sexta-feira, 12 de julho de 2013

Egito: Quem está preenchendo o vácuo de poder?

9/7/2013, Manlio Dinucci, Il Manifesto - L'ARTE DELLA GUERRA
 Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Manlio Dinucci
A palavra começa com “g” de golpe [it. colpo, (NTs)] mas não pode ser dita em voz alta: eis como a posição da Casa Branca sobre o golpe de estado no Egito é descrita nos corredores de Washington. Condena a violência genérica, manifestando preocupação com o “vácuo de poder” e surpresa ante os eventos.

Mas funcionários do Pentágono nos asseguram que o secretário de Defesa, Chuck Hagel sempre esteve em “contato próximo” com o general egípcio Abdel-Fattah al-Sisi. É homem de confiança do Pentágono, o qual aperfeiçoou seus talentos na Academia de Guerra dos EUA em Carlisle (Academia Militar na Pennsylvania), ex-comandante da inteligência militar, principal interlocutor de Israel, indicado pelo presidente Mursi há menos de um ano, para o posto de comandante militar e ministro da Defesa.

Há cinco meses, dia 11 de fevereiro, Sisi foi convocado pelo general James Mattis, comandante do Comando Central dos EUA, cuja área inclui o Egito, porque tem “influência estabilizadora no Oriente Médio”, sobretudo no confronto em Gaza. Na agenda do encontro, (com a embaixadora dos EUA no Cairo, Anne Patterson, presente), “a cooperação militar EUA-Egito”, no contexto da “instabilidade política” no Cairo.

F-16 da Força Aérea Egípcia
Ao mesmo tempo, Washington havia anunciado o fornecimento de 20 jatos de combate F-16 e 200 tanques M1A1 pesados (produzidos sob licença no Egito). Graças à ajuda militar de $ 1,5 bilhão que os EUA garantem anualmente desde 1979 (inferior só à que Israel recebe), as forças armadas do Egito possuem a quarta maior frota do mundo de jatos de combate F-16 (240) e a sétima, de tanques (4.000). Os que estão usando essas e outras armas (inclusive o armamento antitumultos fabricado nos EUA) são treinados pelo Pentágono, que a cada dois anos envia 25 mil soldados ao Egito para exercício militar, “Bright Star” [Estrela Brilhante].

Tanque M1A1 produzidos no Egito
Assim os EUA criaram sua principal alavanca de influência no Egito: uma casta militar cujos altos escalões também têm poder econômico. Esses mantiveram o regime de Mubarak durante 30 anos a serviço dos EUA, e também garantiram a “transição ordeira e pacífica” que Obama desejava, quando um levante popular derrubou Mubarak; os mesmos que também ajudaram na ascensão de Mohammed Mursi à presidência, membro da Fraternidade Muçulmana, como meio para neutralizar as forças seculares que estavam na posição de protagonistas do levante. Os mesmos que, depois, depuseram Mohamed Mursi, quando seu governo provocou o levante da oposição secular e dos jovens rebeldes do Movimento Tamarod.

Movimento Tamarod reunido na Praça Tahrir em 3/7/2013
A outra alavanca da influência dos EUA no Egito é econômica. Desde que Mubarak pôs em efeito as medidas de privatização e de desregulação que Washington queria e abriu as portas às empresas norte-americanas transnacionais, o Egito, embora grande exportador de óleo e gás natural e produtos acabados, acumulou uma dívida externa de mais de US$ 35 bilhões. E, para pagar os juros de 1 bilhão de dólares anuais, o Egito depende de “empréstimos” que lhe vêm dos EUA, do FMI e das monarquias do Golfo.

Essa dívida é uma corda no pescoço da maioria dos 85 milhões de egípcios, cerca de metade dos quais vive em situação de miséria. Daí o impulso profundo da rebelião e a luta por democracia política e econômica. O establishment militar até aqui está conseguindo conter essa rebelião, apresentando-se, de tempos em tempos, como “garantidores” do desejo popular. Assim se posicionam como controladores de fato do poder que serve aos interesses de EUA e do ocidente em geral.


O levante egípcio só será verdadeira revolução quando as forças populares – todas, seculares e religiosas – conseguirem romper esse vínculo neocolonial e abrir o Egito a um futuro de independência e de progresso social.

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