segunda-feira, 7 de maio de 2012

BBB, Banco Bota Banca

Zoroastro Sant’Anna - Jornalista e cineasta
Nosso Homem nº 16

Os bancos viveram as doçuras do paraíso durante dos dois governos Lula, gostinho de menta na boca dos banqueiros. Os três maiores bancos lucraram no Brasil R$ 29,221 bilhões, em 2011, um recorde na história do país que agora ocupa o sétimo lugar no panorama da economia mundial. Nunca tão poucos ganharam tanto. É dinheiro que nem político acaba.

Se você for a uma agência bancária, poderá perceber que a maioria dos guichês não funcionam, não tem funcionários. Muitas mesas também estarão desocupadas. Isso se deve ao desenvolvimento da tecnologia, da informática, são milhões de atendimentos via internet e caixas eletrônicos, dispensando a tão incômoda ida ao banco e dispensando também milhares de empregados, aumentando assim a rentabilidade dos banqueiros e instabilidade dos bancários.

Bancos cuidando da sociedade

A maioria dos setores criticou acidamente a política do ex-presidente Lula de privilegiar a área dos bancos, mais do que os setores produtivos. Mas o ex-presidente antevia o tsunami do capitalismo financeiro que arrasou dezenas de grandes bancos e centenas de instituições nos Estados Unidos em 2008, quando Wall Street desmoronou e poderosos empresários de repente estavam na cadeia ou no cemitério.

Todo mundo sabe que não existe governo forte sem um  sistema financeiro forte, sólido e estável. E foi esta política que fez com que o tsunami americano chegasse aqui como uma simples “marolinha”, segundo palavras do então Presidente que  passou a cuidar dos setores produtivos reduzindo impostos, garantindo as vendas e possibilitando o acesso ao mercado de consumo de novos milhões de brasileiros.

Passa-se o tempo e os bancos não se mexem, fingem de mortos, ganham e querem ganhar cada vez mais, a qualquer custo. Apesar da diminuição constante das  taxas de juros do Banco Central, redução da SELIC, o sistema bancário não repassou essas reduções aos seus clientes e continuam impunemente a engordar os seus lucros como nunca antes na história desse país.


Quando a Humanidade deixou de ser nômade e passou a plantar, caçar e trocar, deu início ao comércio, pai da moeda e dos bancos. A moeda surgiu entre os lídios, cerca de 700 anos antes de Cristo, para facilitar as negociações entre os diversos mercadores que pululavam o oeste do mar Egeu. A Lídia era rica em prata o que facilitou a cunhagem de moedas que tinham o valor do seu peso. Os chineses já usavam a moeda alguns séculos antes, mas só eles sabiam.

Foi na Fenícia que os comerciantes começaram a deixar suas moedas nas bancas de troca das feiras para não ter que carregar daqui para lá e por receio das possibilidades de roubos e  levavam um papel como garantia.

Na Idade Média, os homens que guardavam as moedas nas bancas de rua perceberam que podiam emprestá-las a  outros , mediante uma  pequena taxa, enquanto os donos não viessem buscar. Foi aí que se transformam de cambistas guardadores em banqueiros emprestadores.

Inquisição da Igreja Católica
Como os juízes da Inquisição da Igreja Católica não viam com bons olhos esse negócio de emprestar dinheiro a juros, os judeus tomaram conta do setor e se tornaram os grandes empreendedores do dinheiro na história do mundo, o que lhes tem causado grandes problemas nos últimos cinco séculos, por terem deixado que a palavra “judeu” ficasse definitivamente vinculada a palavra “dinheiro”.

Os bancos brasileiros estão obesos de lucros. Gordos como estão,  perderam a mobilidade e a agilidade que a economia popular exige. Os empréstimos são poucos, muito restritos, difíceis de se conseguir e muito caros, o que trava a movimentação do mercado. Em contraposição está o Governo Federal que precisa do fluxo produção/consumo para manter o ritmo de desenvolvimento pretendido e a inserção social de novas camadas da população.

Contra o capitalismo, mais capitalismo. Esta foi a receita escolhida, em rede nacional, pela Presidenta Dilma Rousseff para enfrentar o imobilismo e o conservadorismo dos pretensos donos do dinheiro. Baixou todos os custos financeiros dos bancos oficiais forçando os bancos privados a seguirem a mesma receita sob pena de perderem clientes e mercados.

