Wall Street dançô!
21/5/2012, Emily Flitter
(Martin Howell e Steve Orlofsky, Eds.), Reuters, New York,
EUA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
22/5/2012,
MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
“Obama sabe
que, num aperto, não pode contar com Índia, Vietnã, Arábia Saudita, Brasil,
Turquia para “resgatar” os EUA. Ainda pode, embora não muito, contar com alguns
europeus, poucos. Só lhe restou a China. Mas a pergunta é: como se faz para
“conter” a galinha dos ovos de ouro?”
(Reuters)
– A China já pode ignorar Wall Street, ao comprar títulos da dívida dos EUA: foi
autorizada a negociar diretamente com o Tesouro dos EUA, na primeira vez, em
toda a história, em que governo estrangeiro recebe autorização semelhante –
segundo documentos aos quais Reuters teve acesso.
As
novas regras de relacionamento significam que o Banco do Povo da China compra
agora papéis da dívida dos EUA por método exclusivo, diferente do autorizado
para qualquer outro banco central no mundo.
Os
demais bancos centrais, inclusive o Banco do Japão, que tem ávido apetite pelos
chamados Treasuries, os compram através de opções depositadas nos grandes
bancos de Wall Street designados pelo governo dos EUA como corretores primários.
Esses corretores vão aos leilões de venda de títulos da dívida dos EUA e
negociam em nome dos interessados.
A
China, proprietária de $1,17 trilhões em papéis da dívida dos EUA,
os Treasuries, ainda compra alguns desses papéis mediante os corretores
primários, mas desde junho de 2011, essa via já não é necessária.
Documentos
aos quais a Reuters teve acesso mostram que o Departamento do Tesouro dos EUA
deu ao Banco do Povo da China um link de computador direto para seu
sistema de leilões. Os chineses o usaram pela primeira vez, para comprar títulos
com vencimento para dois anos, no final de junho de 2011.
A
China pode agora concorrer nos leilões de compra de títulos da dívida dos EUA,
sem contato com os corretores primários. Mas, se quiser vendê-los, ainda tem de
fazê-lo no mercado.
A
mudança não foi anunciada publicamente, nem em mensagem de qualquer tipo
dirigida aos corretores primários.
“A
compra direta é aberta a vários tipos de investidores, mas como questão de
política geral, não comentamos sobre interessados individuais” – disse Matt
Anderson, um dos porta-vozes do Departamento do Tesouro.
Apesar
de não haver qualquer proibição que impeça governos estrangeiros de comprar
diretamente, o arranjo feito exclusivamente com a China é sem precedentes.
A
venda de títulos da dívida dos EUA à China tornou-se tema de debate público
carregado de forte conteúdo político sobre o papel da China como principal
exportador para os EUA e, ao mesmo tempo, como maior credor do país.
O
privilégio pode ajudar a China a comprar a dívida dos EUA por melhor preço,
reduzindo ao mínimo a informação acessível a Wall Street sobre suas compras.
Os
corretores primários não podem cobrar dos clientes, pelo serviço de disputar, em
nome deles, nos leilões do Tesouro. A China, portanto, não está economizando
dinheiro algum.
Em
vez disso, a China está podendo garantir o sigilo de informações específicas
valiosas sobre seus hábitos de compra. Podendo negociar diretamente com o
Tesouro, a China impede os bancos de Wall
Street de tentar explorar a presença chinesa num ou noutro específico leilão
– forçando os preços para cima.
É
uma dentre várias cortesias garantidas a um comprador único, em termos de poder
de compra. Embora os japoneses, por exemplo, possuam cerca de $1,1 trilhões em
Treasuries, as comprar japonesas têm sido menos centralizadas. O Japão
compra mediante várias instituições, incluindo fundos de pensão, bancos
japoneses e o Banco do Japão, sem que qualquer delas domine as demais.
Não
é a primeira vez que o Tesouro dos EUA mostra grande empenho em manter
satisfeito seu principal cliente.
Em
2009, quando funcionários do Tesouro descobriram que a China tinha contatos
especiais com corretores primários, para manter ocultas suas compras de papéis
da dívida dos EUA, o Tesouro mudou os métodos, para impedir esse tipo de negócio
– como a Reuters noticiou em junho passado. Mas ,
simultaneamente, o Tesouro afrouxou uma de suas exigências de notificação, para
manter o conforto dos chineses, no novo regime de regras.
