quarta-feira, 21 de julho de 2010

O crescimento do Brasil - Parte I



Após ter lido o artigo de Sergio Barone, docente de Relações Internacionais em Bolonha, uma coisa fica clara: o Autor gosta do Brasil e de Lula também.

Todavia não é possível (e ninguém quer...) negar a evidência: o Brasil cresceu, e cresceu muito nos últimos anos.
Um sucesso da atual classe política do País? Ou o natural desfecho após anos de "preparação"?
Estes são assuntos mais ligados à política interna do País e, como o Leitor sabe, Informação Incorrecta não toma partido.

O que Informação Incorrecta faz é dividir o seguinte artigo em duas partes, sendo bastante comprido.
E mais: lembramos que de Sergio Barone já publicámos um excelente artigo, Desaparecidos, que podem encontrar neste link.

E agora: boa leitura da primeira parte do artigo.

O Brasil qual novo ator geopolítico mundial
O Brasil no novo século, surge como uma potência em ascensão capaz de desempenhar um papel não apenas no seu próprio contexto regional, mas também fora do continente americano, como evidenciado pela recente mediação entre a Turquia e o Irão para chegar a um acordo sobre o desenvolvimento nuclear iraniano.

Na América Índio-Latina aparece como o principal motor dos processos de integração regional, como o Mercosul ou as organizações de defesa e cooperação militar, como a UNASUL, enquanto no exterior, graças à ação coordenada com outras potências em ascensão (ver BRIC, Brasil, Rússia, Índia e China) fez ouvir a sua voz nas reuniões do G20 e de outras instâncias internacionais, defende os próprios interesses primários ao investir na África e estipula acordos comerciais e diplomáticos com muitos Países no Médio Oriente.

Lula estabeleceu como diretrizes do próprio governo a guerra contra a pobreza e o analfabetismo, a reforma agrária e a eliminação do latifúndio, a estabilização da América Latina (tanto do ponto de vista político quanto econômico) e a recuperação da economia brasileira no capitalismo globalizado.



Papel no mercado global

Como economia emergente global, o Brasil tem encontrado frequentemente na própria rota as políticas aduaneiras dos Estados Unidos, que, apesar das suas proclamações neoliberais que vêem a livre concorrência e o livre mercado como panaceia para todos os males, desde sempre costumam impor taxas pesadas para proteger as próprias indústrias nacionais da concorrência global, contrariando também as regras do livre comércio promovido por instituições como o WTO, do qual são os principais promotores.

Em retaliação, o Brasil elaborou uma lista detalhada de cerca 100 produtos dos EUA que preve atingir com taxas devido à recusa de Washington de dar cumprimento à decisão da Organização Mundial do Comércio contra os subsídios norte-americanos para o setor do algodão.

A Organização Mundial do Comércio (WTO) deu o sinal verde para o Brasil preparar uma quantidade de sanções anuais no montante de 829 milhões de Dólares. Uma decisão que tende a atingir a atitude errada dos EUA nos últimos anos, período ao longo do qual, graças aos subsídios, obteve uma importante vantagem competitiva para os próprios produtores de algodão.

Lula da Silva destacou que a decisão de Brasília não é de começar uma "guerra comercial", mas que o objetivo desta medida é apenas para garantir o cumprimento das regras, exigindo ao presidente Obama de iniciar "o mais rapidamente possível" as negociações sobre esta questão. No entanto, para a Administração dos EUA não será fácil, porque os Americanos olham sempre, com as próprias forças e orçamentos, manter uma vantagem sobre os concorrentes, mesmo correndo o risco de sanções.

Mesmo durante os acordos comerciais celebrados em Junho com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, Lula destacou mais uma vez, a dupla moralidade dos Países ricos, condenando as políticas dos subsídios para a agricultura aplicados pelo Ocidente enquanto as políticas do governo brasileiro promovem o comércio internacional, com alusão aos 1,7 bilhões de Dólares investidos pelo governo Obama em subsídios agrícolas.

A "conquista" da África

O Brasil mostra a vontade de mudar o velho equilíbrio de poder que nasceu após a Segunda Guerra Mundial, pois tenta não só a reforma das Nações Unidas, mas também de instituições como o FMI e o Banco Mundial, a respeito do qual transformou-se de devedor em credor para mudar do interior as relações de poder e as regras do jogo, no sentido de dar mais voz aos Países emergentes na escolha de modelos econômicos a serem promovidos no globo.

O Brasil está começando a estabelecer progressivamente a própria presença na África, onde segue uma estratégia de penetração muito semelhante à da China, promovendo soluções que são mais horizontais e menos assistenciais nestes Países, em comparação com o padrão de empréstimo "cilada" implementado pelo Ocidente até agora. "Nós não viemos para a África para pedir desculpas do nosso passado colonial, nós queremos ser verdadeiros parceiros para a cooperação e o desenvolvimento comum. Juntos podemos fazer grandes coisas para o desenvolvimento das nossas economias e a cooperação Sul-Sul é muito importante para combater as injustiças da atual ordem mundial ", disse Lula numa recente viagem à África.

A prova de que as suas não são apenas palavras, é a oferta para estabelecer programas conjuntos com a Libéria para o desenvolvimento de bio-combustíveis (assunto no qual o Brasil tem uma experiência de mais de trinta anos), além da colaboração para combater o flagelo do AIDS, que atualmente afeta 10% dos liberianos.

Mesmo com Angola tem realizado programas de cooperação econômica, desenvolvimento de técnicas para a execução do projeto-piloto para combater as doenças causadas pela falta de cálcio, formação profissional e projetos rurais para aumentar as superfícies cultiváveis.

Os dois Países também assinaram acordos de cooperação bilateral no domínio da defesa, da educação não superior e da formação de quadros superiores, bem como investimentos mútuos, alianças entre as entidades do sector público e privado dos dois Países e o intercâmbio de conhecimentos e tecnologias, ultrapassando assim a abordagem paternalista e assimétrica de estilo ocidental.

Desdolarização do comércio internacional

Na América Latina, a tentativa é de ser cada vez menos dependentes do Dólar no comércio, para evitar ser atingidos por crises externas, como ocorreu nas décadas passadas. Além das iniciativas do projeto venezuelano ALBA, que envolve a adoção do Sucre como nova unidade de troca entre os Países membros, o Brasil tem promovido diversos acordos para superar o Dólar no comércio com os Países vizinhos.

Em Setembro de 2008, Brasil e Argentina aprovaram definitivamente o Peso argentino e o Real brasileiro como moedas para o comércio bilateral, eliminando o uso do Dólar. Ao sistema de pagamento em moeda local estão prestes a juntar-se outros Países, como México, Paraguai e Uruguai.

Em Outubro de 2009, os bancos centrais do Brasil e do Uruguai estabeleceram um acordo semelhante ao que existe entre Brasil e Argentina para eliminar o Dólar moeda para o comércio bilateral, porque tanto o Real quanto o Peso estão sobrevalorizados em relação ao Dólar, o que é tornam a moeda norte-americana não conveniente no comércio.

A segunda parte do artigo será publicada muito em breve.
Acerca de assuntos quais Mercosul, Alba e Sucre podem ler o artigo Mercosul e Alba que encontram neste link.

Ipse dixit.

Fonte:
Eurasia
Tradução, Pesquisa, Comentário, Edição: Informação Incorrecta