[*] Adriano Benayon − 12.02.2014
Credores da Dívida Interna do Brasil - 11/2013 (não auditada) |
É hora de
abrir o olho. Estamos no Brasil e no Mundo em situação especialmente perigosa,
de que há copiosas manifestações, cujas causas são sistematicamente ocultadas,
pois os que estão por trás delas, querem operar despercebidos.
2. As potências hegemônicas, suas
associadas e satélites seguem em depressão econômica, com aspectos mais
perversos que os da iniciada em 1930 e que só terminou, em 1943, nos EUA - com
a mobilização de dezenas de milhões de combatentes na Segunda Guerra Mundial,
mais os vultosos investimentos para produzir armas. Na Europa e na Ásia, a
depressão foi substituída pela devastação.
3. A terrível Guerra de 1939 a 1945 não foi
desencadeada para acabar com a depressão, pois sempre os móveis são obter mais
poder, arruinar potências vistas como rivais e desviar o foco dos reais
problemas sociais e econômicos.
4. Agora, desde a contra-revolução liberal
dos anos 80, a
financeirização e a concentração do poder econômico e da renda deram grandes
saltos, enquanto decai o patrimônio e a renda real, no caso da grande maioria
dos que trabalham e no da crescente massa dos desempregados.
5. Essa iniquidade jamais poderia ser
tolerada sob sistemas democráticos. Assim, quase nada resta do pouco de
democracia, antes presente nos sistemas políticos representativos, hoje mera
embalagem, com rótulo falso, de um sistema tirânico, que investe massivamente
em contracultura, desinformação e alienação, há mais de século.
6. Assim, institucionalizou-se a mentira, e
a verdade é reprimida através de instrumentos totalitários, radicalizados desde
os ataques 11/09/2001.
7. O terrorismo de Estado dirige-se contra
os cidadãos e é usado para marquetar,
como justas, agressões militares genocidas contra países alvos da geopolítica
da oligarquia angloamericana: Afeganistão, Iraque, Somália e Líbia.
8. Além disso, EUA, Reino Unido, Israel e
satélites têm intervindo em numerosos países com golpes e pretensas revoluções
suscitadas por serviços secretos, mercenários e organizações terroristas. Síria
e Ucrânia são alvos preferenciais dessas agressões, sem falar nas permanentes
pressões e falsas acusações contra o Irã.
9. O prelúdio da Segunda Guerra Mundial,
nos anos 30, também apresentou invasões e conflitos localizados, e a ascensão
de regimes fascistas (Itália, Alemanha e Japão), além de na Espanha, após
sangrenta guerra civil, de 1936
a 1939, com participação de forças militares
estrangeiras.
10. No presente, a depressão econômica
prossegue, bem como suas trágicas consequências sociais. A oligarquia
financeira está cada vez mais concentrada e tem cada vez mais poder sobre os
governos – à exceção dos demonizados, por não se submeterem − pela mídia e
pelas demais instituições formadoras de opinião.
11. A oligarquia não deseja acabar com a
depressão − tarefa fácil, se fosse decidida – e visa concentrar mais poder e
tornar irreversível o controle totalitário sobre o Planeta, seus recursos e
habitantes. Isso envolve desumanizar os seres humanos, inclusive acabando com
as sociedades nacionais.
12. As soluções para recuperar a economia
podem ser entendidas por qualquer pessoa sensata, não bitolada por lugares
comuns disseminados pelos economistas mais renomados (justamente por agradarem
a oligarquia).
13. A depressão dos anos 30, explodiu com
violência, notadamente na Alemanha, exaurida pelas reparações da Iª Guerra
Mundial. Ali o desemprego atingiu 6 milhões em março de 1932.
14. Economistas competentes, como
Lautenbach, alto funcionário do ministério da economia, mostraram o caminho
correto, apoiado pela federação das indústrias, semelhante ao plano de
Woytinski, sustentado por sindicatos de trabalhadores.
Wilhelm Lautenbach |
15. Em 1931, Lautenbach apresentou o
memorandum “Possibilidades para reviver a atividade econômica, através do
investimento e da expansão do crédito”. Afirmou:
O curso para
superar a emergência econômica e financeira não é limitar a atividade
econômica, mas aumentá-la, porque o mercado não mais funciona nas condições de
depressão e crise monetária mundial.
Neste
momento, temos situação paradoxal, na qual, apesar dos cortes extraordinários
na produção, a procura ainda está defasada em relação à oferta. Assim, temos
excedentes crônicos da produção, com os quais não sabemos lidar. Encontrar
algum modo de transformar esses excedentes em valor real é o problema real e o
mais urgente da política econômica.
Excedentes de
bens físicos, capacidade não-utilizada dos equipamentos produtivos e força de
trabalho não-aproveitada podem ser aplicados para satisfazer uma nova necessidade,
a qual, do ponto de vista econômico, representa investimento de capital.
Podemos
conceber tarefas como obras públicas, ou obras realizadas com apoio público −
que para a economia significariam aumento da riqueza nacional − e que teriam de
ser feitas de qualquer modo, quando se voltasse a ter condições normais
(construção de estradas, expansão do sistema ferroviário, melhoramentos na
infra-estrutura, etc.).
Com tal
política de crédito e investimentos, será remediado o desequilíbrio entre a oferta
e a procura no mercado interno, e toda a produção terá ganhado direção e
objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir tal política, estaremos
encaminhados para inevitável e continuado colapso e para a completa destruição
da economia nacional, levando-nos a uma situação que nos forçará, para evitar
uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo meramente para fins de
consumo; enquanto que hoje, está ainda em nosso poder obter esse crédito para
fins produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto a economia como as
finanças públicas.