Outro
traço do relacionamento especial entre EUA e China nesse campo é a discrição: o
Tesouro tentou manter sob sigilo os seus motivos para mudar as regras, em 2009 –
como observou a agência Reuters.
Outra
vez, documentos que tratam do novo status da China, como comprador
direto, mostram o mesmo desejo de sigilo – em relação a Wall Street. E, para
proteger o sistema contra hackers, o sistema do Tesouro que dá à China
acesso direto aos leilões de títulos foi upgraded.
Em
seguida, os técnicos do Tesouro discutiram meios para desviar as perguntas que
viriam, dos corretores de Wall
Street, no momento em que os resultados dos leilões começassem a mostrar a
inegável presença de um comprador direto estrangeiro.
“A
maioria entende que compradores estrangeiros só apresentam “ofertas indiretas”
pelos corretores primários. A novidade provavelmente causará boatos
significativos na rua, e muitas perguntas provavelmente chegarão até nós” –
escreveu um funcionário do governo, em e-mail que Reuters
leu.
No
mesmo e-mail, o mesmo funcionário sugeria que se oferecessem respostas
básicas, gerais, a perguntas sobre quem está autorizado a participar de leilões
dos títulos da dívida dos EUA.
“Parece-me
que será prudente, no caso de perguntas mais complexas ou de natureza mais
sensível, que as perguntas sejam encaminhadas à área de Relações Públicas do
Tesouro” – escreveu o funcionário.
Dar
à China status de comprador direto
pode gerar controvérsias, porque alguns funcionários do governo dos EUA já se
preocupam por a China ter alcançado posição muito alavancada, sobre os EUA,
graças à sua gorda carteira de papéis do Tesouro.
Por
exemplo, o economista Brad Setser, membro do Conselho Econômico Nacional e que
também trabalhou para o Conselho Nacional de Segurança, já disse que o fato de a
China ser proprietária de grande quantidade de Treasuries implica ameaça
à segurança nacional.
Mas
funcionários do Tesouro sustentam, há muito tempo, que a venda de papéis da
dívida à China é assunto mantido à parte, separado de considerações políticas,
numa relação negocial que beneficia os dois países. Os chineses usam os
Treasuries para manter a cotação dos dólares que recebem em pagamento dos
produtos que vendem para os EUA; e ao governo dos EUA interessa que haja essa
forte demanda pelos títulos de sua dívida, porque assim se mantêm baixas as
taxas de juro.
Porta-voz
da embaixada da China em Washington não respondeu aos telefonemas e
e-mails com pedidos para que comentassem a notícia.
Mas
os EUA já mostraram crescente ansiedade em relação à China , como ameaça
à “cibersegurança”. A mudança que o
Tesouro introduziu no sistema computacional de leilões, antes de dar acesso
direto à China, visou limitar o acesso apenas a um único sistema, a uma conexão
de rede privada, controlada pelo Tesouro.
A
China é um dos tópicos mais sensíveis para banqueiros e funcionários do governo
que vivem a cortejá-la como cliente financeiro, pelo tamanho e importância e
ninguém quis comentar essa matéria.
Mas
um ex-gerente da dívida, no Tesouro, que pediu para não ser identificado, disse
que, aos poucos, a China foi adquirindo experiência no mercado dos papéis da
dívida dos EUA; e que os chineses sentem-se provavelmente mais confortáveis na
nova situação, com melhor controle sobre a administração de sua carteira.
A
solicitação para apresentarem suas propostas de compra diretamente, desse ponto
de vista, seria resultado de uma maior confiança de que os chineses poderiam
comprar papéis da dívida, mais eficientemente, em negociação direta, do que
através dos bancos de Wall Street,
que frequentemente inflam os preços dos Treasuries em leilões, quando sabem
quanto os grandes clientes estão dispostos a gastar. Não é prática
especificamente ilegal, mas a maioria dos corretores as considerariam pouco
ética.
Prova
de que a China vai-se tornando operadora cada vez mais sofisticada, como gestora
de dinheiro, nos mercados dos EUA é a evidente expansão de suas operações
em New York. O braço
chinês de administração do dinheiro, Administração Estatal do Câmbio [orig.
State Administration for Foreign Exchange (mais conhecido como
SAFE), mantém escritório em Midtown Manhattan, e um experiente gestor de
investimentos – Changhong Zhu, ex-presidente de investimentos e derivativos da
Pacific Investment Management Co. – em Pequim.
Uma
voz feminina que atendeu ao telefone no escritório da SAFE em New York, disse que ninguém, no
escritório, tinha autorização para falar à imprensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.