4/1/2014, [*] Eric Zuesse, Washington’s Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
OS PRISIONEIROS DO LUCRO |
Os conservadores apoiam a privatização
de escolas, universidades, prisões, hospitais e outros serviços sociais. A
mania de privatizar cresce muito, sobretudo, na educação superior, com
conservadores no Congresso dos EUA [e,
no Brasil, até os juízes da Suprema Corte são donos de universidades privadas [1]] dedicados a aprovar medidas para
aumentar a porcentagem de universidades e escolas superiores cujos
proprietários são empresas, vale dizer, organizações
orientadas para o lucro, e
reduzir a porcentagem de universidades e escolas públicas.
O argumento que sempre se ouve para as
privatizações é que as empresas são mais “eficientes”, porque são o modo pelo
qual o “livre mercado” operaria para atender as necessidades do povo. Os
progressistas respondem que não; que nesses setores da economia, nos quais é
impossível aferir os “lucros” para o povo, o estado faz serviço melhor e menos
ineficiente que as empresas comerciais. Agora, nos EUA, até um governador
conservador parece ter chegado à conclusão de que, pelo menos nisso, os
progressistas têm mais razão.
Dia 3/1/2014, a agência Associated Press publicou notícia de que
o governador Republicano de um dos três estados mais-Republicanos dos EUA,
Idaho, decidiu dar meia volta e anunciou
que:
(...) o Departamento de Justiça assumirá a administração e a operação da
maior prisão privada do estado.
Rebecca Boone |
Até agora de propriedade e administrada
pela empresa de serviços prisionais Corrections
Corporation of America. Escrevendo de Boise, Idaho, Rebecca Boone, da AP,
diz que:
(...) “apesar de, em 2008, o governador ter forçado a aprovação de leis
estaduais para permitir que empresas privadas operassem prisões no Idaho”, o
mesmo governador agora está retomando para o estado a administração dessa
prisão da marca CCA, por causa de “má administração e outros problemas naquele
estabelecimento”.
Alguns meses antes, dia 16/9, a
mesma repórter noticiara que:
CCA é acusada de irregularidades na prisão de Boise, e citou a ordem do juiz federal, que
dizia que: as mentiras do pessoal
administrativo sobre item tão básico (sobre se há guarda designado para
determinado posto), deixa essa Corte gravemente preocupada sobre o cumprimento
das regras em outros quesitos obrigatórios, como, dentre outros, se está
havendo correta informação às autoridades do estado sobre incidentes violentos
naquele estabelecimento privado.
O juiz descobriu que a empresa CCA
mentia, porque desejava “economizar” a dotação que recebia do estado, para
distribuir aquele dinheiro como dividendo entre os sócios, prejudicando assim a
alimentação e a proteção devida aos prisioneiros dentro da prisão. E o juiz
dizia, em sentença:
Se o total das multas aplicadas aproximam-se de US$ 2,4 milhões, a empresa
CCA que perceba que é ela, não o estado, o principal responsável por tudo isso.
No processo, a empresa CCA foi
apanhada em sucessivas fraudes, nos relatórios que apresentava ao estado, sobre
serviços que deveria prestar aos prisioneiros, mas não prestava.
A tensão entre busca de lucros
privados versus prestação de serviços públicos ficou muito clara, nesse
caso. A empresa CCA cortou serviços que deveria prestar aos prisioneiros, para
aumentar lucros. E um juiz federal aplicou-lhe pesada multa por a empresa ter
feito exatamente isso.
Do mesmo modo, estados como França,
Suécia, Reino Unido e, em geral os países da OCDE, nos quais o atendimento à
saúde é integralmente ou em grande medida oferecido pelo estado, têm melhores resultados
a apresentar, e custos menores no atendimento à saúde
da população, que os EUA, onde a motivação do lucro no atendimento à
saúde é cada vez mais estimulado.
Apesar de todas as evidências contudo,
muitos norte-americanos preferem a privatização de serviços do estado, porque
acreditam piamente que o movimento na direção de “diminuir o Estado”
significaria andar na direção de maior liberdade e seria a única direção ética
possível, no rumo, também, de mais e melhor democracia, nos termos da
Constituição dos EUA. Embora a Constituição dos EUA não seja, de modo algum,
documento de promoção e propaganda do livre mercado, e trate de questões
políticas, não de questões de economia, persiste entre os cidadãos uma crença
profunda de que ali se trate, fundamentalmente, de questões econômicas. E dessa
mistura tóxica nasceu um mito sobre a privatização.
Um dos mitos da privatização: A privatização teria sido “inventada”
por duas
grandes democracias, EUA e Grã-Bretanha, nos anos 1980s. É falso. A privatização, como a
reencontramos no mundo nos anos 1980s e 1990s, foi instrumento muito usado,
antes, pelos regimes fascistas.
Um fato sobre a privatização: Antes de Reagan e Tatcher [e dos governos da privataria do PSDB-DEM
no Brasil de FHC-Serra (NTs)], a privatização foi objetivo muito empenhadamente
buscado pelas elites fascistas – e desde os primeiros passos do fascismo.
Uma explicação para o fato: As elites controlam a
riqueza privada. Com a
privatização, as mesmas elites ganham controle também sobre o que, antes da
privatização, era riqueza pública. A privatização, além do mais, dá a políticos
corruptos (representantes da elite corrupta e corrompedora) uma oportunidade
para reaver, em benefício próprio e dos que os apadrinham, o que pagam de
impostos [as elites sempre odeiam
impostos; haja vista a campanha anti-impostos que vivem a fazer, notadamente
pelos veículos da imprensa-empresa (privada), com certeza, pelo menos, no
Brasil-2014 (NTs)]; a privatização assegura meios para comprar, diretamente,
patrimônio público. Não é surpresa, pois, que todos os governos fascistas
tenham sido ativos privateiros.
