segunda-feira, 19 de julho de 2010

Secretos e Confusos

MI6? Mossad?
Não são nada quando comparados com as agências de intelligence dos Estados Unidos.

Tão secretas que ninguém sabe quantas pessoas trabalham nelas.
Tão secretas que ninguém sabe o que estão fazendo.
Tão secretas que nem o chefe sabe o que raio se passa nas centenas de escritórios e empresas espalhadas pelo País.

Secretas ou confusas? Este é o dilema...

No excelente artigo do Washington Post o resultado de dois anos de investigações.

Um mundo escondido, fora de controle

A intelligence espalhou-se ao ponto que ninguém sabe ao certo quanto custa o sistema, quantas pessoas trabalham ou quantos agentes são dedicados ao mesmo, e especialmente se estes forem eficazes.

O relatório divulgado na passada Segunda-feira mostra que nos Estados Unidos existem 1.271 organizações governamentais e 1.931 empresas privadas envolvidas em programas relacionados com a "luta contra o terrorismo", a segurança nacional e os serviços de intelligence em mais de 10.000 pontos no País.

A investigação, que levou dois anos para ser concluída, estima que o sector emprega 854.000 pessoas, quase 1,5 vezes a população da cidade de Washington.

Na capital nacional e os seus arredores, além disso, existem cerca de 33 edifícios dedicados ao trabalho de segurança e intelligence, classificado como secreto, e as unidades para esse efeito ocupam o equivalente a três Pentágonos ou 22 vezes os edifícios do Capitólio.

Os sistemas de vigilância e intelligence alteraram substancialmente de forma a partir dos ataques de 11 de Setembro.

O relatório afirma, por exemplo, que a Defense Intelligence Agency do Pentágono, passou de 7.500 funcionários em 2002 para os 16.500 de hoje.

O orçamento da Agência de Segurança Nacional, responsável pelas escutas, duplicou no mesmo período. E as 35 Unidades da Força de Tarefas Conjuntas para o Terrorismo do Federal Bureau of Investigation (FBI) tornaram-se 106.

O relatório, realizado durante dois anos pela jornalista ganhadora do Pulitzer Dana Priest, em colaboração com William Arkin, apresenta o sistema de intelligencecomo um caos em que muita da informação que é gerada permanece mesmo sem ser lida.

O sistema de intelligence dos EUA foi reformado e ampliado após os ataques Setembro de 2001 e agora é tão grande que, relata a pesquisa:
ninguém sabe quanto custa, quantas pessoas utilizam, quantos programas existem no seu interior ou quantas agências estão a fazer o mesmo trabalho.
Depois de nove anos de gastos e crescimento sem precedentes, o resultado é que o sistema montado para manter protegidos os EUA é tão grande que é impossível determinar a sua eficácia.

Entre os dados que foi possível apurar, o Washington Post realça a existência de 1.271 agências governamentais e 1.931 empresas privadas
que trabalham em programas relacionados com a luta contra o terrorismo, a segurança nacional e a intelligence em cerca de 10 mil lugares nos EUA.
Existem cerca de 854.000 pessoas que têm autorização especial de acesso a material secreto. [...] Em Washington e arredores desde Setembro de 2001 foram construídas ou estão em construção 33 complexos de edifícios para o trabalho secreto.
O jornal descobriu que muitas agências de segurança e de inteligência fazem o mesmo trabalho, como as 51 organizações federais e militares que operam em 15 cidades dos EUA na descoberta e no controle das operações financeiras de redes terroristas.

Acrescenta o jornal:
Os analistas que decifram, traduzem e resumem os documentos e as conversas obtidas por espias, dentro e fora do País, publicaram cerca de 50.000 relatórios deintelligence a cada ano. O volume é tão grande que muitos desses relatórios nem são lidos.
O mesmo chefe do Pentágono, Robert Gates, disse ao jornal numa entrevista que
tem havido um grande crescimento desde Setembro de 2011, é realmente difícil para qualquer um, o director nacional da intelligence, o director da Agência Central de Intelligence ou o Secretário da Defesa, poder abraça-lo.
A pesquisa indica que no Departamento de Defesa, onde residem mais de dois terços dos programas de intelligence, apenas um punhado de altos funcionários, conhecidos como os "Super Usuários" podem conhecer todas as actividades do Departamento.
Mas, como indicado pelos "Super Usuários" em entrevistas, não há simplesmente nenhuma maneira para que eles possam manter-se informados acerca das operações mais delicadas do País.
Após os ataques terroristas de 2001, o Congresso prometeu 40.000 milhões de Dólares adicionais para o orçamento da defesa nacional. A seguir foram outros 36.500 milhões de Dólares no orçamento de 2002 e 44.000 milhões de Dólares para o orçamento de 2003.

E, de acordo com o Post, foi apenas o começo porque com uma injecção rápida de dinheiro multiplicaram-se as agências militares e de intelligence.

O diário acrescenta que no final de 2001, 24 organizações foram criadas; e em 2002, mais 37; em 2003 mais 36 novas organizações; mais 26 em 2004; 31 em 2005; em 2006, outras 32, e cerca de vinte novas agências em cada um dos anos de 2007, 2008 e 2009.

Não só aumentaram os edifícios onde as tarefas secretas são realizadas, mas foi desenvolvida toda uma indústria para a criação de "salas seguras" equipadas com alarmes, sistemas de comunicação, protegidas, envoltas em metal para evitar a espionagem electrónica.

Segundo o relatório, a "comunidade" de intelligence dos EUA poderia estar a fracassar na tentativa de conectar as pontas soltas e tirar conclusões a partir de diferentes indícios oferecidos por várias agências.

O sistema enfrenta a dificuldade de muitas organizações que se sobrepõem nas tarefas e lidam com as mesmas questões.

E cita o exemplo das 51 agências ou programas dedicados a analisar o fluxo de dinheiro a partir das redes terroristas.

O complexo sistema de intelligence não conseguiu evitar, diz o jornal, as tentativas de ataques como a da famosa Times Square, em Nova York, ou a que teve lugar num voo para Detroit no Natal passado.

Neste último caso foi quem estava sentado ao lado do atacante que impediu a realização do ataque e não o sofisticado sistema de intelligence.

O secretário da Defesa, Robert Gates, disse numa entrevista na semana passada que acreditava que o sistema se tinha tornado grande demais, e que simplesmente garantir dados precisos, por vezes, pode ser difícil.

Após os ataques de 2001, um inquérito oficial (sobre as falhas da intelligence que poderia ter facilitado o trabalho dos extremistas) aconselhou a criação do Gabinete do Director Nacional de Intelligence para coordenar a rede da CIA, da FBI e uma dezenas civis e militares.

Os membros do sector dizem que tem sido difícil para as agências trabalhar em conjunto e que tornou-se uma das razões da renúncia de Dennis Blair, que foi nomeado no ano passado pelo presidente Barack Obama.




As agências de intelligence governamentais e privadas
espalhadas nos Estados Unidos

Fonte:
IAR Noticias, Washington Post
Comentário e Tradução:
Informação Incorrecta