Global
Europe Anticipation Bulletin
Communiqué
public GEAB N°65 (15 mai 2012)
Este Comunicado Público, em
francês, encontra-se em: “GEAB
N°65 est disponible! Crise systémique globale / Second semestre 2012 –
Convergence de quatre facteurs explosifs : Banques-Bourses-Retraites-Dettes”
Esta
tradução foi extraída de Resistir
e adaptada ao português do Brasil pela
redecastorphoto
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