Há documentos e provas
Em setembro de 2009, o European University Institute lançou um
estudo, RSCAS 2009, intitulado “Do Público ao Privado:
Privatização na Itália Fascista nos anos 1920”, título logo depois
substituído por “A primeira privatização: a
venda das SOEs”, quando o trabalho foi republicado em 2011, no Cambridge
Journal of Economics, por Germa Bel, que escreveu no sumário:
A privatização foi importante política do governo italiano nos anos
1922-1925. O governo fascista era o único a transferir propriedade do Estado
para empresas privadas nos anos 1920s; e assim continuou; nenhum outro país do
mundo adotaria a mesma política, até que a Alemanha nazista adotou também a
privatização, no período 1934-1937.
Adiante, na edição de fevereiro de
2010 da Economic
History Review, a mesma
autora publicou estudo específico sobre o caso da Alemanha Nazista, “Contra
a Corrente: privatização nazista, na Alemanha dos anos 1930s”. Nesse artigo, Germa Bel diz que:
Germa Bel |
(...) as privatizações no Chile [fascista, sob Pinochet] e na Grã-Bretanha, que começaram a ser
feitas nos anos 1970s e 1980s, são em geral consideradas as primeiras políticas
de privatização na história moderna (...). Nenhuma das análises econômicas contemporâneas da privatização leva em
conta esse importante caso anterior e precursor: a política de privatização
implementada pelo Partido Nacional Socialista (Nazi) na Alemanha. (...) Por
menos que a moderna literatura econômica goste de lembrar, o governo nazista da
Alemanha nos anos 1930s implementou uma das maiores políticas de privatização
em grande escala que o mundo conheceu . E, adiante: Em meados dos anos 1930s, a Alemanha era o único país do mundo que
ainda desenvolvia política de privatização (porque, então, a Itália
fascista já encerrara o período das privatizações).
O objetivo dessas privatizações, nos
dois casos, era principalmente “fazer caixa” pela venda de patrimônio público,
para financiar o rearmamento, e também “o desejo de angariar maior apoio” dos
grandes aristocratas (como, na Alemanha, os grandes industriais fabricantes de
armas, os Thyssens, os Krupps e os Flicks), que receberam as cerejas do bolo do
patrimônio público do povo alemão.
Muito depois, a Rússia de Bóris
Yeltsin também privatizou muito, quando aquele país passava, de comunista, a
fascista. (Yeltsin não era, pessoalmente, fascista; não tinha inteligência para
ser coisa alguma, no plano ideológico. Era confuso, atrapalhado [o que ninguém poderá jamais dizer do “príncipe
da sociologia uspeana” no Brasil e rei da privataria! (risos, risos) (NTs)]. (...)
A privatização nos EUA: Para continuar no exemplo das
prisões, dia 22/10/2013, o Huffington Post, publicou grande matéria de
investigação, intitulada “Prisioneiros do
Lucro: Cresce o Império das Prisões Privadas, apesar do número recorde de
denúncia de abusos contra menores infratores”.
Chris Kirkham |
O repórter Chris Kirkham descobriu
corrupção política e fraudes nas privatizações de prisões para jovens. Exemplo
típico das consequências:
A privatização rampante do sistema de prisões para jovens infratores na
Flórida produziu ali os mais altos índices de reincidência no crime, de todo o
país. Mais de 40% dos jovens infratores encarcerados nas prisões para jovens da
Florida voltam a ser presos e condenados por outro crime no período de um ano
depois de serem libertados, segundo dados estaduais. No estado de New York,
onde historicamente nenhum jovem infrator é encarcerado em prisões privadas,
25% voltam condenados à prisão no mesmo período.
Aquelas crianças na Florida já estão
entregues à violência fascista da bandidagem privateira. Os contribuintes
norte-americanos, também.
Nota
dos tradutores
[1] Gilmar Mendes (ministro do Supremo Tribunal
Federal do Brasil) fundou, em 1998, juntamente com o Procurador Regional da
República, Gustavo Gonet Branco e com o ex-Procurador Geral da República,
Inocêncio Mártires Coelho, o Instituto Brasiliense de Direito Público
(IDP), escola privada que oferece cursos de graduação e pós-graduação em
Brasília. Segundo reportagem da CartaCapital, esse Instituto
faturou cerca de R$ 1,6 milhões em convênios com a União até 2008.
Construído em terreno público privatizado durante o governo FHC |
Ainda
segundo a reportagem, de seus dez colegas no STF, seis são professores desse
Instituto, além de outras figuras importantes nos poderes executivo e
judiciário. Entre os maiores clientes do instituto estão a União, o STJ e o
Congresso Nacional. O ministro confirma que é sócio do IDP e
garante que não há nenhum impedimento para isso. “A Lei da Magistratura
permite isso expressamente. Não há dúvida".
__________________
[*] Eric Zuesse é historiador, investigador e blogueiro do Huffington Post. Também é autor dos
livros recentemente lançados: They're Not
Even Close: The Democratic vs. Republican Economic Records, 1910-2010 e de CHRIST'S
VENTRILOQUISTS: The Event that Created Christianity.
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