11/1/2014, [*] Eric Margolis, Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Bandeiras das "afiliadas" da al-Qaeda |
Como é
possível que um microscópico grupo anticomunista no Afeganistão, que não tinha
mais que 200 membros ativos em 2001, tenha-se tornado suposta ameaça
planetária?
Como pode a
al-Qaeda estar em todo o Oriente Médio, Norte da África e em grande parte da
África negra? E, isso, depois de os EUA terem consumido mais de $1 trilhão para
acabar com a al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão?
A resposta
é simples. Como organização e ameaça, a al-Qaeda é quase nada. Mas como nome,
“al-Qaeda” e “terrorismo” tornaram-se palavras universalmente sempre à mão,
para designar grupos que combatem a influência ocidental, a corrupção ou a
repressão na Ásia e na África. A al-Qaeda está em lugar algum – mas em todos os
lugares.
Se você for
um grupo rebelde à procura de publicidade, o caminho mais fácil e declarar-se
aliado da fugaz, impalpável, inexistente al-Qaeda.
Tome-se o
Iraque, onde a luta avança sem trégua entre governo xiita e milícias sunitas na
Província Anbar. Interessante: o levante sunita está centrado em Fallujah, que
foi destruída, posta no chão, reduzida a escombros pelos Marines dos EUA
e arruinada para sempre por bombas de urânio e munição ilegal de fósforo
branco, como “aviso” aos iraquianos que ousassem resistir.
Depois que
os EUA invadiram o Iraque em 2003, mais de uma dúzia de grupos iraquianos de
resistência surgiram, para lutar contra os norte-americanos e seus recém
aparecidos novos aliados xiitas. O principal desses grupos era o Partido Ba’ath
de Saddam Hussein e militares veteranos iraquianos. Como já disse várias vezes
em grandes redes de TV dos EUA, nunca houve, nem al-Qaeda, nem armas nucleares
no Iraque. Agradeçam a George W. Bush pela chamada al-Qaeda do Iraque.
Abu Musab al-Zarqawi |
Graças à
mágica da manipulação pela imprensa-empresa de massa, Washington conseguiu desviar
a atenção, fazendo que todos deixassem de ver os grupos da resistência sunita –
“terroristas”, como foram rotulados –, para só verem um único grupo de doidos
degoladores liderados por um jordaniano, renegado, misterioso, Abu Musab
al-Zarqawi. Todos os demais grupos da resistência sumiram de vista.
Alguns
reaparecem agora, no oeste do Iraque, dentre eles, mais falado, o Estado
Islâmico do Iraque e do Levante (Síria) [orig. Islamic State of Iraq and the
Levant (Syria), ISIS). Sempre é dito “ligado à al-Qaeda”, quando a
imprensa-empresa ocidental fala dele, mas provar alguma ligação, ninguém jamais
provou. E o governo cada dia mais brutal do Iraque também alardeia que estaria
lutando contra a al-Qaeda na Província Anbar.
A simples
menção da palavra “de trabalho” al-Qaeda bastou para lançar os Republicanos e
neoconservadores norte-americanos em estado de frenesi. Exigem que o governo
Obama “faça algo”. Talvez... reinvadir o Iraque? Há 10 mil soldados dos EUA bem
ali perto, no Kuwait.
Iraque - Região (verde escuro) dominada pela ISIS [orig. Islamic State of Iraq and the Levant (Syria)] |
Forças
especiais, aviões tripulados “presencialmente” e tripulados à distância, os drones,
dos EUA, e mercenários da CIA já estão em ação em torno de Fallujah e Ramadi.
Como em outras vezes, a CIA está pagando milhões a tribos sunitas para que
combatam forças antigoverno.
Por loucura
que pareça, os EUA consideram a possibilidade de comprar helicópteros de ataque
da Rússia para dá-los ao regime de Bagdá, como estão fazendo atualmente no Afeganistão
com o regime de Cabul.
Leon Panetta |
Por falar
de Afeganistão, o ex-diretor do Pentágono, Leon Panetta admitiu que não havia
mais que de 25 a
50 membros da al-Qaeda no Afeganistão. Mas agora já há al-Qaeda no Paquistão,
Jordânia, Arábia Saudita, Iêmen, pelo Norte da África, Nigéria, Mali, República
Centro-Africana e por aí vai. O grupo Shebab da Somália, de resistência
anti-ocidente, também já é apresentado como “ligado à al-Qaeda”.
Nos tempos
da Guerra Fria, praticamente todos os grupos que se opunham à dominação
ocidental eram chamados comunistas. Hoje, a al-Qaeda substituiu o comunismo
como nome a usar em todas as “emergências”. A ideia generalizada – mas
provavelmente errada – segundo a qual a al-Qaeda de Osama bin Laden teria sido
responsável pelos ataques do 11/9 converte qualquer coisa “ligada à al-Qaeda”
em candidato nato à liquidação sumária.
Rotular
seus inimigos como “terroristas” é ótimo modo de deslegitimá-los e negar-lhes
qualquer direito político ou humanitário. Foi o que fez Israel, com muita
eficácia, contra palestinos desesperados.
Contudo, o
problema óbvio aqui é que, ao fazer isso, cria-se suprimento infinito de
“terroristas”, o que leva a pressões a favor de guerras contra eles. Isso, e o
petróleo, já meteram forças especiais dos EUA África adentro, por toda a África
negra. Essa é a “guerra longa”, infinita, que os círculos militaristas e
neoconservadores nos EUA desejam, e contra a qual o presidente Dwight
Eisenhower tão prescientemente alertou, nos idos dos anos 1950s.
O Egito é
mais um trágico exemplo de propaganda distribuída pela imprensa-empresa, que
vira “fato”. A maioria do povo egípcio, que votou e elegeu democraticamente um
governo, em eleições limpas, e o governo que os egípcios elegeram, já são hoje
universalmente condenados como “terroristas” pelos generais bandidos que
derrubaram o governo eleito no Cairo. Qualquer um que se oponha à junta militar
apoiada pelos EUA e pela Arábia Saudita é “terrorista”. Provavelmente dirigem
carros terroristas, comem comida terrorista e têm filhinhos terroristazinhos.
___________________
[*] Eric S. Margolis é colunista internacionalmente
premiado. Seus artigos são usualmente
publicados no New York Times; International Herald Tribune Los
Angeles Times; Times de Londres; Gulf Times; Khaleej Times;
Nation- Paquistão; Hurriyet - Turquia, Sun Times - Malásia
e outros sites de notícias na Ásia. Anima a página
da internet Eric Margolis.
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