Publicado
em 03/05/2012 por *Mair Pena Neto
A
política de punhos de renda invariavelmente impede que governantes digam ao povo
o que gostariam de dizer, de maneira clara, para que todos entendam o que está
se passando, quais forças antagônicas se digladiam e quais os interesses por
trás de cada grupo de pressão. Ao bom político, recomenda-se não acirrar as
tensões para evitar fraturas sociais que poderiam vir a inviabilizar seus
próprios governos.
Determinados
momentos históricos, porém, exigem discursos mais claros e diretos. Que
funcionem quase como consultas públicas. Uma maneira de dizer à população:
“olha, viemos até aqui e para seguir adiante estamos enfrentando as seguintes
barreiras. Vamos enfrentá-las?”. Tal explicitação exige que se dê nome aos bois.
Que interesses estão sendo contrariados e por que.
Neste
sentido, não seria exagerado classificar como histórico o pronunciamento da
presidente Dilma Rousseff alusivo ao 1º de Maio. A presidente não se limitou a
destacar o papel do trabalhador no desenvolvimento do país, e apontou para a
necessidade de que ele desfrute cada vez mais da riqueza que ajuda a produzir.
Isso significa, segundo as palavras de Dilma, enxergá-lo como cidadão e como
consumidor, “com condição de comprar todos os bens e serviços que sua família
precisa pra viver de maneira cômoda e feliz”.
A
presidente mencionou o esforço do governo em reduzir os juros e cobrou dos
bancos privados a oferta de mais crédito a custo mais baixo. Mais ainda, Dilma
considerou inexplicável aos brasileiros a “lógica perversa” do setor financeiro,
que não reduz suas taxas nem para as empresas e nem para os consumidores apesar
da estabilidade da economia brasileira e da queda contínua da taxa básica de
juros.
“Nos
últimos anos, o nosso sistema bancário é um dos mais sólidos do mundo, está
entre os que mais lucraram. Isso tem lhes dado força e estabilidade. O que é bom
para a economia. Isso também permite que eles deem crédito melhor e mais barato
aos brasileiros. É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas
financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do
mundo. Esses valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não
justifica isso”, afirmou Dilma, acrescentando que a “Selic baixa, a inflação
permanece estável, mas os juros do cheque especial, das prestações ou do cartão
de credito não diminuem”.
O
governo fez a sua parte reduzindo os juros cobrados pelas instituições
financeiras públicas, como o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal, o que mais uma vez revela a importância da presença do Estado
no setor, como indutor de políticas públicas Depois da chiadeira inicial, os
bancos privados tiveram que acenar com reduções diante do volume de operações
alcançadas pelos bancos públicos. “É bom também que você consumidor faça
prevalecer seus direitos, escolhendo as empresas que lhe ofereçam melhores
condições”, salientou Dilma, em recado direto às instituições que não se
adaptarem à tendência natural da economia do país.
Este
tipo de discurso é pedagógico e politizador. A ascensão social não se dá somente
pelo aumento do padrão de consumo, mas, principalmente, pela compreensão da
transformação em curso, sobre que bases ela se sustenta e que interesses ela
contraria. Pronunciamentos como o do 1º de Maio deveriam ser mais freqüentes
para um contato direto do governante com a população, tanto para prestação de
contas quanto para a conscientização. Afinal, essa não é uma das funções
precípuas da política?
*Mair Pena Neto: jornalista carioca, trabalhou em O Globo, Jornal do
Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e
repórter especial de economia.
Enviado por Direto da
Redação
Discurso da Presidenta
Dilma Rousseff extraído do Blog do Planalto
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