quarta-feira, 24 de julho de 2013

Violência facilitada no Rio de Janeiro

 

Publicado em 23/07/2013 por [*] Mário Augusto Jakobskind

Mais uma vez o Rio de Janeiro foi palco de violência provocada pela PM e por infiltrados em manifestações populares que não têm nada a ver com os jovens manifestantes propriamente ditos. Desta vez o cenário foi o bairro do Leblon, nas imediações do prédio onde mora o Governador Sérgio Cabral.

Como tem acontecido rotineiramente nos recentes protestos, as televisões cobriram dando ênfase aos atos de violência protagonizados pelos mesmos infiltrados de sempre.

A Rede Globo, presente com seus helicópteros, conseguiu uma exclusiva terrestre de encapuzados quebrando bancos e saqueando lojas na maior desenvoltura. Para completar o cenário, barricadas de fogo eram feitas complementando o cenário de horror. Estranhamente, dando margem a especulações das mais diversas, a Polícia Militar, que de um modo geral só reprime jovens verdadeiramente manifestantes, nada fez para evitar a baderna. Se quisessem, até os P2, os agentes da inteligência da PM, sempre presentes nas manifestações em trajes civis, poderiam evitar o que aconteceu e teve uma repercussão muito grande.

Os meios de comunicação de mercado, no Rio de Janeiro leia-se Organizações Globo, fizeram a festa em matéria de manipulação da informação. No dia seguinte, o Comandante da PM, Coronel Enir Ribeiro da Costa Filho, sem a menor cerimônia informou que estava suspenso um suposto pacto formalizado com a OAB-RJ e Anistia Internacional para evitar a repetição da violência indiscriminada da corporação nas manifestações. O militar na prática avisava que a partir de agora a PM agiria a sua maneira, ou seja, com o uso de armas não letais etc. e tal.

Os fatos ocorridos e a postura das autoridades levantam suspeitas segundo as quais os atos criminosos no bairro do Leblon teriam sido permitidos exatamente para mostrar à opinião pública como é importante a repressão policial e também silenciar os críticos sobre a truculência da corporação, que obedece apenas a voz de comando.

Nesse sentido, são absolutamente hipócritas as afirmações das autoridades de que alguns soldados serão punidos por excessos. O comando, leia-se sempre Governador Sérgio Cabral, Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame e o comandante da PM, Coronel Enir Ribeiro da Costa Filho ficam isentos de qualquer responsabilidade.

Esse fato remete ao que analisou a pensadora (ela preferia ser assim denominada do que filosofa) Hannah Arendt quando cobriu o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, para um jornal dos EUA, no início dos anos 60. Segundo ela, burocratas do gênero do referido criminoso, pessoas comuns e aplicadas não pensam, apenas obedecem ordens de comando.

O mesmo raciocínio se aplica aos integrantes da PM carioca, ou seja, fizeram o que fizeram, ou deixaram de fazer, nas ruas do Rio de Janeiro simplesmente porque obedeciam a voz de comando.

Esta é uma realidade que não se deve fugir, por mais que as autoridades digam o contrário e até ordenem a criação de comissão para investigar os acontecimentos e se chegar aos infiltrados. Não seria necessária a tal comissão, se os agentes P2 que participam das manifestações a sua maneira, fizessem algo muito fácil: localizar os infiltrados.

E cá entre nós, toda vez que as autoridades querem passar por cima de contestações e questionamentos, nada melhor do que criar uma comissão, cujos resultados geralmente são nulos. E por que Sérgio Cabral, ainda mais Sérgio Cabral, faria diferente?

O Brasil, sem dúvida, atravessa um momento delicado, com fatos que merecem uma melhor análise, inclusive a origem dos próprios infiltrados, que na prática criam um clima de instabilidade. A oposição de direita notoriamente se assanha e vê a oportunidade de práticas mais ostensivas e duras.

Por estas e muitas outras, todo cuidado é pouco, porque em fatos históricos passados, esses mesmos setores foram responsáveis por retrocessos políticos que infelicitaram o país e nunca abandonaram a ideia de repetir, mesmo como farsa, o que fizeram em outras oportunidades.

Falta de comunicação – O sistema de comunicação do governo Dilma Rousseff é nulo. Por que a Secretaria de Comunicação não informa que estão sendo construídos 818 hospitais em todo o país? É importante esta informação sobretudo neste momento em que multidões estão nas ruas protestando, entre outras coisas contra a deterioração das condições de atendimento nos hospitais públicos.

Quanto aos médicos estrangeiros, vale uma observação: em anos passados estiveram no Estado de Tocantins vários médicos cubanos, que conseguiram reduzir o índice de mortalidade na região. Os médicos provavelmente não tinham equipamentos mais sofisticados para o atendimento. Usavam os estetoscópios e assim sucessivamente.

Por que não perguntar aos brasileiros que residem no interior ou nas periferias das grandes cidades se querem médicos estrangeiros no atendimento? 

Em tempo - Dois comunicadores da TV Ninja, um espaço alternativo que transmite ao vivo as manifestações de protesto no Rio de Janeiro foram presos no dia da chegada do Papa Francisco. A PM de Sérgio Cabral levou para a delegacia do Catete os comunicadores que informavam pela web a cerca de 10 internautas.

Foi, sem dúvida, uma afronta à liberdade de imprensa. Onde andará a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para condenar mais este ato de violência do Governo do Estado do Rio de Janeiro?
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[*] Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.


Enviado por Direto da Redação

2 comentários:

  1. Acho q a violencia é iniciada pelos vandalos e nao pelos pms ou manifestantes... tem uma galera ali q apenas quer o caos

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    1. Se foi como vc diz cabe a PM isolar os vândalos (infiltrados)... E PROTEGER os manifestantes. Foi isso que o Mário quis dizer. Mas NÃO foi isso que ocorreu. PMs mal pagos (além da PM ser uma excrescência) e MAL treinados fizeram o que fizeram. TUDO ERRADO. Aliás, a Mídia Ninja mostrou exatamente isso.
      Procure o vídeo no YouTube...

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