W. Woytinsky |
16. Woytinski recomendou explorar
oportunidades de complementar as iniciativas das empresas privadas com a
criação de empregos, através de investimentos públicos. Propôs, ainda, a
liberação de fundos, via políticas de expansão monetária para a reconstrução da
Europa.
17. Em janeiro de 1932 foi apresentado o
plano de criação de empregos WTB (Woytinski, Tarnow e Baade) para criar 1
milhão de novos empregos, com investimentos financiados por créditos de longo
prazo, a juros baixos, pela Reichskredit AG, descontáveis no Reichsbank.
18. A Confederação Geral dos Trabalhadores
Alemães aprovou esse plano, recusado, entretanto, conforme o parecer dos
“peritos economistas” Hilferding, Naphtali e Bauer, pelo Partido Social-Democrata.
19. Schäffer, secretário de Estado do
ministério das Finanças, apoiou o plano de Lautenbach. Moção similar partiu de
Wagemann, chefe do Escritório Nacional de Estatísticas que, em janeiro de 1932,
publicou seu plano que incluía emitir 3 bilhões de reichsmarks para criar empregos.
20. Nada disso foi adiante, pois não
interessava à oligarquia angloamericana. Esta armava a subida de Hitler ao
poder, mesmo tendo os nazistas perdido 2 milhões de votos nas eleições de 6/11/1932.
21. Após essas eleições, o presidente,
marechal Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do Estado-Maior, general von
Schleicher, que propunha pôr em execução as políticas recomendadas por
Lautenbach, Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de classe patronais
e dos trabalhadores.
22. A oligarquia financeira tratou de evitar
que von Schleicher sequer as iniciasse, minando-lhe a sustentação política,
enquanto conspirava na chantagem junto ao marechal-presidente para nomear
Hitler, consumada em 30.01.1933.
23. O objetivo era a Segunda Guerra Mundial,
pois Hitler anunciara no “Mein Kampf” seu desígnio de atacar a União Soviética.
Finalidade: empregos e recuperação econômica só mediante a mobilização para a
guerra, que destruiria mutuamente Alemanha e Rússia.
IIa. Guerra Mundial |
24. Hoje, o Estado é enfraquecido como
agente de desenvolvimento econômico e social. Ele serve, nos países-sede da
oligarquia, para erguer enormes arsenais de armas destrutivas e hipertrofiar
órgãos de repressão, serviços secretos e meios tecnológicos de desinformar.
25. Nos países periféricos, como o Brasil, o Estado,
empobrecido pelo serviço da dívida e pelas privatizações, funciona para
arrecadar recursos para a dívida e subsidiar empresas transnacionais.
26. Com a política econômica dominada pela
oligarquia financeira, a concentração não cessa de crescer. No trabalho TheNetwork of Global Corporate Control, publicado em 2011, os matemáticos
suíços, Vitali, Glattfelder e Battiston, demonstraram a interligação das
corporações econômicas e financeiras por laços diretos e indiretos de
propriedade.
27. Com dados sobre 43.000 transnacionais
(ETNs), chegaram a 1.300 maiores companhias com fortes elos entre si, núcleo
refinado para um de só 737 companhias, que controlam 80% das 43.000. Mais
elaboração permitiu chegar a 147, detentoras da propriedade quase total sobre
si mesmas, mais 40% das 43.000.
28. As 147 são basicamente controladas
por somente 50, das quais 48 são financeiras. Apenas duas
envolvem-se diretamente com a economia real (Walmart e China Petrochemical
Group).
Susan George |
29. Susan George, do Transnational
Institute, Amsterdam, conclui:
Nossos
problemas originam-se do 0,1%, na verdade do 0,001%.
Mas essa
fração não retrata a dimensão infinitesimal, em relação à população da
Terra, da minoria que concentra o poder econômico, financeiro e político.
30. De fato, existe hierarquia entre os
donos das companhias mais poderosas, e, entre esses, muito poucos exercem
comando sobre bancos centrais, instituições financeiras multilaterais e
mercados financeiros.
31. George aponta as interligações entre a
finança e as corporações de petróleo e gás, e seus vínculos com a indústria
automotiva, gastadora de combustíveis fósseis.
32. O poder dos concentradores financeiros
manifesta-se, inclusive, pelo fato de o 1% do topo pagar percentual de tributos
inferior ao de qualquer época desde os anos 20, apesar da enorme elevação de
seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35 anos.
33. Mais: dezenas de trilhões de
dólares/euros das emissões dos bancos centrais e das receitas tributárias foram
usados para salvar da bancarrota instituições financeiras cujos controladores e
executivos haviam lucrado dezenas de trilhões com jogadas financeiras, em
operações alavancadas, sobre tudo com o quatrilhão de derivativos criados a
impulsos de chips, antes do colapso
de 2007/2008.
34. Pior: o dinheiro posto nos bancos é
aplicado em novas especulações, criando novas bolhas, prestes a estourar. A
conta fica para os cidadãos dos países endividados, inclusive dos EUA, e maior
para os dos menos privilegiados que não podem emitir dólares.
35. No Brasil, recordista mundial de juros
altos, só dois bancos, Itaú e Bradesco registraram R$ 28 bilhões de lucros em
2013.
[*]Adriano Benayon: Consultor em finanças e em
biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em
Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso
de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos
na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do
Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Consultor
Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de economia.
Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema
Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização
versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.
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