Os críticos desta decisão, mesmo os internos, dizem que os bancos do governo deixarão de faturar bilhões nos próximos anos, que será um prejuízo incalculável para a nação. Uma visão míope do processo de desenvolvimento. Deixar de receber lucros financeiros não é necessariamente prejuízo, principalmente se considerarmos que esse dinheiro que deixa de entrar nos bancos está entrando no mercado e aquecendo a economia.

Maílson da Nóbrega num baile... Quando era ministro
O ex-ministro Maílson da Nóbrega saiu em socorro verbal dos banqueiros conservadores e disse que se eles baixarem os juros “estarão cometendo o suicídio”. O argumento dos banqueiros para resistir à baixa de juros é o volume da inadimplência.  Pois vejam o azar que eles deram; no dia seguinte a esta declaração da FEBRABAN, a taxa de inadimplência baixou de 5,7% para 5,4%, uma baixa pequena, mas foi uma baixa e não uma alta como argumentavam.

Os especuladores da Bolsa de Valores prometem fazer uma passeata pelados na frente do Palácio do Planalto porque seus investimentos estão ficando  a descoberto e suas estimadas ações dos bancos estão caindo entre 2 e 3%.

Já a alteração das regras da poupança, que só são válidas para as novas contas, funciona como uma gangorra: perde no rendimento e ganha na baixa dos juros dos financiamentos.

Bertolt Brecht
Os bancos nunca cultivaram uma flor no coração e, como dizia o escritor alemão Bertolt Brecht: “Qual o crime maior? Assaltar um banco ou fundar um banco?”

Os políticos esquecem que o poder é nosso e que outorgamos a eles o direito de exercê-lo através do voto. Este mesmo tipo de amnésia conveniente afeta também os banqueiros, pois esquecem eles que o dinheiro é nosso, de cada cidadão, de cada cliente e não deles.

Se retirarmos nossas moedas dos bancos cultuadores da usura e da ganância eles quebram. Os bancos não são nada sem o nosso dinheiro, como os políticos não são ninguém sem o nosso voto. Portanto, assim como é possível mudar a política mudando nosso voto, podemos dobrar os bancos inescrupulosos; é só mudar a conta  para um banco melhor. O que o nosso Banese pensa disso?

Minha filha tem um pequeno negócio na área do turismo e já trocou de banco, preferiu um que tem melhor atendimento e melhores taxas de juros. Essa queda de braço entre a Presidenta e os banqueiros só reforça a musculatura da economia e revigora a nossa crença de que, se cada um fizer a sua parte, o banco que agora bota banca, certamente estará na bancarrota.

  • Criminoso – Meu companheiro de lutas Eduardo Collier Filho, o Duda, estava desaparecido  desde 1973, a 39 anos.  Neste fim  de semana, foi lançado em  São Paulo o livro “Memórias de Uma Guerra Suja”,  do confessadamente torturador Claudio Antonio Guerra, 71 anos, ex-diretor do Dops que diz “se tive coragem de fazer, eu tenho que ter coragem de assumir meus erros.”  Segundo suas memórias sujas, Duda Collier, José Roman, Luiz Ignácio Magalhães Filho, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski e seu marido Wilson Silva, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, João Batista e o líder do PCB David Capistrano, que teve sua mão arrancada, tiveram seus corpos incinerados na Usina Cambahyba, de açúcar, em Campos, no Estado do Rio, propriedade de Heli Ribeiro Gomes, então vice-governador do Estado.

  • Criminoso II – O livro desce a detalhes, narrando a visita a Usina do coronel de Cavalaria Freddie Perdigão Pereira (SNI) e do comandante de Marinha Antonio Vieira (CENIMAR) para a aprovação do forno de cremação dos cadáveres dos presos políticos assassinados.

  • Criminoso III – O torturador memorialista Claudio Guerra revela ainda que o ex-Delegado do Dops, Sérgio Fleury, tido como morto num acidente no cais de Ilhabela, estava rico por desviar dinheiro de empresários que financiavam a repressão, teve sua morte decretada num descontraído jantar no restaurante Baby Beef, com a presença dos coronéis Brilhante Ustra, Ênio Pimentel da Silveira, coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva, comandante Antonio Vieira e delegado Aparecido Laertes Calandra.

  • Cinzas – Aí estão todos os nomes , todos os rostos dessa tragédia. Neste momento, fiquei sabendo que meu bom e velho companheiro Duda Collier agora é cinzas e nada mais.
Texto enviado pelo autor
Ilustrações e “links” catados na internet e inseridos por redecastorphoto


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