09 de julho de 2010
por Mark Weisbrot
Publicado pelo The Huffington Post e traduzido por redecastorphoto
Imagine que Barack Obama, após assumir o cargo em janeiro de 2009, decidisse assumir sua promessa de campanha de acabar "business-as- usual" (negócios costumeiros) em Washington, que pudesse trazer uma verdadeira mudança. Imagine que ele rejeitasse os arquitetos das políticas pró- Wall Street que levaram ao colapso econômico, como Larry Summers, Tim Geithner e outros do reduto de ex-funcionários executivos da Goldman Sachs que nomeou para Departamento do Tesouro dos EUA e, ao invés, tivesse nomeado economistas como o Prêmio Nobel Paul Krugman e Joe Stiglitz para posições-chave, incluindo o presidente da Reserva Federal.
Escusado será dizer que o presidente Obama seria vilipendiado pelas grandes empresas de mídia. A hostilidade explícita de blowhards [baluartes(?)] da direita, como Glenn Beck e Rush Limbaugh seria repercutida pela mídia ponto por ponto, acusando o presidente de polarizar o país utilizando "demagogia perigosa". Com quase todo e “stablishment” da mídia institucional contra ele, Obama teria, provavelmente, que enfrentar batalha constante pela sobrevivência política - embora ele pudesse, sem dúvida, triunfar com apelos diretos à maioria da população.
A seguir, o que aconteceu e acontece com grande número de governos de centro-esquerda na América Latina.
No Equador, o presidente Rafael Correa foi reeleito por ampla margem em 2009, apesar da forte oposição da mídia do país. Na Bolívia, Evo Morales trouxe estabilidade e crescimento recorde para um país que tinha uma tradição de governos que não duravam mais de um ano - apesar dos meios de comunicação mais hostis do hemisfério e a implacável, às vezes violenta, oposição da elite tradicional da Bolívia. E o presidente Hugo Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe militar apoiado EUA e outros esforços para derrubar seu governo, vencendo três eleições presidenciais, cada vez por uma margem maior
Todos esses presidentes assumiram contra oligarquias há muito tempo entrincheiradas no poder e lutaram arduamente para cumprir suas promessas.
Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, em um país com uma maioria indígena, re- nacionalizar os hidrocarbonetos (principalmente gás natural) da indústria e do emprego através do investimento público, bem como a obtenção e aprovação de uma nova constituição mais democrática.
Correa dobrou os gastos com cuidados de saúde e cancelou US $ 3,2 bilhões em dívida externa considerada ilegítima.
Chávez reduziu pela metade a pobreza extrema em mais de 70 por cento após obter o controle sobre a indústria petrolífera do país.
Estes presidentes enfrentaram outro obstáculo que Obama não teria - lutar com o país mais poderoso do mundo - para cumprir as suas promessas. Isso também aconteceu com o presidente Nestor Kirchner na Argentina (2003-2007), que teve de lutar contra Washington, que domina o Fundo Monetário Internacional, objetivando implantar as políticas econômicas que fizeram da Argentina a economia que mais cresceu no hemisfério por seis anos.
Claro, Hugo Chávez foi o mais demonizado pela mídia EUA - mas isso não é por causa do que ele disse ou fez, mas porque ele está sentado em 500 bilhões de barris de petróleo. Washington tem um problema particular com os países produtores de petróleo que não seguem as ordens - quer se trate de uma ditadura como o Iraque de Saddam, uma teocracia como o Irã, ou uma democracia como a Venezuela.
Todos esses líderes - incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil - esperavam que o presidente Obama fosse praticar uma política mais esclarecida para a América Latina, mas isso não aconteceu.
Parece que Washington, que estava confortável com ditadores e oligarcas que comandaram o show durante décadas, ainda tem problemas com as democracias no seu antigo "quintal".
Este editorial foi distribuído pela McClatchy Tribune Information Services em 07 de julho de 2010 e pode ser lido, em inglês, em: Washington Still Has Problems With Democracy in Latin America
Enviado por Alyda