terça-feira, 22 de maio de 2012

O programa de entrevistas de Julian Assange


Jornalismo versus o “jornalismo-que-há”

22/5/2012, Glenn Greenwald, Salon
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

 Todos os vídeos (em inglês, árabe, russo e espanhol) estão em Julian Assange- Rússia Today  
As vídeo-entrevistas transcritas abaixo estão traduzidas para o português em:

  1. 16/4/2012, Assange entrevista No.1 – “Hassan Nasrallah (Hezbollah)”
  2. 25/4/2012, Assange entrevista No.2 - “Esquerda e direita, no século 21: Zizek e Horowitz”
  3. 5 /5/ 2012, Assange entrevista No. 3: - “Moncef Marzouki, Presidente da Tunísia”
  4. 8/5/2012, Assange entrevista No.4 - Nabeel Rajab e Alaa Abd El-Fattah (líderes populares da Primavera árabe)  
  5. 16/5/2012, Assange entrevista No. 5 -  Moazzam Begg e Assim Qureshi (sobreviventes de Guantánamo)
  6. 22/5/2012 (hoje): Assange entrevista No. 6 – “Rafael Correa, presidente do Equador” (em tradução)

Comentário do Priscas (Eras) sobre as entrevistas do Assange: “Hoje, lendo o  Alberto Dines no OI – Observatório da Imprensa, percebi que ele é o melhor (ou maior) jornalista do Brasil, pois além de arriscar um “score” de Imprensa 1 x 0 CPMI Cachoeira/Imprensa - representada pelo Grupo GAFE (Globo, Abril, FSP, Estadão) - mostrou ser capaz de analisar o NADA (jornalismo-que-há) e conceder-lhe a VITÓRIA”.
Respondi (Castor) na hora: Quem precisa de comédia se tem o Dines e o OI?

Glenn Greenwald
Quando se divulgou, em abril passado, que a rede de televisão Russia Today patrocinada pelo Kremlin, passaria a exibir um novo programa de entrevistas, em que o entrevistador seria Julian Assange, os figurões da mídia-empresa nos EUA, como seria de prever, irromperam em comentários sardônicos e ironias, já antes de o primeiro programa ir ao ar (nada desperta mais rapidamente a ira do establishment da mídia-empresa nos EUA, que os que desafiam abertamente o poder de Washington).

Dado que me envolvi naquele debate, acho que, agora, é hora de rapidamente comentar os (até agora) cinco programas que Assange já produziu. E que cada um decida sobre a relação entre os próprios programas e o que disseram os jornalistas norte-americanos. É boa ocasião, também, para, por comparação, refletirmos sobre a qualidade, a substância e o alcance dos debates aos quais se assiste, nos EUA [e, no Brasil, então... NEM SE FALA!], oferecidos pelas televisões abertas e por cabo. Até agora, foram seis programas:

1º Programa: Entrevista com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, primeira entrevista, em muitos anos, concedida por essa figura controversa e poderosa, na qual Nasrallah fala sobre a Primavera Árabe, o conflito Israel/Palestina e o apoio que o Hezbollah continua a dar a Bashar Assad da Síria (apoio que Assange critica com veemência, apesar de o governo russo também apoiar o regime sírio).

2º Programa: Discussão entre Slavoj Zizek, sociólogo esloveno, filósofo e ex-dissidente anticomunista que se converteu ao comunismo; e o fanático neoconservador de direita (e ex-comunista) David Horowitz. Discutem várias questões políticas globais, inclusive a globalização econômica e o modo como Israel comporta-se no mundo.

3º Programa: Entrevista com o presidente recém eleito na Tunísia Moncef Marzouki, ex-ativista a favor da defesa de direitos humanos, e primeiro presidente eleito em seu país, depois do levante da Primavera Árabe. Marzouki fala sobre os padrões ambíguos e a hiprocrisia ocidental que se vê na Tunísia e no mundo árabe, relembra o tempo em que esteve preso confinado em solitária, por decisão do regime deposto na Tunísia; diz que sofreu tortura moral e conclama outros líderes da Primavera Árabe a eliminar todos os abusos de direitos humanos e a transformar a região.

4º Programa: Discussão com dois líderes populares da Primavera Árabe, Alaa Abd El-Fattah, egípcio, e, do Bahrain, Nabeel Rajab, sobre o imperativo de derrubar regimes opressores, como fazer, e os principais desafios que os militantes ainda enfrentam, para trazer aos seus países as liberdades básicas.

5º Programa: Entrevista com Moazzam Begg, ex-prisioneiro em Guantánamo, e Asim Qureshi, advogado de prisioneiros que permanecem naquela prisão e militante de direitos humanos, sobre “o suplício infligido aos muçulmanos em geral, no mundo pós 11/9, a linha tênue que separa o terror e a autodefesa, e os novos tempos de Obama (“saímos da era da detenção extrajudicial, para a era da matança extrajudicial”).

6º Programa (hoje, 22/5/2012): Entrevista com o presidente do Equador, Rafael Correa, formado em economia nos EUA, sobre a luta para estabilizar a democracia em seu país, a tentativa de golpe que enfrentou em 2010, o papel da mídia-empresa na promoção dos interesses da elite, seu esforço para proteger os recursos naturais do Equador e fazer crescer a economia nacional; e o quanto a transparência que se obteve, com a divulgação, por WikiLeaks, dos telegramas diplomáticos dos EUA, beneficiou o Equador (“não temos nada a esconder. Os telegramas [divulgados por] WikiLeaks nos fortaleceram”), e o motivo pelo qual Correa fechou a base militar dos EUA no Equador (“Você aceitaria uma base militar estrangeira no seu país? É simples, como eu disse naquela época. Se não há problema algum em os EUA manterem uma base militar no Equador, ok, tudo bem. Permitiremos que a base de inteligência permaneça no Equador, se os EUA permitirem que estabeleçamos uma base militar do Equador nos EUA. Nessas condições, ok, sem problema”).

E pergunto eu:

Quem assista a esses programas obterá, ou não, mais e melhor informação sobre o mundo, em relação ao que se obtém dos noticiários da rede de televisão a cabo nos EUA? 

Quem – Russia Today e Assange – ou a mídia corporativa norte-americana está fazendo mais bem feito o trabalho jornalístico essencial, de expor pontos de vista divergentes do “oficial”, chamando a atenção para outros pontos de vista, alertando para as consequências reais de cada ação de cada governo, consequências que, sem melhor jornalismo, ou permanecem ignoradas ou são ativamente ocultadas, e fazendo conhecer o que pensam os mais poderosos grupos políticos do mundo?

Perguntar já é responder. E isso, afinal, é o que explica a fúria contra Assange e contra WikiLeaks em geral, que se vê em todas as ‘estrelas’ do jornalismo-empresa nos EUA.

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